quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Grávidas espanholas torcem para dar à luz antes do fim do ano


Grávidas espanholas torcem para dar à luz antes do fim do ano
Para conter o déficit, o governo espanhol cortou o auxílio-maternidade de 5.551 reais
Para conter o déficit, o governo espanhol cortou o auxílio-maternidade de 5.551 reais
RFI
As espanholas que estão no fim da gravidez estão torcendo para dar à luz no dia 1º de janeiro de 2011. O motivo é que a partir da meia-noite do ano novo as famílias dos recém-nascidos deixarão de receber o chamado “cheque-bebê”, um auxílio de 2.500 euros, cerca de 5551 reais, que o governo espanhol vinha dando desde 2007 numa tentativa de aumentar a taxa de natalidade.
Fina Iñiguez, correspondente da RFI em Madri
O governo de Zapatero anunciou o corte do "cheque-bebê" em maio deste ano, para diminuir o déficit público do país. Também está prevista a redução de 5% cento nos salários dos funcionários públicos, o aumento da idade da aposentadoria dos 65 anos atuais aos 67 anos e a suspensão da ajuda de 426 euros para quem está sem trabalho e não recebe o seguro-desemprego.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística da Espanha (INE), o parto de cerca de 44 mil mulheres está previsto para os dias 25 de dezembro e 6 de janeiro. As grávidas mais impacientes são as que estão entre a 37ª e a 41ª semana de gestação, período considerado normal para o nascimento de uma criança. O site espanhol Serpadres publicou uma pesquisa mostrando que o 35% das 77 mulheres entrevistadas reconheceram ter consultado o ginecologista sobre a possibilidade de adiantar o parto e "estavam pensando no assunto".
Somente 5% das entrevistadas rejeitaram categoricamente a possibilidade, preferindo seguir à risca a recomendaçao médica. Fontes do serviço de obstetrícia e ginecologia do Hospital Quirón de Málaga, na Andaluzia, por exemplo, afirmam que muitas mulheres têm questionado sobre como adiantar o parto para poder beneficiar do auxílio. As mesmas fontes, entretanto, se negam a programar cesarianas que não estejam previamente marcadas, nem adiantar partos sem aconselhamento médico.
O maior hospital público de Barcelona, o Vall d’Hebrón, também afirma que o código de ética da profissão impede que critérios médicos sejam modificados por interesses pessoais dos pacientes. Outra questão é saber se, a cesariana for a única solução, o parto pode ser programado com antecedência e mudado para antes do dia 1º de janeiro, como reconhece uma ginecologista entrevistada pela RFI. Ela contou que uma cesariana marcada para o 3 de janeiro foi antecipada para antes do dia 31 de dezembro, atendendo ao pedido de uma paciente, já que, do ponto de vista clínico, não haveria nenhuma diferença.
Em tempos de globalização e internet, não faltam dicas nas redes sociais sobre “como adiantar o parto”: caminhar, dirigir, ter relações sexuais na última semana da gravidez e até mesmo tomar chocolate quente.
As regiões de Andaluzia, Madri e Catalunha são as que mais se beneficiaram do cheque-bebê, e onde há um maior número de nascimentos e adoções no país.
Em Salamanca, o benefício é local
Na zona oeste da província de Salamanca, próxima a Portugal, algumas prefeituras continuam dando cheques-bebês de até 3 mil euros por nascimento, numa tentativa de estimular a natalidade. É o caso de Aldeadávila de la Ribera, uma das cidades mais despovoadas da Europa. O prefeito, Santiago Hernández, 46 anos, do mesmo partido socialista (PSOE) que o governo espanhol, confirmou à Radio França Internacional, que nao tem a menor intenção de acabar com o auxílio: “numa cidade com apenas 1.400 habitantes, a maioria idosa, o cheque-bebê é fundamental”, diz o prefeito.
Ele afirma que, embora não possa garantir que essa ajuda estimule a natalidade, a verdade é que o número de nascimentos vem aumentando desde 2006: ano em que não houve nenhum registro de nascimento em Aldeadávila e entrou em vigor o cheque-bebê. Desde então, nasceram cerca de 15 crianças. “Ninguém vai formar família devido a este subsídio, mas uma ajuda nunca vai mal ", conclui o prefeito.

RFI

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