sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Moscou joga duro 'em defesa de interesses'

Frota despachada para as proximidades da Síria, sede da única base russa fora do país, é o que os herdeiros do império soviético têm de melhor hoje


Roberto Godoy - O Estado de S.Paulo
A Rússia joga bruto e não deixa espaço para dúvidas. Está levando para o Mediterrâneo o enorme cruzador Moskva, de 11.490 toneladas, mais um destróier e dois navios de transporte de tropas de assalto. A missão do cruzador, segundo comunicado do governo, "é garantir interesses russos na região".
Os outros três estão formalmente substituindo uma fragata e três embarcações de desembarque que guarneciam, em Tartus, uma base aeronaval mantida pela Rússia na Síria. Segundo analistas europeus, essa instalação está semidesativada. Apenas três, de cinco atracadouros originais podem ser utilizados e as estações eletrônicas foram desmontadas em 2007. A área é grande. A linha de acostamento mede 5 quilômetros, mas, atualmente, recebe só 150 militares.
O cruzador dispõe de um centro de combate que pode fornecer informações precisas sobre a chegada em voo de mísseis de cruzeiro - ou interferir eletronicamente nos seus dispositivos de navegação.
Não é o único movimento militar na área. O governo britânico despachou meia dúzia de caças Typhoon, o avançado e caro Eurofighter, para a base de Chipre. Recheado com avançada eletrônica, o supersônico pode carregar carga de 16,5 toneladas de mísseis, bombas guiadas e torpedos médios.
Os EUA já posicionaram ao menos cinco navios, entre eles um porta aviões nuclear com 40 jatos de ataque. A França, relativamente próxima, ainda não efetuou deslocamentos de recursos. Pode fazer isso com os supersônicos Rafale e grandes jatos de inteligência em oito horas, talvez seis, em alerta máximo.
O novo componente na equação da intervenção militar é a reação russa. A mobilização do cruzador Moskva é um indicador significativo. O navio estava cumprindo um circuito de ensaios conjuntos com forças navais da Venezuela e de Cuba. Foi despachado para o Mediterrâneo e, no caminho, encontrará um destróier da classe Sovremenni de 6,2 mil toneladas especializado na guerra antissubmarino. A força-tarefa terá, ainda, dois Filchencov, que transportam 300 soldados e mais 40 veículos blindados armados.
O grande Moscou foi modernizado entre 2002 e 2005. É um dos líderes da Frota do Mar Negro, um poderoso legado da extinta União Soviética. Mede 186 metros - pouco menos que dois campos de futebol - e é tripulado por 480 homens.
O armamento principal é o míssil antinavio SS.N.12 com alcance na faixa de 500 km. A bordo, há três outros tipos, e um pouco conhecido sistema de defesa antiaérea que seria eficiente no limite de 200 a 300 km.

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,moscou-joga-duro-em-defesa-de-interesses--,1069386,0.htm

domingo, 25 de agosto de 2013

Grupos dos Onze

O grupo dos onze consistia na organização de "grupos de onze companheiros" (como em um time de futebol) ou "comandos nacionalistas" liderados por Leonel Brizola, em fins de novembro de 1963.

Em outubro de 1963, Leonel de Moura Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, considerava que o Brasil estava vivendo momentos decisivos e que, rapidamente, se aproximava o desfecho que poderia colocar o país numa nova linha política.

Sucessivamente, em 19 e 25 de outubro, Brizola fez inflamados pronunciamentos à nação, através dos microfones de uma cadeia de estações de rádio liderada pela Mairink Veiga, que detinha, na época, o maior percentual de ouvintes das classes média e baixa. Nesses pronunciamentos, conclamou o povo a organizar-se em grupos que, unidos, iriam formar o "Exército Popular de Libertação" (EPL). Comparou esses grupos com equipes de futebol e os 11 "jogadores" seriam os "tijolos" para "construir o nosso edifício". Estavam lançados os "Grupos dos Onze" (G-11) que, para Brizola, constituir-se-iam nos núcleos de seu futuro exército, o EPL.

Os G-11 seriam a "vanguarda avançada do Movimento Revolucionário", a exemplo da "Guarda Vermelha da Revolução Socialista de 1917 na União Soviética". Os integrantes dos G-11 deveriam considerar-se em "Revolução Permanente e Ostensiva" e seus ensinamentos deveriam ser colhidos nas "Revoluções Populares", nas "Frentes de Libertação Nacional" e no "folheto cubano" sobre a técnica de guerrilha.
No início de 1964, Brizola lançou seu próprio semanário, "O Panfleto", que veio se integrar à campanha agitativa já desenvolvida pela cadeia da Rádio Mairink Veiga. Em outras ocasiões, distribuiu diversos outros documentos para a organização dos G-11, tais como as "Precauções", os "Deveres dos Membros", os "Deveres dos Dirigentes", um "Código de Segurança" e fichas de inscrição para seus integrantes. Chegou a organizar 5.304 grupos, num total de 58.344 pessoas, distribuídas, particularmente, pelos Estados do Rio Grande do Sul, Guanabara, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo.

Para Brizola, a revolução estava madura, pronta para ser desencadeada. Só faltava algum simples episódio que inflamasse o povo e que fizesse proliferar os Grupos dos Onze, provocando o surgimento do "Exército Popular de Libertação".

A citação do Gr-11, possivelmente nos arquivos da ditadura, foi tornado público através do site da jornalista Mariza Tavares, abaixo transcrita:
No fim de 1963, em meio à crescente radicalização do ambiente político do governo de João Goulart, Leonel Brizola era a liderança que unificara as esquerdas na Frente de Mobilização Popular. Entrincheirado na Rádio Mayrink Veiga, onde discursava todas as noites, ele pregava a criação dos Grupos de Onze Companheiros, compostos por cidadãos que marchariam unidos quando a esquerda tomasse o poder. A CBN teve acesso a documentos daquela época – que estavam em poder dos militares – que detalham como Brizola idealizou os Grupos de Onze: uma militância que pretendia utilizar mulheres e crianças como escudos civis; realizar ataques a centrais telefônicas, de rádio e TV; e previa a execução de prisioneiros.
"Este é o documento a que me referi. O Exército não sabe que este dossiê ainda existe, porque foi dada uma ordem para que fosse destruído." Este era o texto do curto bilhete que acompanhava o pacote que recebi pelo correio, enviado por uma ouvinte fiel da CBN. Dentro, um calhamaço de 64 páginas já amareladas, no qual chamava atenção o carimbo no alto, em letras garrafais: SECRETO. A ditadura militar brasileira incinerou regularmente documentos sigilosos. Este dossiê estava em poder de um militar que preferiu desobedecer à ordem e decidiu guardar os papéis em casa.
Datado de 30 de setembro de 1964 e assinado pelo general-de-brigada Itiberê Gouvêa do Amaral, o documento ostenta a classificação A-1, que até hoje é utilizada pela área militar e que significa que é de total confiança. A classificação varia de A a F para a confiabilidade da fonte; e de 1 a 6 para a confiabilidade do conteúdo.

No tom formal e meticuloso típico dos relatórios dos serviços de inteligência, o texto de abertura, a circular de número 79-E2/64, anunciava que havia sido identificada a criação de diversas células dos chamados "Grupo de onze companheiros" no interior do Paraná e de Santa Catarina.
"Os grupos constituíam a célula de um grande contingente, no qual seriam arregimentados homens das mais variadas categorias e profissões para servirem de instrumento a um pseudolíder, Leonel Brizola, em sua política de subversão do regime e implantação de um Governo de tendências antidemocráticas", explicava o documento.

Os militares já haviam deposto o presidente João Goulart e tomado o poder naquele ano; e a circular festejava a ação ao afirmar, categoricamente, que, "com o advento da revolução de 31 de março, foi cortado o processo ainda na fase inicial". No entanto, o documento assinalava: "Há indícios de que, no futuro, possa ser novamente equacionada a reestruturação dos grupos." Leonel Brizola já se encontrava no exílio no Uruguai desde maio daquele ano, mas a circular assinalava que havia informes de contatos entre "antigos elementos" que integravam esses grupos. Daí a necessidade de mobilização de oficiais para mapear qualquer atividade suspeita.

Jorge Ferreira: "Houve quem se inscrevesse apenas porque gostava de Brizola. Teve gente que pôs até o nome de filhos pequenos nas fichas de inscrição."

Os chamados Grupos de Onze Companheiros – simplificadamente, Grupos de Onze ou Gr-11 – e também conhecidos como Comandos Nacionalistas foram concebidos por Brizola no fim de 1963. Tomando por base a formação de um time de futebol, imagem de fácil assimilação e apelo popular, Brizola pregava a organização de pequenas células – cada uma composta de onze cidadãos, em todo o território nacional – que poderiam ser mobilizadas sob seu comando.

Jorge Ferreira, professor-titular de História da UFF (Universidade Federal Fluminense), doutor em História Social pela USP (Universidade de São Paulo) e autor do livro "O imaginário trabalhista", explica que um dos poucos documentos disponíveis sobre o Grupo de Onze é o modelo de ata de adesão. "Há poucos estudos sobre este movimento e praticamente não há documentação a respeito. As atas, com os dados dos participantes, eram enviadas para a Rádio Mayrink Veiga e depois ficaram em poder da repressão.
Como os Grupos de Onze foram criados no fim de 1963, o clima de radicalização já se generalizara. A imprensa também supervalorizava sua capacidade de ação, mas a verdade é que houve quem se inscrevesse apenas porque gostava de Brizola e nunca teve participação efetiva. No Sul, muitos achavam que iam ganhar terra, sementes. Teve gente que pôs até o nome de filhos pequenos nas fichas de inscrição."
O dossiê a que a CBN teve acesso disseca o manual de ação desses militantes e foi criado quando Brizola, eleito deputado federal pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) com 300 mil votos – até então, o mais votado da antiga Guanabara – ocupou quase que diariamente o microfone da Rádio Mayrink Veiga entre 1962 e 1963. A tradicional emissora do antigo Distrito Federal, existente desde 1926, funcionava como palanque para Brizola, que ali destilava inflamados discursos pela aprovação das reformas de base – pilar do governo João Goulart e que compreendiam da reforma fiscal à agrária, com a desapropriação de terras de grandes proprietários rurais. E garantia que elas seriam aprovadas, "na lei ou na marra".

A Mayrink Veiga estava tão identificada com o projeto político brizolista que uma cópia do documento assinado pelos integrantes de cada recém-criado Gr-11 deveria ser enviada para a emissora. A militância da Mayrink Veiga provocou uma reação dos empresários de comunicação Roberto Marinho (Rádio Globo), Manoel Francisco Nascimento Brito (Rádio Jornal do Brasil) e João Calmon (Rádio Tupi): a criação da Rede da Democracia, uma cadeia radiofônica para combater a política do presidente Jango. Também selou sua sorte: a emissora foi fechada pelo presidente militar Castelo Branco um ano depois da queda de João Goulart.

O documento é composto de anexos que detalham o modus operandi dos Grupos de Onze. O primeiro deles tem cinco páginas dedicadas aos "companheiros nacionalistas", numa espécie de cartilha para a promoção e organização de um comando nacionalista. Na abertura, uma afirmação categórica de vitória: "A ideia de organização do povo em Comandos Nacionalistas (CN) ou em Grupos de Onze (Gr-11) está amplamente vitoriosa. Milhões e milhões de patriotas integram os Comandos Nacionalistas formados em todo o território pátrio: a palavra de ordem, organizados venceremos, penetrou na consciência de todos os nacionalistas brasileiros."

Para organizar um Gr-11, a primeira providência era a leitura e o estudo das instruções, "quantas vezes forem necessárias até uma segura compreensão dos fins e objetivos da organização." A etapa seguinte era "procurar os companheiros com os quais têm convivência e ligações de confiança". Vizinhos ou colegas de trabalho eram os mais indicados, e sempre em grupos reduzidos, de três ou quatro pessoas. Diante de receptividade para a ideia de organizar um Gr-11, "tal decisão significará um verdadeiro pacto de solidariedade e confiança entre os companheiros."

O objetivo era reunir 11 pessoas, mas as instruções reconhecem que arregimentar este contingente poderia ser um pouco difícil e estabelece que, com sete integrantes, a célula de militantes poderia começar a atuar. Ao alcançar este quorum mínimo, o grupo é fundado oficialmente e, depois da leitura do manual e do "exame da situação política e da crise econômica e social que estamos atravessando", é escolhido o dirigente do Gr-11; seu assistente – e eventual substituto – e o secretário-tesoureiro. "Tomadas estas decisões", prosseguem as instruções, "proceder à leitura solene, com todos os onze companheiros de pé, do texto da ata e da carta-testamento do presidente Getúlio Vargas." Os integrantes devem assinar seus nomes logo abaixo da assinatura de Vargas e do seguinte texto: "O presidente Vargas sacrificou sua vida por nós. Nosso sacrifício não conhecerá limites para que o nosso povo, de que ele foi escravo, conquiste definitivamente sua libertação econômica e social." Entenda-se que a "libertação" passava por reforma agrária e fim da espoliação internacional.

A primeira reunião formal do grupo tinha objetivo bem burocrático: montar a estrutura do Gr-11. As funções estão bem detalhadas e cada integrante tem um papel específico (esta é a transcrição da descrição das tarefas):
Líder, dirigente ou comandante: representa, orienta e coordena as atividades do grupo, de acordo com as instruções partidárias e os objetivos da organização. Está previsto que seu mandato será a duração de um ano;

Assistente: prestar colaboração direta ao dirigente ou comandante do grupo, substituindo-o em seus impedimentos;

Secretário-tesoureiro: responsável pela gestão dos recursos financeiros e guarda de papéis e documentos (líder, assistente e secretário-tesoureiro formam a comissão executiva do Gr-11);
Comunicações: dois integrantes ficam encarregados das comunicações, que englobam a troca de informações entre os elementos do Gr-11, inclusive no caso de ser preciso avisar aos companheiros sobre a necessidade de esconderijo ou fuga;
Rádio-escuta: acompanhamento pelo rádio dos acontecimentos nacionais e locais;
Transporte: coordenação das possibilidades de transportes para os membros do grupo no caso de atos e concentrações públicas;
Propaganda: responsável por faixas, boletins, pichamentos, notícias para a imprensa;
Mobilização popular: contatos e ligações com o ambiente local, visando a formar um círculo de relações e colaboração em torno do grupo, principalmente para garantir o comparecimento em comícios ou outros atos públicos;
Informações: atribuição de fazer contatos e o levantamento de informações sobre a situação política e social, além de outros problemas que interessem o grupo. Também fica responsável pela organização partidária local;
Assistência médico-social: o companheiro deve ser, se possível, médico, enfermeiro ou assistente social, "ou no mínimo com alguma noção ou treinamento para prestar assistência ou orientação a todas as pessoas necessitadas no ambiente onde atuar o Comando Nacionalista (por exemplo, aplicar injeção, conseguir medicamentos, curativos de emergência)".

A proposta era criar sucessivos grupos de 11 integrantes até atingir 11 células com estas características, quando, como relata o documento, "seus onze líderes formarão um Gr-11-2, isto é, um grupo de onze de 2º. nível, reunindo um total de 121 companheiros."

Esta seria a matriz de multiplicação dos comandos nacionalistas: os 11 líderes escolheriam, entre si, um comandante de segundo nível, cuja responsabilidade seria a coordenação dos onze grupos; e os outros dez companheiros deste Gr-11-2 dariam apoio ao novo chefe. Mas nada de parar por aí, porque cada nova célula deveria perseguir sua clonagem ao infinito: "se num município, numa cidade, área ou bairro, se organizarem onze grupos de onze, portanto um Gr-11-2 e depois onze grupos de 2º. nível, teremos um total de 1.331 companheiros na organização, os quais serão orientados e dirigidos por um Gr-11-3, ou seja, um grupo de onze de 3º. nível, integrado pelos onze líderes dos grupos de 2º. nível."
As "recomendações gerais" sugerem que os Gr-11 deveriam ser integrados inicialmente por companheiros de "maior capacidade de direção e liderança". Os demais grupos seriam compostos por militantes de capacidade "aproximada ou igual". O documento frisa que o movimento recebe, de braços abertos, gente de todas as procedências: "No mesmo Gr-11 poderão estar um trabalhador da mais modesta atividade, ao lado de um médico; um trabalhador ou técnico especializado, um estudante, um agricultor, um intelectual, um motorista, ao lado de um camponês, um militar."

O contato com a liderança nacional era de responsabilidade de um delegado de ligação (DL); enquanto não chegavam novas instruções, cabia ao Gr-11 realizar reuniões para estreitar os laços entre seus militantes e analisar a conjuntura, além de buscar adesões em sua área de atuação. "Os companheiros devem estimular, particularmente, a formação de Gr-11 entre a mocidade e estudantes. É da maior significação esse ponto das presentes instruções. A nossa causa depende fundamentalmente do apoio e da integração dos jovens e das classes trabalhadoras."

Embora não fizesse restrições a analfabetos, a arquitetura dos Gr-11 praticamente ignorava uma militância integral das mulheres: "As companheiras integrantes do Movimento Feminino ou simpatizantes devem formar seus próprios Gr-11. Oportunamente serão enviadas instruções especiais sobre a estrutura desses grupos de companheiras."

O chamado Anexo C é composto de documentos de Leonel Brizola com o sugestivo título de "Subsídios para a Organização dos Comandos de Libertação Nacional". Tem oito seções, todas subdivididas num minucioso roteiro para a militância. E começa pelo nome a ser dado ao grupo. No capítulo "Denominação", há cinco sugestões, por ordem preferencial: Comandos de Libertação Nacional (Colina); Comando Revolucionário de Libertação Nacional (Corlin); Comando Revolucionário dos Onze (Cron); Comando de Libertação Brasileira (Colb); e Comando dos Onze Revolucionários (Core).

O capítulo seguinte é o da "Justificativa": "A palavra revolucionária, como é sabido, exerce poderosa atração nas pessoas entre 17 e 25 anos – fator que servirá à etapa de arregimentação". O documento aposta na força de atração do termo: "A sigla onde aparece a ideia de revolução pode, com maiores possibilidades, ser difundida com certo mistério e mística de clandestinidade, complementada por instruções secretas, senhas, códigos, símbolos etc...", diz o texto que exibe rudimentos de técnica de marketing e motivação.
Vitor Borges: "Os militares queriam saber como pretendíamos envenenar o reservatório de água e perguntavam onde estavam os sacos de veneno."

O gaúcho Vitor Borges de Melo, natural de Alegrete, cidade que fica a cerca de 500 quilômetros de Porto Alegre, é um bom exemplo de arregimentação de jovens que queriam um pouco de ação. "Eu e meus companheiros éramos simpatizantes de Brizola desde a Cadeia da Legalidade, em 1961. Eu já tinha me apresentado como voluntário nesta época. Depois passei a acompanhar os discursos na Rádio Mayrink Veiga e decidi entrar para o Grupo de Onze. Todos usavam nomes de guerra e o meu era Tavares." Aos 63 anos, embora seja citado como ex-integrante do Gr-11, Vitor na verdade só se lembra de ter participado de uma reunião. Mesmo assim ficou preso, incomunicável, por 31 dias. "Os militares queriam saber como pretendíamos envenenar o reservatório de água de Alegrete e perguntavam onde estavam os sacos de veneno. Não sei de onde tiraram isso, como é que faríamos uma coisa dessas?", lembra Vitor, hoje aposentado, filiado ao PTB e beneficiado, pela Lei da Anistia, com uma indenização de R$ 12 mil. Provavelmente, por só ter ido a uma reunião, Vitor não foi "iniciado" em todas as propostas de ação do movimento.

No dossiê, a delimitação de áreas de ação é meticulosa e pretende cobrir todo o território nacional. Do contingente inicial de 11 membros, a proposta é multiplicá-los de forma que um distrito tenha 11 unidades de 11 membros, contabilizando 121 almas. A província terá 22 distritos, ou 2.662 membros; e a região será composta por 11 ou mais províncias, com 29.282 membros. O documento divide o país em sete regiões, mas exclui a Região Norte, provavelmente por problemas de logística:
1ª. Região: Guanabara, Rio de Janeiro e Espírito Santo;
2ª. Região: Bahia e Sergipe;
3ª. Região: Minas Gerais;
4ª. Região: São Paulo e Paraná;
5ª. Região: Santa Catarina e Rio Grande do Sul;
6ª. Região: Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte;
7ª. Região: Ceará, Piauí, Maranhão e Fernando de Noronha.
A estrutura administrativa nacional também previa um organograma que contava com um comandante supremo (CS); dois inspetores regionais (IN); e oito conselheiros regionais (CR), uma elite de burocratas encarregados de escolher, nomear ou destituir as camadas inferiores de militantes. Mas, abaixo deles, também havia espaço para muita gente se acomodar.
O desenho da burocracia interna do poder é rico em categorias e deixaria qualquer analista de RH impressionado com o número de cargos. Sob a estrutura nacional, há estruturas administrativas regionais, provinciais e distritais, com direito a chefias, secretarias-executivas, assessorias e monitorias. Ao todo, são listados 32 cargos de alguma relevância – uma longa carreira que se descortinava para os aspirantes à militância.
Especialmente suculento é o capítulo sobre instruções gerais aos companheiros que quisessem organizar um Gr-11. Uma das principais preocupações diz respeito à seleção de indivíduos: "Procure conhecer bem as ideias políticas de cada uma das pessoas que você pretende convidar", ensina a cartilha, batendo na tecla da prudência: "Convide a pessoa para uma conversa reservada. Peça sigilo sobre o assunto. Procure certificar-se de que ela manteve sigilo. Mande alguém, seu conhecido, testá-la nesse pormenor."
A paranóia pela segurança se estende aos deveres dos dirigentes. Entre os dez itens listados, cinco dizem respeito ao controle da informação e dos membros do grupo: "manter severa vigilância em sua jurisdição para evitar infiltrações de inimigos entre os seus comandados"; "alternar, sempre, os locais de reuniões de seu grupo, fazendo as convocações sempre em código ou através de senhas"; "manter sob rigoroso controle os arquivos secretos e os dados sigilosos sobre a organização e seus membros"; "não discutir assuntos referentes aos planos dos Comandos de Libertação Nacional exceto com as pessoas autorizadas"; "procurar organizar em sua jurisdição um esquema de rápida mobilização popular para enfrentar golpistas, reacionários e grupos antipovo."
O código de segurança detalha os cuidados a serem adotados e a ordem é clara: desconfiar o tempo todo. Por isso o telefone fica banido na transmissão de mensagens. O militante também deve anotar tudo o que ouvir sobre a organização, especialmente quando partir de um "reacionário": "até as piadas têm sua importância. Não as despreze."
Os comandantes são instruídos a buscar subordinados para os Grupos de Onze que sejam "os autênticos e verdadeiros revolucionários, os destemerosos da própria morte."
Os comandantes regionais, devido à sua importância na estrutura do movimento, recebem instruções secretas que só devem ser compartilhadas com os companheiros do Grupo de Onze "com as devidas cautelas e ressalvas". O filé mignon da pregação revolucionária brizolista se encontra no Anexo D, cuja abertura tem o pomposo título "Preâmbulo Ultra-secreto" e determina que "só os fortes e intemeratos podem intentar a salvação do Brasil das garras do capitalismo internacional e de seus aliados internos. Quem for fraco ainda terá tempo de recuar ante a responsabilidade que terá que assumir com o conhecimento pleno destas instruções."
Os comandantes são instruídos a buscar subordinados para os Grupos de Onze que sejam "os autênticos e verdadeiros revolucionários, os destemerosos da própria morte, os que colocam a Pátria e nossos ideais acima de tudo e de todos." E a recomendação seguinte é evitar arregimentar parentes ou amigos íntimos.
Findo o preâmbulo, as instruções secretas têm dez seções. A primeira, sobre os objetivos, volta a pregar a importância do Gr-11 como a "vanguarda avançada" do movimento e compara esta célula à Guarda Vermelha da Revolução Socialista de 1917. Por ser revolucionária, ela não precisa prestar contas dos seus atos: "Não nos poderemos deter à procura de justificativas acadêmicas para atos que possam vir a ser considerados, pela reação e pelos companheiros sentimentalistas, agressivos demais ou até mesmo injustificados." Sem sombra de dúvida, os fins justificam os meios.
O quesito seguinte, que tem o título genérico de "Observações", descreve o que seria uma espécie de estado de espírito permanente dos participantes: "Os Grupos dos Onze Companheiros, como vanguardeiros da libertação nacional, terão que se preparar devidamente (...) devendo considerar-se, desde já, em REVOLUÇÃO PERMANENTE e OSTENSIVA." A revolução cubana vitoriosa de Fidel Castro é a principal referência: "A condição de militantes dos gloriosos Gr-11 traz consigo enormes responsabilidades e, por isso, embora para formação inicial de nossas unidades não seja condição sine qua o conhecimento da técnica propriamente militar, torna-se absolutamente necessário o da técnica de guerrilhas e a leitura, entre outras importantes publicações, do folheto cubano a respeito daquele mister."
No terceiro capítulo, sobre a ação preliminar, os companheiros são instados a tentar conseguir o quanto antes armamentos para o "Momento Supremo". E a lista contempla desde espingardas a pistolas e metralhadoras. Com um lembrete: "Não esquecer os preciosos coquetéis Molotov e outros tipos de bombas incendiárias, até mesmo estopa e panos embebidos em óleo ou gasolina." A instrução reconhece a escassez de armas no movimento, mas conta com aliados militares (segundo o documento, "que possuímos em toda as Forças Armadas") e garante ter o apoio da população rural. "Os camponeses virão destruindo e queimando as plantações, engenhos, celeiros e armazéns."
O descolamento entre propostas e realidade é flagrante, mas não diminui o grau de virulência da ação que, pelo menos em tese, seria desencadeada pelos Grupos de Onze. Juarez Santos Alves, de 61 anos, é contemporâneo e até hoje amigo de Vitor Borges de Melo. O pai, dono de farmácia, e o tio, militar, eram militantes do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e foram sua inspiração. No entanto, no que diz respeito à sua passagem pelo Grupo de Onze, a monotonia imperava. "Considero mais um grupo poético, porque nunca demos um passo além das reuniões. Falava-se em tomar o quartel, mas como é que iríamos resistir se no máximo tínhamos armas pessoais ou de caça?", rememora Juarez, que depois ingressou na Vanguarda Popular Revolucionária. Preso e torturado, foi beneficiado com uma indenização de R$ 100 mil.
A cartilha de ação inclui escudos humanos, saques e incêndios de edifícios públicos e empresas particulares, além da difusão de notícias falsas.
Em centros urbanos, a tática adotada será assumidamente a de guerra suja, com a utilização de escudos civis, principalmente mulheres e crianças. "Nas cidades, os companheiros (...) incitarão a opinião pública com gritos e frases patrióticas, procurando levantar a bandeira das mais sentidas reivindicações populares, devendo, para a vitória desta tática, atrair o maior número de mulheres e crianças para a frente da massa popular." Agitação é a palavra de ordem, com direito a depredação de estabelecimentos comerciais, saques e incêndios de edifícios públicos e de empresas particulares. Também estão incluídos ataques a centrais telefônicas, emissoras de rádio e TV. O objetivo? "Com as autoridades policiais e militares totalmente desorientadas, estaremos, nesse momento, a um passo da tomada efetiva do Poder-Nação."
Sobre a tática geral da guerrilha nacional, tema do item quatro, a ênfase recai na guerra de informação. Depois de a autodenominada ação revolucionária ter provocado o caos, o passo seguinte seria cortar a comunicação entre as cidades e divulgar apenas o que interessasse ao movimento. "Difundindo-se notícias falsas, tendenciosas e inteiramente favoráveis aos nossos Gr-11 e aos nossos planos, com interceptação de comunicações telefônicas isolamento das cidades e de seus meios de comunicação."
Em "O porquê da revolução nacional libertadora", a explicação de cartilha revolucionária: a exploração do capital monopolista estrangeiro, principalmente americano; e a estrutura agrária baseada na concentração latifundiária. No capítulo sobre "o aliado comunista", não resta dúvida de que Brizola não via o Partido Comunista Brasileiro (PCB) com a menor simpatia. "Devemos ter sempre presente que o comunista é nosso principal aliado mas, embora alardeie o Partido Comunista ter forças para fazer a Revolução Libertadora, o PCB nada mais é que um movimento dividido em várias frentes internas em luta aberta entre si pelo poder absoluto e pela vitória de uma das facções em que se fragmentou." E continua, aumentando o tom da crítica: "São fracos e aburguesados esses camaradas chefiados pelos que veem, em Moscou, o único sol que poderá guiar o proletariado mundial à libertação internacional. Fogem à luta como fogem à realidade e não perderão nada se a situação nacional perdurar por muitos anos ainda."
"No caso de derrota do nosso movimento, os reféns deverão ser sumária e imediatamente fuzilados."
O trecho mais chocante das instruções secretas aos comandantes diz respeito à guarda e ao julgamento dos prisioneiros. Para esta tarefa, a orientação é clara: "Deverão ser escolhidos companheiros de condições humildes mas, entretanto, de férreas e arraigadas condições de ódio aos poderosos e aos ricos". Além da prisão, está previsto o julgamento sumário de oponentes ao movimento, onde se incluem autoridades públicas, políticos e personalidades. "No caso de derrota do nosso movimento, o que é improvável, mas não impossível (...) e esta é uma informação para uso somente de alguns companheiros de absoluta e máxima confiança, os reféns deverão ser sumária e imediatamente fuzilados, a fim de que não denunciem seus aprisionadores e não lutem, posteriormente, para sua condenação e destruição."
Para o professor Jorge Ferreira, entre 1961 e 1964 houve uma profunda mudança nos interesses que alimentavam a correlação de forças entre militares, partidos políticos e sociedade. "Em agosto de 1961", diz ele, "quando Jânio Quadros renuncia, os militares deram um golpe que foi rechaçado pelo Congresso, pelos partidos e pelas entidades civis. Os grupos progressistas e legalistas venceram.
A sociedade brasileira não queria romper com o processo democrático." O período parlamentarista manteve o equilíbrio, ainda que precário, entre essas correntes. Jango sabia que precisava de maioria no Congresso ou não governaria, mas o plebiscito que lhe devolveu o presidencialismo acabou dando outro rumo aos acontecimentos, como afirma Ferreira: "a Frente de Mobilização Popular, encabeçada por Brizola, havia unificado praticamente todas as esquerdas, englobando o Comando Geral dos Trabalhadores, Ligas Camponesas, UNE, Ação Popular, a esquerda do Partido Socialista Brasileiro, a esquerda mais radical do PCB, os movimentos de sargentos e marinheiros. E a exigência dessas esquerdas era o rompimento com o PSD (Partido Social Democrático), a convocação de Assembleia Nacional Constituinte e o questionamento das instituições liberais vigentes. É quando se estabelece o confronto."
Desta vez, o estado de direito não venceu.
Mariza Tavares, Jornalista, é Diretora de Jornalismo do Sistema Globo de Rádio e da CBN – de cujo site foi extraído este texto.

Notícias de Jornal Velho: das frentes comunistas a Antonio Gramsci

Escrito por Carlos Azambuja | 29 Setembro 2004
A subversão é uma meta para os comunistas de todo mundo. Isso não é nenhuma novidade. É um dever de todo membro do partido destruir a estabilidade dos governos, semear dúvidas acerca da ordem social e lograr adeptos para o marxismo, atuando dentro dos marcos constitucionais ou usando a violência caso necessário, com o objetivo de acelerar o advento da revolução.
Entre muitos liberais do Ocidente, observa-se uma resistência em aceitar essas realidades que podem chegar a recordar os piores momentos da Guerra-Fria. Essa relutância em aceitar os fatos em toda a sua realidade é, na verdade, um símbolo da eficiência e persistência do aparato propagandístico comunista e também produto natural das pessoas comuns e bem intencionadas de todo o mundo de viverem em paz. Essas pessoas acreditam que tudo isso acabou e que hoje em dia os partidos comunistas já não recebem ordens de Moscou, Pequim ou Havana. Afinal, o socialismo real não foi desmantelado? A União Soviética não acabou? O ouro de Moscou não cessou de fluir para Cuba e para os partidos comunistas de todo o mundo? 
É evidente que a subversão comunista já não mais pode convocar os operários franceses a uma greve, bem como ordenar aos comunistas indonésios um levantamento armado, como nos tempos de Stalin. Porém, pelo menos nos tempos de Stalin, havia uma clareza absoluta acerca das atividades do movimento comunista internacional. Os países podiam saber exatamente de onde provinham as ordens e o dinheiro. Hoje em dia essa ameaça é difusa, ambígua, difícil de identificar, pois provém de distintas direções, tornando-se uma ameaça muito mais complexa.
Quando Lênin criou o Komintern, em 1919, um dos seus principais objetivos foi o fortalecimento da revolução em todo o mundo, objetivando lograr o colapso do capitalismo.
Um outro instrumento foi a formação de uma rede de organizações de frente, que Lênin concebia como correias de transmissão do partido para com as massas. Frentes Únicas, Frentes Populares, Frentes de Libertação Nacional e Frentes Nacionais. Estas últimas são uma aliança dos partidos comunistas com outros partidos, não comunistas, que serão descartados tão logo cumpridos os objetivos dos comunistas. Esse tipo de Frentes está nas origens do próprio comunismo soviético. Em novembro de 1917, o Partido Bolchevique se associou ao Partido Social Revolucionário e, nas eleições de 25 de novembro, os bolcheviques, já no Poder, obtiveram apenas 175 deputados na Assembléia Nacional Constituinte, composta por um total de 707. Essa Constituinte, como se sabe, foi dissolvida em seu primeiro dia de reunião e algum tempo depois os social-revolucionários foram expulsos do governo.
Na década de 30, os comunistas franceses e espanhóis formaram também Frentes Populares com os partidos socialistas com o objetivo de obterem maior poder. Essa mesma técnica foi utilizada por Mao-Tsetung durante a guerra civil chinesa e, na Europa Oriental, após a II Guerra, os comunistas locais, com a inspiração e a proteção soviética, estabeleceram várias Frentes Nacionais Tudo isso, para os incautos, constitui uma armadilha mortal.
Em março de 1926, em uma reunião do Comitê Executivo do Komintern, o veterano comunista finlandês Otto Kusinen propôs a criação de “um complexo sistema solar de organizações e pequenos comitês girando ao redor dos partidos comunistas, trabalhando sob sua influência”.
Muitas dessas Frentes foram estabelecidas nas décadas de 1920 e 1930, mas foi a partir de 1945 que os soviéticos criaram um espectro completo de organizações de frente. A maioria delas existe até hoje, malgrado o socialismo realmente existente tenha sido desmantelado.
No início, muitos indivíduos e grupos de não comunistas se uniram a esses corpos internacionais, acreditando que eram apolíticos, até que em 1949, já sob o controle total dos soviéticos, muitos membros originais afastaram-se face à virulência de sua propaganda contra o Ocidente, o que se tornou contraproducente para os próprios interesses soviéticos. Porém, os comunistas jamais desistiram de recrutar novas gerações de inocentes úteis para manter e aumentar essas Frentes.
As Organizações de Frente mais influentes foram o Conselho Mundial da Paz (em virtude da palavra mágica que figura em seu título), a Confederação Internacional de Sindicatos Livres, a Organização Internacional de Jornalistas, a Federação Democrática Internacional de Mulheres, ora com sede em Havana e presidida por uma militante do Movimento Revolucionário Oito de Outubro, a Federação Mundial da Juventude Democrática, a União Internacional de Estudantes, Federação Sindical Mundial e várias outras.
Posteriormente, nos tempos dos chamados “anos de chumbo”, para não ficar marginalizada da vanguarda da revolução internacional, a União Soviética viu-se na necessidade de dar apoio, ainda que velado, em dinheiro, cursos e assessoria aos movimentos dedicados à violência revolucionária na África e América Latina, embora, por outro lado, sempre apoiassem os partidos comunistas ortodoxos, contrários à luta armada, tornando sua política ambígua e confusa, especialmente na América Latina. Ou seja, foram utilizadas todas as formas de luta.
Atualmente está na ordem do dia na América Latina a teoria engendrada nos anos 20 pelo comunista italiano Antonio Gramsci, que objetiva fundamentalmente privar a classe dominante da direção da sociedade civil antes de atacar o poder do Estado, estratégia que exige a constante infiltração e subversão nos múltiplos e complexos mecanismos de dominação ideológica, a fim de provocar a erosão do domínio ideológico burguês, sua substituição por uma contra-hegemonia marxista e a adesão do espírito popular aos novos princípios, pois, sem essa prévia revolução do espírito toda e qualquer vitória comunista seria efêmera.
O objetivo da revolu ção gramscista é o de conquistar, um após outro, todos os instrumentos de difusão ideológica – escolas, universidades, editoras, meios de comunicação social e sindicatos – uma vez que os principais confrontos ideológicos não mais têm como cenário as fábricas, as ruas ou os quartéis e sim, a esfera cultural.
Todavia, a flexibilidade não equivale ao revisionismo. A transformação socialista não é um pic-nic e nenhum assunto cavalheiresco levado adiante com uma preocupação meticulosa pelos princípios do liberalismo. A teoria de Gramsci não exclui a violência, pois a guerra de movimento – assalto ao Estado burguês pela violência – constitui um suplemento crucial para a guerra de posições – infiltração permanente na sociedade civil e no aparato ideológico do Estado -.
Em tudo isso, o que leva alguns a considerar Gramsci – que nunca deixou de ser um ferrenho leninista - uma espécie de social-democrata, não foi a presumível mudança de suas idéias para a direita, mas o fato da política do Komintern, sob Stalin, ter descambado fortemente para a esquerda.
Os que procuram atenuar o choque dialético entre capitalismo e socialismo argumentam que o “lado bom” de todo momento histórico deve ser preservado na antítese dialética. Gramsci, no entanto, explicita que essa posição implica em negar a força da negatividade, espinha dorsal da dialética e da História, pois na realidade histórica, cada antítese deve, necessariamente, colocar-se como antagonista radical da tese, destruí-la e substituí-la por completo, pois o autêntico pensamento dialético considera a antítese como a negação total da tese, que é demolida e não simplesmente modificada, dando lugar a uma nova tese.
O proletariado é a antítese, a força inovadora, e a nova tese, daí resultante, o socialismo.
“A dialética significa o negativo, o antigo e o novo, a negação da negação, a identidade dos contrários e a contradição dos idênticos. A inesgotável e miraculosa capacidade da história de ultrapassar-se negando sua positividade e afirmando sua negatividade. Isso não é sublime?” (livro “A Montanha Branca”, de Jorge Semprun, que foi membro dirigente do Partido Comunista Espanhol, esteve preso no campo de concentração de Buchenwald e em 1964 foi expulso do partido, por ter decidido, segundo ele próprio escreveu, “começar a pensar com a própria cabeça e escorregar para a realidade”).

FONTE >> MIDIA SEM MÁSCARA

sábado, 10 de agosto de 2013

Rússia e Ossétia do Sul celebram os cinco anos do movimento da independência ossétia

As igrejas de Moscou celebraram nesta quinta-feira, 8, diversos atos solenes em homenagem às vítimas dos conflitos que envolveram Rússia, Geórgia e Ossétia do Sul em agosto de 2008. As principais solenidades aconteceram no templo maior da Igreja Ortodoxa na capital russa, a Catedral do Cristo Salvador. Segundo o Arcipreste Mikhail Ryazantsev, o serviço religioso na Catedral foi encomendado pela Embaixada da Ossétia do Sul em Moscou.
Outra igreja, a da Natividade da Virgem Maria Abençoada, também registrou um grande número de fiéis durante as missas, pois é este o templo frequentado pela comunidade ossétia da capital russa.
Durante todo o dia, a Embaixada da Ossétia do Sul manteve as portas abertas para que os visitantes pudessem registrar presença no Livro de Condolências.
Os conflitos envolvendo os três países se acentuaram na madrugada de 8 de agosto de 2008, quando tropas da Geórgia invadiram a Ossétia do Sul após a proclamação da independência ossétia. Solidária, a Rússia saiu em defesa daquela república do Cáucaso, e em 26 de agosto reconheceu a sua emancipação do território georgiano.
Esta semana, em Tskhinval, capital da Ossétia do Sul, o Presidente Leonid Tibilovesteve à frente de todas as solenidades, e mais uma vez agradeceu à Rússia por ter evitado o que chamou de massacre do povo ossétio pelas forças georgianas.
Já o primeiro-ministro da Rússia, Dmitri Medvedev, que em 2008 estava no seu primeiro ano como presidente da Federação Russa, concedeu entrevista à emissora de TV da Geórgia, Rustavi 2, afirmando que não se arrepende da sua decisão de ter ordenado o enfrentamento militar para proteger a população da Ossétia do Sul contra as forças georgianas. Para Medvedev, não há razão alguma para que a sua atitude seja revista ou questionada.