sábado, 4 de outubro de 2014

EUA e Grã-Bretanha temem o arsenal nuclear paquistanês

Telegramas confidenciais obtidos pelo site WikiLeaks e divulgados pelos jornais Guardian e The New York Times sugerem que diplomatas dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha estão mais preocupados do que admitem em público com o arsenal nuclear do Paquistão. O governo paquistanês, por sua vez, rebateu nesta quarta-feira os temores de que suas armas nucleares possam parar nas mãos de terroristas.

Uma mensagem trocada entre as representações diplomáticas das duas potências adverte que o Paquistão está aumentando rapidamente seu estoque nuclear, a despeito da crescente instabilidade do país. O documento expressa ainda o ceticismo de diplomatas americanos em relação à capacidade do Paquistão de cortar seus vínculos com extremistas islâmicos.

No documento, o alto funcionário do Ministério das Relações Exteriores britânico Mariot Leslie diz a diplomatas americanos, em setembro de 2009, que seu país estava profundamente preocupado com a segurança das armas nucleares do Paquistão. E essa não tinha sido a única vez em que o assunto foi tratado pelos aliados.
Em outro arquivo, transmitido sete meses antes, a então embaixadora americana no Paquistão dizia a Washington: "Nossa principal preocupação não é a de que um militante roube uma arma completa, mas sim a chance de alguém que trabalhe em alguma instalação do governo paquistanês contrabandear aos poucos material suficiente para a construção de uma arma".

“O medo deles não é justificado", retrucou um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Paquistão, Abdul Basit, referindo-se aos americanos e britânicos. "Não houve um único incidente envolvendo nosso material físsil, o que claramente reflete quão fortes são nossos controles e mecanismos. É hora de eles romperem com seus preconceitos históricos contra o Paquistão."

http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/eua-e-gra-bretanha-temem-arsenal-nuclear-do-paquistao

Segurança Nuclear no Paquistão

Não é a primeira vez que um líder paquistanês diz ao mundo que o arsenal nuclear do país está em boas mãos. Mas, apesar das repetidas garantias, o Ocidente vem se preocupando há algum tempo com a segurança de armas atômicas do Paquistão.
O Paquistão, que realizou seus únicos testes nucleares em 1998, luta contra uma já prolongada insurgência islâmica, que ameaça paralisar o Estado. Na última década, os islamistas não só atacaram civis, mas também instalações e bases militares. Observadores dizem que o Talibã e a Al Qaeda estão de olho nas ogivas nucleares paquistantesas.
Na semana passada, o primeiro-ministro Nawaz Sharif visitou o Centro de Comando Nacional, que supervisiona as instalações nucleares paquistanesas. Ele estava acompanhado por funcionários do poderoso Exército paquistanês que, segundo analistas, tem a última palavra nos assuntos relacionados a defesa e segurança. Após a visita, o premiê disse que Islamabad quer "paz na região" e que "não fará parte de uma corrida armamentista". Ele ressaltou, ainda, que o arsenal nuclear está "bem protegido".
Segundo a especialista em questões de defesa Maria Sultan, as autoridades têm, de fato, um forte controle sobre as instalações nucleares. "O Paquistão tem capacidade de monitorar suas armas nucleares, e a tecnologia que está usando para fazer isso é muito sofisticada", opina a analista, que classifica como "infundadas" as preocupações do Ocidente.
“Talibanização dos militares”
Embora o Estado afirme que suas armas nucleares estão sob rigoroso controle, muitos especialistas em defesa temem que eles possam cair nas mãos de terroristas, caso radicais eventualmente assumam o controle de Islamabad ou se as coisas ficarem fora de controle do governo e dos militares.
"Programas nucleares nunca são seguros. Por um lado, há, talvez, um certo nervosismo exagerado sobre as bombas do Paquistão nos meios de comunicação ocidentais. Por outro, há também uma preocupação genuína", avalia Farooq Sulehria, pesquisador e jornalista paquistanês baseado em Londres. "Mas a talibanização dos militares do Paquistão é algo que não podemos ignorar."
As preocupações de Sulehria provavelmente são justificadas. Os talibãs têm demonstrado repetidamente que são capazes não só de atacar alvos civis, como também bases militares. Em agosto de 2012, um grupo armado com fuzis e lançadores de foguetes atacou uma base aérea na cidade de Kamra, na província de Punjab.
A base abriga vários esquadrões de caças e aviões de vigilância, que, segundo oficiais da Força Aérea, não foram danificados pelo ataque. O Talibã tem grande influência no inquieto Vale do Swat, no noroeste do Paquistão, e, de acordo com especialistas em defesa, várias instalações nucleares estão localizadas não muito longe da área.
Apesar disso, o analista político e de defesa Zahid Hussain garante que o Ocidente está "preocupado desnecessariamente". "O Paquistão realizou seus testes nucleares mais de 15 anos atrás. Nada aconteceu desde então. O Paquistão assegura que as armas nucleares continuam seguras", assinala.
Proliferação nuclear
No entanto, o histórico de segurança nuclear do Paquistão não é tão limpo como alega Hussain. Em 2004, o "criador" da bomba nuclear do país, Abdul Qadeer Khan, confessou ter vendido tecnologia atômica à Coreia do Norte e ao Irã.
Khan foi afastado da chefia do programa nuclear paquistanês pelo então presidente Pervez Musharraf, em 2001. Ele passou cinco anos em prisão domiciliar, depois que Musharraf mandou prendê-lo em 2004 por seu suposto papel na divulgação de segredos nucleares. Um tribunal em Islamabad determinou sua libertação em 2009.
Os líderes militares e civis paquistaneses foram acusados ​​de serem condescendentes com Khan, mas se defendem, dizendo que o Estado não teve papel algum no que eles afirmam ter sido um "ato individual" de Khan. Mas muitos no Paquistão e no Ocidente acreditam que Khan só foi capaz de repassar tais informações sigilosas com apoio do regime.
Khan é popular entre ativistas muçulmanos e setores da população do país, que acreditam que as armas nucleares são "necessárias" para a segurança nacional. Partidos políticos e religiosos do Paquistão invariavelmente usam a retórica nuclear contra a Índia e os países ocidentais.
"A bomba atômica é nossa protetora. Ela garante nossa soberania. Ninguém pode atacar o Paquistão enquanto tivermos esta bomba, e essa é a razão por que os EUA, a Índia e outros países ocidentais estão conspirando contra ela", argumenta Abdul Basit, um estudante na Universidade de Karachi.
Asim Uddin, um ativista do partido islâmico paquistanês Jamaat-e-Islami baseado em Londres, é da mesma opinião. Ele argumenta que o Paquistão precisa de armas atômicas porque tem um vizinho nuclear, a Índia, contra a qual já lutou em três guerras. "O Paquistão precisa de armas nucleares como um elemento de dissuasão de guerra", acredita.
Já Sulehria diz que, embora o mundo precise ser mais vigilante a respeito das armas nucleares do Paquistão, sua obsessão nuclear tem mais a ver com a política interna do que com as ameaças externas: "Os políticos usam a retórica nuclear para apaziguar o público."
Especialistas como Sulehria temem que uma economia em ruínas, uma crescente ameaça islâmica e um discurso nuclear populista são uma receita perfeita para uma crise nuclear. Eles também dizem que o governo paquistanês precisa fazer muito mais do que apenas emitir declarações oficiais sobre a segurança atômica.

http://www.cartacapital.com.br/internacional/fortalecimento-de-radicais-poe-em-questao-seguranca-nuclear-no-paquistao-1830.html

China, Índia e Paquistão aumentam arsenal nuclear

Três países que possuem a bomba atômica, China, Índia e Paquistão, aumentaram o seu arsenal nuclear, enquanto os cinco restantes o reduziram ou o mantiveram estável, segundo um relatório do Instituto Internacional de Pesquisas sobre a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês). Ao mesmo tempo, os gastos mundiais com armamentos diminuíram pela primeira vez desde 1998.

A China possui atualmente 250 ogivas nucleares, contra 240 em 2012. O Paquistão tem entre 100 e 120, contra de 90 a 110 no ano passado, e a Índia passou de 80 a 100 ogivas em 2012 para de 90 a 110 atualmente, conforme o estudo. O instituto avalia que esta corrida armamentista é particularmente preocupante porque a paz é considerada "frágil" na Ásia, região que registra uma "tensão crescente desde 2008" entre a Índia e o Paquistão, entre as duas Coreias ou entre a China e o Japão.

Na via oposta, os países que reduziram o seu arsenal são signatários do tratado de desarmamento nuclear START, a Rússia, com atualmente 8,5 mil ogivas, e os Estados Unidos, com 7,7 mil. A França (300 ogivas), o Reino Unido (225) e Israel (80) mantiveram o mesmo arsenal do ano passado.

O Sipri admite que os números são estimativas, mais ou menos confiáveis conforme os países envolvidos. A China, por exemplo, mantém o sigilo completo sobre o assunto, enquanto a Rússia é cada vez menos transparente. O instituto presume que a Coreia do Norte e o Irã ainda não conseguiram fabricar armas atômicas.

Para o centro de pesquisas sueco, a diminuição quantitativa do armamento não é sinônimo de redução da ameaça nuclear. “Os programas de modernização que estão em curso a longo prazo nestes países mostram que as armas nucleares são hoje uma marca de status internacional e poder”, declarou o coordenador da pesquisa, Shannon Kile, por comunicado.

No que diz respeito às armas químicas e biológicas, a redução dos estoques progrediu pouco, avalia o Sipri. Os Estados Unidos e a Rússia não destruíram todas as armas químicas que possuem em 2012, ao contrário do que haviam prometido, e a Síria declarou estar pronta para utilizá-las se sofresse um ataque internacional. Ao mesmo tempo, sublinha o relatório, os gastos mundiais com armamentos diminuíram pela primeira vez desde 1998: houve uma redução de 0,5%, considerando-se a inflação. A China ocupa agora o quinto lugar no ranking dos maiores exportadores de armas, desbancando o Reino Unido e atrás dos Estados Unidos, da Rússia, da Alemanha e da França.

http://www.portugues.rfi.fr/mundo/20130602-china-india-e-paquistao-aumentaram-arsenal-nuclear-em-2012

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

'Saab fará do Brasil um produtor de caças’, diz executivo de companhia sueca

Lennart Sindahl, presidente da divisão de Aeronáutica da Saab, prevê mais negócios no continente e participação de empresas do País: “Queremos ver a indústria brasileira como parte da cadeia mundial de produção da Saab.” A declaração, que já antevê o papel do País com um produtor de caças de alto desempenho, é do presidente da divisão de Aeronáutica da empresa sueca Saab, Lennart Sindahl – o executivo que comandou com o governo brasileiro a negociação para a venda, avaliada em US$ 4,5 bilhões, de 36 caças Gripen NG para o Brasil. O desfecho do negócio deixou de lado as poderosas Boeing, americana, e Dassault, francesa. No pacote sueco, um elemento decisivo foi o compromisso de ampla transferência da tecnologia das aeronaves de combate para o Brasil. 

Em entrevista exclusiva ao Estado na sede da Saab, em Estocolmo, o número 2 na hierarquia da empresa detalha de que forma se dará essa passagem de conhecimento. Segundo Sindahl, parte das peças produzidas no Brasil pode ser exportada até para a Suécia. No futuro, poderão ser feitos negócios com outros governos a partir da base no Brasil.
Sindahl admite que a Saab está ajudando a criar um futuro concorrente ao transferir a tecnologia para empresas brasileiras, como a Embraer. Mas ele se mostra pragmático: “Esses concorrentes em países emergentes surgirão com ou sem o nosso apoio”. O executivo não acredita que o jogo tenha virado a favor do Gripen por causa da denúncia de espionagem feita no Brasil por agências de segurança dos EUA. “A decisão foi sobre o que a Aeronáutica precisava e que cabia no orçamento.”
Um dos pontos centrais de sua proposta para a FAB é a transferência de tecnologia. Como isso vai ocorrer?Já tivemos várias reuniões para ver como será o contrato. Temos de ouvir a Força Aérea de forma cuidadosa, saber seus pensamentos e necessidades, como pensa que deve ser a cooperação entre a Saab e as empresas brasileiras. Temos algumas ideias, mas cabe ao Brasil nos dizer o que quer. Temos como um dos cenários manter a linha de produção final no Brasil. Vamos dispor de uma instalação em São Bernardo, mas ainda falta detalhar como isso vai acontecer. A empresa local Akaer já faz parte desse esforço; eles desenham parte do avião. Certamente serão um dos parceiros. E outros virão.
Qual será a parte das empresas brasileiras no acordo?Queremos ver a indústria brasileira como parte da cadeia mundial de produção da Saab. Além disso, poderíamos ver, se isso for de desejo da Aeronáutica, uma linha de produção no Brasil para os aviões que ficarão no Brasil e também para fornecer para outros aviões de outros países.
A montagem final seria no Brasil com peças vindas da Suécia?Pode ser uma opção. Os aviões prontos poderiam sair de hangares no Brasil e voar diretamente de lá. Algumas peças viriam de fora. Peças produzidas no Brasil entrariam nos jatos brasileiros – mas também em aviões na Suécia ou na Suíça. Não queremos duplicar a produção. Se olharmos para a indústria brasileira, há no país uma cadeia de empresas que podem se aliar à produção do Gripen.
Fala-se que a FAB pensa em uma frota de mais de cem jatos.Essa é uma pergunta para o comandante (Juniti) Saito. Também escutei a história de mais de cem aeronaves no futuro. Seria ótimo. Se esse for o caso, podemos desenvolver isso com a indústria brasileira. Eu digo: esses concorrentes vão surgir com ou sem a nossa participação. Temos que ver isso como oportunidade. No futuro, podemos cooperar e concorrer ao mesmo tempo. A Índia era um grande importador
O sr. vê o Brasil como um exportador no seu setor?
Certamente. O mesmo sucesso dos aviões comerciais brasileiros pode se repetir no setor militar. Já falamos sobre isso com o governo. Obviamente que, para o mercado sul-americano, trabalhar a partir do Brasil pode ser muito mais interessante que trabalhar a partir da Europa.
Quais os planos para a unidade da Saab em São Bernardo?
Estarei lá no final do mês para discutir essas instalações. O que veremos ali será a produção de partes, montagem.
O Brasil planeja alugar aviões para suprir suas necessidades até o Gripen ficar pronto em 2018. Como isso ocorrerá?
A Saab não é parte. Será algo entre os dois governos.
Como ocorrerá o pagamento dos 36 caças?
Uma opção é usar uma instituição que existe na Suécia para apoiar os exportadores. Nós seríamos financiados por eles e o Brasil pode pagar num período mais à frente. Temos muito trabalho por fazer ainda no avião e, assim, o Brasil pode começar a pagar só quando começar a receber.
O sr. acha que o escândalo da espionagem americana no Brasil foi decisivo na escolha?Claro que é uma situação complicada, mas é de curto prazo. O Brasil e os EUA tem uma relação de longo prazo.
A Saab foi beneficiada?
Acho que não. A decisão foi sobre o que a Aeronáutica precisava e que cabia no orçamento