quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Nove de Julho - Revolução de 32 aponta o valor da autonomia diante de um Estado centralizador

12 de julho de 1997 
 
Nove de Julho - Revolução de 32 aponta o valor da autonomia diante de um Estado centralizador
 
A resolução do governador Mário Covas de declarar feriado o dia 9 de julho merece gerais aplausos, pois nenhuma data deve ser tão cara à gente paulista do que essa, que representa não somente seu amor à democracia como o brioso sentimento de seus valores próprios. Se me perguntassem qual é o sentido mais alto da Revolução de 32, não vacilaria em declarar que foi o da autonomia de nosso Estado. Digo isso como um dos soldados remanescentes desse dignificante ato revolucionário.

Foi talvez essa a razão que levou a Sociedade Veteranos de 32 - MMDC a outorgar-me a medalha Pedro de Toledo, quarta-feira, junto ao Mausoléu do Soldado Constitucionalista, no Parque do Ibirapuera. Foi o laurel que até agora mais me comoveu, pois me fez voar 65 anos até o momento em que, estudante na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, me encontrava em um momento de indecisão, convencido de que não podia mais continuar apegado à doutrina marxista, muito embora sem abandono dos valores sociais, buscando compor democracia com justiça social.

A Revolução de 30, fonte direta da reação armada paulista, tinha dois sentidos que deviam ter sido complementares para bem do povo e, para infelicidade nossa, até agora não foram conjuntamente alcançados. Um era de natureza política, em prol do Estado de Direito, tal como o pregava a Aliança Liberal; o outro referia-se às reivindicações sociais, que o pretenso "socialismo científico" acabou absorvendo rumo ao Estado Totalitário.

Pode-se dizer que, com Getúlio Vargas no poder, ambos os ideais foram abandonados, adiando-se indefinidamente a constitucionalização do País, e, como engodo, surgiu a triste idéia do "peleguismo", ou seja, da organização sindical à sombra protetora do Estado.

Mas a história, como bem ensina Fernand Braudel, deve ser analisada segundo suas "conjunturas", à luz de suas peculiares circunstâncias. Ora, como saliento em minhas Memórias, o que, na época, mais afligia a gente paulista - sem olvido dos princípios democráticos violados, mas, no fundo, em razão deles - era o opróbrio que sofríamos, dado o desprezo do todo-poderoso Governo Provisório federal por nossa autonomia. O que, em suma, mais nos revoltava era a sujeição de nosso Estado ao ultrajante domínio alheio, sobretudo quando comparávamos a nossa situação com a de Minas Gerais, que conservara até o seu governador.

Sentíamo-nos todos espezinhados, como se não tivéssemos participado do movimento revolucionário de 30, com títulos pelo menos iguais aos de vários Estados contemplados com o galardão do autogoverno, não obstante com as limitações decorrentes de uma fase de transição.

É por tais motivos que qualifiquei a Revolução de 32 por seu valor dominante, o da autonomia, base essencial do ordenamento federativo, o que é bom lembrar, pois, ao longo dos anos, mesmo sem precisar pensar no Estado Novo, a nossa se tornou uma federação altamente centralizada, sobretudo no que se refere à ordem econômica.

Foi dito que ao movimento paulista ficou alheio o proletariado da capital, contando apenas com a classe média e a população do interior, tanto da área urbana como da rural. Muito embora desconheça dados estatísticos confiáveis a respeito, é possível que em parte assim tenha sido, pois me lembro que uma de nossas manifestações estudantis pró-Constituição foi dispersada por numerosa coluna de operários pertencentes à Legião Revolucionária chefiada pelo "general" Miguel Costa, em defesa dos interventores militares que então governavam do palácio dos Campos Elíseos.

No segundo pelotão do Batalhão Ibrahim Nobre, que, por não ter completado o necessário efetivo, fora integrado nos quadros da Força Pública, eu tive o prazer de conviver com estudantes (em maior número), operários e componentes da FP, esses encarregados da pequena metralhadora que nos fora atribuída.
É aqui que começam as nossas decepções, pois, se havia dedicação e até mesmo heroísmo por parte dos que foram espontaneamente às frentes de combate - e eu fui guindado ao posto de sargento, por ser o único reservista em meu grupo da Faculdade de Direito -, a decisão de desencadear o movimento fora tomada por seus líderes, cientes da deficiência de forças militares devidamente preparadas, bem como do imprescindível material bélico, talvez contando com promessas de adesões valiosas, que não foram sabidamente honradas. São Paulo ficou só, mas, nem por isso, faltou a seus deveres cívicos, numa improvisação surpreendente.

Não é o caso de indagar, no presente artigo, das causas de nosso insucesso, nem de apurar responsabilidades, pois o que conta na Revolução de 32 é a sua razão histórica, mesmo porque há uma equivalência ética entre ganhar ou perder as batalhas do ideal. Nos combates travados, que Hernani Donato soube retratar com admirável acuidade, procuramos suprir a carência de armas com engenho e alma.

Nem se poderá dizer que não houve vitória alguma atribuível ao nosso grandioso gesto, pois, sem ele, não teria havido restituição de nosso poder civil, nem a Constituição de 1934, destinada a ter poucos anos de vigência por outros motivos, objeto de conhecidos estudos de historiadores e politicólogos.

O certo é que, nos anais da história pátria, MMDC marca com letras de fogo a unidade e a autonomia da gente paulista, que agora um grupelho de insanos tenta desmembrar. Mas esse é assunto que exige artigo especial.

Sobre o separatismo na Revolução de 1932


MOVIMENTOS CÍVICOS - INFORMAÇÕES HISTÓRICAS

São Paulo, 02 de outubro de 2013
81 Anos da Cessação das Hostilidades do Movimento Constitucionalista de 1932

SÃO PAULO, 2 DE OUTUBRO DE 2013

81 anos da CESSAÇÃO DAS HOSTILIDADES DO MOVIMENTO CONSTITUCIONALISTA DE 1932.

Nessa data, 2 de outubro, sempre acontece uma solenidade no MONUMENTO- MAUSOLÉU DO SOLDADO CONSTITUCIONALISTA, no IBIRAPUERA, cujos preparativos são realizados pela Polícia Militar do Estado de São Paulo, apoiando a Sociedade Veteranos de 32-MMDC.

Em 2 de outubro de 1932, às 15:30 horas, o CORONEL EDUARDO LEJEUNE, o MAJOR MÁRIO RANGEL e o CAPITÃO JOÃO FRANCISCO DA CRUZ, todos da FORÇA PÚBLICA DE SÃO PAULO, apresentaram-se diante do GOVERNADOR PEDRO DE TOLEDO, comunicando-lhe que ele estava deposto, que o CORONEL HERCULANO DE CARVALHO E SILVA havia sido nomeado GOVERNADOR MILITAR DO ESTADO e que terminava a luta. Diante desses fatos, elaborou-se um documento, encabeçado pelo próprio PEDRO DE TOLEDO, sempre altivo, com detalhadas e corajosas explicações “AO POVO DE SÃO PAULO”.

Houve inconformismo popular, difícil de ser contido. Na frente de batalha, mesmo diante da situação totalmente adversa, alguns soldados não aceitaram o final das hostilidades. Não concordando com aquele epílogo, o CORONEL EUCLYDES DE FIGUEIREDO pretendeu resistir, com uns poucos e obstinados combatentes. Mas, todos foram presos doze dias após. IBRAHIM NOBRE, exaltado, fez um desabafo: “A Revolução não deveria terminar assim. Depois que fossem os filhos, iriam os pais. Depois que eles morressem, iriam as irmãs, as mães, as noivas. Todos morreriam. Mais tarde, quando alguém passasse por aqui, neste SÃO PAULO deserto, sem pedra sobre pedra, levantando os olhos para o céu, haveria de ler, no epitáfio das estrelas, a história de um povo que não quis ser escravo”. Com as esperanças perdidas, porém com a dignidade conservada, os líderes civis e militares da Revolução foram presos. Arbitrariamente, a Ditadura remeteu-os na direção do Nordeste, pelo navio-presídio “PEDRO I”, do qual foram transferidos para o “SIQUEIRA CAMPOS”, em RECIFE. Esperava-os o exílio, no acolhedor PORTUGAL.

Em 1932, foi cunhada uma moeda que dizia “TUDO POR UM SÃO PAULO FORTE NO BRASIL UNIDO”. No outro lado lemos: “AOS HERÓICOS SOLDADOS DA LEI, DEFENSORES DA MAIS ALTA ASPIRAÇÃO NACIONAL. HOMENAGENS DO POVO DE SÃO PAULO.” Esses dizeres simples demonstram o espírito nacional do Movimento que pretendia a reconstitucionalização do BRASIL.

Infelizmente, ainda em nossos dias, pretensos historiadores que não conhecem a fundo o que foi o Movimento Constitucionalista, dizem que SÃO PAULO queria se separar do BRASIL. Nada mais infame. Uma das provas mais eloquentes que outros Estados também participaram do esforço de reconstitucionalização do País está o episódio em que os artilheiros do Forte ÓBIDOS, sobre o Rio AMAZONAS, partem para tomar MANAUS e, não podendo transportar os seus obuses, armam-se apenas com metralhadoras e fuzis, ocupando pequenos barcos. Contra eles, que sobem o rio, o governo estadual expediu dois navios com tropas. O encontro ocorreu diante do ITACOATIRA. Um dos navios, o BAEPENDI, o maior dos que sulcavam o AMAZONAS, foi empregado como aríete sobre as frágeis embarcações dos revoltados. Jarbas Passarinho assim conta o episódio: “Agindo com essa proa como se fosse um aríete, afundou-os. Em seguida, sem nenhuma contemplação para com os náufragos, metralhou-os.”

Acredito que os escritores que afirmam que São Paulo queria se separar do Brasil não conhecem o manifesto da Frente única, desertada por FLORES DA CUNHA. Essa Frente Única cumpriu o seu compromisso pelo brio pessoal de BORGES DE MEDEIROS, RAUL PILLA, FONTOURA, COLLOR, BATISTA LUZARDO e outros. Saíram a campo, em operações de guerrilhas que pelo menos retardaram a subida de tropas estaduais destinadas a combater os constitucionalistas de São Paulo. Só a 20 de setembro, aprisionado BORGES DE MEDEIROS, acaba a guerrilha constitucionalista da FRENTE ÚNICA gaúcha.

Também não devem conhecer o manifesto assinado por dom DUARTE LEOPOLDO E SILVA, arcebispo Metropolitano de SÃO PAULO; monsenhor GASTÃO LIBERAL PINTO, vigário-geral; JOSÉ MARIA WHITAKER, diretor do BANCO COMERCIAL; FRANCISCO PAIS LEME DE MONLEVADE, diretor da Estrada de Ferro SOROCABANA; GUILHERME DE ALMEIDA, da Academia Brasileira de Letras; CANTÍDIO DE MOURA CAMPOS, diretor da Faculdade de Medicina; desembargador COSTA MANSO, presidente do Tribunal de Justiça, e PLÍNIO BARRETO, presidente do Instituto dos Advogados, intitulado “AO POVO BRASILEIRO” acentuando: “SÃO PAULO não pegou em armas para combater os seus queridos irmãos dos outros Estados, nem para praticar a loucura de separar-se do BRASIL, mas unicamente para apressar a volta do País ao regime Constitucional. Enganam-se os que supõem que a atitude de SÃO PAULO esconde propósitos separatistas e é obra de partidarismo político. Podemos afiançar que é essencialmente nacionalista e sem o mais leve colorido partidário.”

81 anos passados, lembremos os grandes feitos dos nossos três irmãos gaúchos sacrificados em SÃO JOÃO; daquela moça loira que aos ombros de dois rapazes fazia ondear a bandeira paulista no Centro da Capital Federal, RIO DE JANEIRO; daquele herói juvenil paraense, PAULO CÍCERO TEIXEIRA, lutando uma noite inteira e morrendo com o dedo no gatilho; daqueles estudantes baianos feridos na Faculdade de Medicina; dos 38 mil voluntários paulistas; dos quase 300 mortos nas fileiras da FORÇA PÚBLICA, a maioria filhos de outros Estados; daqueles outros 330 voluntários que deram seu sangue pela causa constitucionalista; daquelas heroicas mulheres curitibanas; das 72 mil mulheres paulistas que deixaram o lar para servir à Revolução. Que sejam lembrados neste dois de outubro também os voluntários gaúchos que formaram em SÃO PAULO o BATALHÃO BENTO GONÇALVES; e também os mineiros, que a exemplo dos gaúchos, organizaram o BATALHÃO TIRADENTES; dos heróis mato-grossenses de PORTO MURTINHO, COXIM, TRÊS LAGOAS; dos voluntários do PARANÁ; do BATALHÃO GOIANO; da FRENTE ÚNICA do RIO GRANDE DO SUL; dos estudantes de BELAS ARTES do RIO; dos heróis de ÓBIDOS, no AMAZONAS; dos de SOLEDADE, no RIO GRANDE DO SUL; do Batalhão de garimpeiros de MATO GROSSO; dos constitucionalistas de VIÇOSA e ARAPONGA, em MINAS; dos combatentes pela causa paulista de CASTRO (dessa cidade paranaense um tenente comandou um esquadrão de cavalaria que veio para São Paulo e lutou na região do Túnel da Mantiqueira). Outra cidade do PARANÁ que lutou pela causa constitucionalista foi SENGÉS.

Quero frisar com essas palavras o caráter nacional da Revolução Constitucionalista de 1932, afastando de uma vez por todas o mito do separatismo que pairava sobre SÃO PAULO, fruto de uma bem urdida manobra de GÓIS MONTEIRO, chefe das forças ditatoriais. Acredito mesmo que o tempo fez esquecer toda essa gente que lutou ao lado de SÃO PAULO.

O momento dessa solenidade de 2 de outubro é o ideal para agradecermos aos nossos irmãos do BRASIL que comungaram conosco o ideal de Direito, da luta pela reconstitucionalização do BRASIL, conspurcada pelo governo ditatorial de VARGAS.

Saibam que a única bandeira de Estado que tem o BRASIL em sua formação é a de SÃO PAULO. Dizia-se em 1932 PRO BRASILIA FIANT EXIMIA. Os selos, o dinheiro, tudo dizia para um BRASIL MELHOR. Onde está o separatismo? Somente na cabeça de maus brasileiros que pretendem denegrir o nosso Estado.

Hoje, são poucos os heróis de 1932 que estão vivos, bem poucos, cerca de apenas 54. No Monumento Mausoléu estão imortalizados 788 combatentes. A maioria dos heróis são de outros Estados ou de outros países, uma prova de que não havia idéia de separatismo no Movimento Constitucionalista. Neste ano, no 9 de Julho, onze veteranos foram se juntar aos 777 que ali formam a grande falange dos bravos que lutaram por nós há 81 anos.

Em homenagem à plêiade de heróis de 1932 tomo a liberdade de ler a carta do TENENTE MARIO HILÁRIO DALLARI. Ele partiu de SÃO PAULO integrando o 2º Batalhão da FORÇA PÚBLICA “MARCÍLIO FRANCO”. O TENENTE MÁRIO DALLARI, no dia em que partiu para o “front”, em 13 de julho de 1932, enviou aos seus familiares, em SERRA NEGRA, uma carta em que prenunciava a sua própria morte:

Bendita e adorada mãe, querido pai, inesquecíveis irmãos, sobrinhos e cunhados:

A DEUS peço ter-vos sob sua bendita guarda. Talvez, entes do meu coração, ao chegar estas linhas em vossas mãos, já o meu corpo se corrompa na podridão esfalecedora dos vermes asquerosos, ou talvez ainda eu esteja me batendo pela causa sacrossanta de SÃO PAULO e do nosso amado BRASIL. Se vos endereço esta carta, no dia de minha partida para o “front”, é para pedir-vos perdão pelos desgostos que vos tenho dado e dizer-vos que, se parti para a frente de batalha, não foi por falta de conselhos de meus queridos amigos AURÉLIO LEME DE ABREU, Dr NELSON, ROQUE, dona AINDA e meu tio FERRÚCIO, que me pediram muita prudência para tomar essa decisão.

Parti, porque assim me ordenava o coração e assim exigem os meus brios de paulista e de brasileiro. Levo sobre o meu coração, a medalha que minha abençoada mãe me deu, quando deixei minha casa para servir o Exército.

Se, por desventura, uma bala me ferir e eu tenha tempo, beijarei a imagem do SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS, da medalha, e pedirei perdão a meu pai, e o SAGRADO CORAÇÃO DE MARIA SANTÍSSIMA, como sendo minha mãe.

Não culpem ninguém por este meu ato. Se eu morrer, sentir-me-ei honrado morrendo por SÃO PAULO e pelo BRASIL. Lembranças minhas aos padrinhos FELIPE e MARIA JOSÉ e aceitem um forte abraço do filho que vos pede a bênção, do irmão, tio e cunhado, MÁRIO. VIVA SÃO PAULO, VIVA O BRASIL. VIVA A DEMOCRACIA. SÃO PAULO, 13 de julho de 1932.

O bravo serrano MÁRIO DALLARI, que, pela sua coragem e espírito guerreiro, foi logo promovido ao posto de 2º Tenente, morreu a 10 de setembro, quando, comandando um pelotão, tentava a travessia do RIO DAS ALMAS, na região de ITAPETININGA.

Essa carta foi-nos entregue pelo doutor HÉLCIO DALLARI JÚNIOR, nosso associado, no dia 19 de maio de 2006.

Expressando o sentimento de 1932, trazido para os dias atuais, um de nossos associados assim se expressa:

O Brasil é um país que resiste na beira do abismo. Abençoado por Deus e pela natureza, vive na dúvida entre o atalho do atraso e a reta da certeza. Uma nação que maltrata sua história e não agradece, todos os dias, a generosidade divina que nos concedeu uma extensão territorial de dimensão continental, rica em terras férteis, praias que enchem os olhos do mundo inteiro, água doce em abundância, fauna e flora que não devem nada aos países mais ricos.

Todos os versos e cantos ufanistas de nossa Pátria são verdadeiros e merecem o cultivo da eternidade. Quando Gonçalves Dias declama que “Nossa terra tem palmeiras, onde canta o sabiá...”, pratica um ato de civismo exemplar pelo caminho encantador da poesia. Assim como outros brasileiros exemplares, Gonçalves Dias tentou plantar raízes de civismo e amor à Pátria.

Civismo é a difícil tarefa de amar, em grandeza superior, os valores do País, do Estado e do Município. Uma pessoa acometida do vírus cívico é aquela que consegue romper os muros estreitos e menores de um cotidiano medíocre para se envolver em lutas e projetos que dignifiquem a vida. É fácil, cômodo e comum viver a pobre rotina da casa para o trabalho e de trabalho para casa, intercalada por um tempo livre que nada acrescenta e apenas demonstra que existe gente que passa por este mundo sem nunca ter vivido.

E a grande tragédia contemporânea do Brasil é a crescente alienação de sua população em relação aos valores cívicos que deveriam nortear uma nação civilizada.

Os jovens desapareceram das praças e a política, ciência superior do poder, deixou de ser pensada e discutida nas esquinas, evidenciando uma decadência social e cultural de elevada periculosidade cívica. A história nos ensina que o afastamento da juventude é um sinal de alarme para as nações, exigindo dos patriotas uma providência qualquer diante da falência de nossas instituições.

Por muito menos do que acontece no Brasil atualmente, os paulistas pegaram em armas dia 9 de Julho de 1932. Data máxima do povo paulista, 9 de Julho é a referência de honra e glória que jamais deixaremos desaparecer de nossa história.

Fizemos a maior guerra civil da história do Brasil em busca de uma Constituição para conquistarmos a democracia. Fomos derrotados militarmente, mas vencemos politicamente. Mesmo com a ditadura usando o rádio como propaganda enganosa, vendendo ao Brasil a idéia de que nossa revolução era separatista, liderada pelos italianos e barões do café, conseguimos a Constituição em 1934 e grandes avanços em direção à cidadania, como a conquista do voto feminino, por exemplo.

9 de Julho é o exemplo para sempre. Em 1932 fizemos a maior guerra cívica militar. Hoje, precisamos, EM PAZ, promover esse movimento cívico, partindo de São Paulo, para resgatar a ética, o próprio civismo e a cidadania numa nação destroçada pela corrupção.

O Brasil precisa buscar o exemplo nos tempos atuais da Epopeia de 32, onde o IDEAL DO DIREITO era a única meta daqueles 130 mil homens, mulheres e crianças envolvidos no Movimento Constitucionalista Eles conseguiram, embora derrotados pelas armas, o retorno da Carta Magna do País. A eles nosso preito de gratidão!

Um aplauso veemente a todos aqueles que lutaram pelo BRASIL e aos verdadeiros brasileiros que nos dias atuais veneram os HERÓIS DE 1932, reconhecendo neles o baluarte do nosso Estado de Direito! Nossa veemente repulsa aos pretensos historiadores que falam em separatismo e que deturpam a EPOPEIA DE 1932.
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MARIO FONSECA VENTURA
CORONEL PM
Secretário da Sociedade Veteranos de 32 - MMDC

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Moscou joga duro 'em defesa de interesses'

Frota despachada para as proximidades da Síria, sede da única base russa fora do país, é o que os herdeiros do império soviético têm de melhor hoje


Roberto Godoy - O Estado de S.Paulo
A Rússia joga bruto e não deixa espaço para dúvidas. Está levando para o Mediterrâneo o enorme cruzador Moskva, de 11.490 toneladas, mais um destróier e dois navios de transporte de tropas de assalto. A missão do cruzador, segundo comunicado do governo, "é garantir interesses russos na região".
Os outros três estão formalmente substituindo uma fragata e três embarcações de desembarque que guarneciam, em Tartus, uma base aeronaval mantida pela Rússia na Síria. Segundo analistas europeus, essa instalação está semidesativada. Apenas três, de cinco atracadouros originais podem ser utilizados e as estações eletrônicas foram desmontadas em 2007. A área é grande. A linha de acostamento mede 5 quilômetros, mas, atualmente, recebe só 150 militares.
O cruzador dispõe de um centro de combate que pode fornecer informações precisas sobre a chegada em voo de mísseis de cruzeiro - ou interferir eletronicamente nos seus dispositivos de navegação.
Não é o único movimento militar na área. O governo britânico despachou meia dúzia de caças Typhoon, o avançado e caro Eurofighter, para a base de Chipre. Recheado com avançada eletrônica, o supersônico pode carregar carga de 16,5 toneladas de mísseis, bombas guiadas e torpedos médios.
Os EUA já posicionaram ao menos cinco navios, entre eles um porta aviões nuclear com 40 jatos de ataque. A França, relativamente próxima, ainda não efetuou deslocamentos de recursos. Pode fazer isso com os supersônicos Rafale e grandes jatos de inteligência em oito horas, talvez seis, em alerta máximo.
O novo componente na equação da intervenção militar é a reação russa. A mobilização do cruzador Moskva é um indicador significativo. O navio estava cumprindo um circuito de ensaios conjuntos com forças navais da Venezuela e de Cuba. Foi despachado para o Mediterrâneo e, no caminho, encontrará um destróier da classe Sovremenni de 6,2 mil toneladas especializado na guerra antissubmarino. A força-tarefa terá, ainda, dois Filchencov, que transportam 300 soldados e mais 40 veículos blindados armados.
O grande Moscou foi modernizado entre 2002 e 2005. É um dos líderes da Frota do Mar Negro, um poderoso legado da extinta União Soviética. Mede 186 metros - pouco menos que dois campos de futebol - e é tripulado por 480 homens.
O armamento principal é o míssil antinavio SS.N.12 com alcance na faixa de 500 km. A bordo, há três outros tipos, e um pouco conhecido sistema de defesa antiaérea que seria eficiente no limite de 200 a 300 km.

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,moscou-joga-duro-em-defesa-de-interesses--,1069386,0.htm

domingo, 25 de agosto de 2013

Grupos dos Onze

O grupo dos onze consistia na organização de "grupos de onze companheiros" (como em um time de futebol) ou "comandos nacionalistas" liderados por Leonel Brizola, em fins de novembro de 1963.

Em outubro de 1963, Leonel de Moura Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, considerava que o Brasil estava vivendo momentos decisivos e que, rapidamente, se aproximava o desfecho que poderia colocar o país numa nova linha política.

Sucessivamente, em 19 e 25 de outubro, Brizola fez inflamados pronunciamentos à nação, através dos microfones de uma cadeia de estações de rádio liderada pela Mairink Veiga, que detinha, na época, o maior percentual de ouvintes das classes média e baixa. Nesses pronunciamentos, conclamou o povo a organizar-se em grupos que, unidos, iriam formar o "Exército Popular de Libertação" (EPL). Comparou esses grupos com equipes de futebol e os 11 "jogadores" seriam os "tijolos" para "construir o nosso edifício". Estavam lançados os "Grupos dos Onze" (G-11) que, para Brizola, constituir-se-iam nos núcleos de seu futuro exército, o EPL.

Os G-11 seriam a "vanguarda avançada do Movimento Revolucionário", a exemplo da "Guarda Vermelha da Revolução Socialista de 1917 na União Soviética". Os integrantes dos G-11 deveriam considerar-se em "Revolução Permanente e Ostensiva" e seus ensinamentos deveriam ser colhidos nas "Revoluções Populares", nas "Frentes de Libertação Nacional" e no "folheto cubano" sobre a técnica de guerrilha.
No início de 1964, Brizola lançou seu próprio semanário, "O Panfleto", que veio se integrar à campanha agitativa já desenvolvida pela cadeia da Rádio Mairink Veiga. Em outras ocasiões, distribuiu diversos outros documentos para a organização dos G-11, tais como as "Precauções", os "Deveres dos Membros", os "Deveres dos Dirigentes", um "Código de Segurança" e fichas de inscrição para seus integrantes. Chegou a organizar 5.304 grupos, num total de 58.344 pessoas, distribuídas, particularmente, pelos Estados do Rio Grande do Sul, Guanabara, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo.

Para Brizola, a revolução estava madura, pronta para ser desencadeada. Só faltava algum simples episódio que inflamasse o povo e que fizesse proliferar os Grupos dos Onze, provocando o surgimento do "Exército Popular de Libertação".

A citação do Gr-11, possivelmente nos arquivos da ditadura, foi tornado público através do site da jornalista Mariza Tavares, abaixo transcrita:
No fim de 1963, em meio à crescente radicalização do ambiente político do governo de João Goulart, Leonel Brizola era a liderança que unificara as esquerdas na Frente de Mobilização Popular. Entrincheirado na Rádio Mayrink Veiga, onde discursava todas as noites, ele pregava a criação dos Grupos de Onze Companheiros, compostos por cidadãos que marchariam unidos quando a esquerda tomasse o poder. A CBN teve acesso a documentos daquela época – que estavam em poder dos militares – que detalham como Brizola idealizou os Grupos de Onze: uma militância que pretendia utilizar mulheres e crianças como escudos civis; realizar ataques a centrais telefônicas, de rádio e TV; e previa a execução de prisioneiros.
"Este é o documento a que me referi. O Exército não sabe que este dossiê ainda existe, porque foi dada uma ordem para que fosse destruído." Este era o texto do curto bilhete que acompanhava o pacote que recebi pelo correio, enviado por uma ouvinte fiel da CBN. Dentro, um calhamaço de 64 páginas já amareladas, no qual chamava atenção o carimbo no alto, em letras garrafais: SECRETO. A ditadura militar brasileira incinerou regularmente documentos sigilosos. Este dossiê estava em poder de um militar que preferiu desobedecer à ordem e decidiu guardar os papéis em casa.
Datado de 30 de setembro de 1964 e assinado pelo general-de-brigada Itiberê Gouvêa do Amaral, o documento ostenta a classificação A-1, que até hoje é utilizada pela área militar e que significa que é de total confiança. A classificação varia de A a F para a confiabilidade da fonte; e de 1 a 6 para a confiabilidade do conteúdo.

No tom formal e meticuloso típico dos relatórios dos serviços de inteligência, o texto de abertura, a circular de número 79-E2/64, anunciava que havia sido identificada a criação de diversas células dos chamados "Grupo de onze companheiros" no interior do Paraná e de Santa Catarina.
"Os grupos constituíam a célula de um grande contingente, no qual seriam arregimentados homens das mais variadas categorias e profissões para servirem de instrumento a um pseudolíder, Leonel Brizola, em sua política de subversão do regime e implantação de um Governo de tendências antidemocráticas", explicava o documento.

Os militares já haviam deposto o presidente João Goulart e tomado o poder naquele ano; e a circular festejava a ação ao afirmar, categoricamente, que, "com o advento da revolução de 31 de março, foi cortado o processo ainda na fase inicial". No entanto, o documento assinalava: "Há indícios de que, no futuro, possa ser novamente equacionada a reestruturação dos grupos." Leonel Brizola já se encontrava no exílio no Uruguai desde maio daquele ano, mas a circular assinalava que havia informes de contatos entre "antigos elementos" que integravam esses grupos. Daí a necessidade de mobilização de oficiais para mapear qualquer atividade suspeita.

Jorge Ferreira: "Houve quem se inscrevesse apenas porque gostava de Brizola. Teve gente que pôs até o nome de filhos pequenos nas fichas de inscrição."

Os chamados Grupos de Onze Companheiros – simplificadamente, Grupos de Onze ou Gr-11 – e também conhecidos como Comandos Nacionalistas foram concebidos por Brizola no fim de 1963. Tomando por base a formação de um time de futebol, imagem de fácil assimilação e apelo popular, Brizola pregava a organização de pequenas células – cada uma composta de onze cidadãos, em todo o território nacional – que poderiam ser mobilizadas sob seu comando.

Jorge Ferreira, professor-titular de História da UFF (Universidade Federal Fluminense), doutor em História Social pela USP (Universidade de São Paulo) e autor do livro "O imaginário trabalhista", explica que um dos poucos documentos disponíveis sobre o Grupo de Onze é o modelo de ata de adesão. "Há poucos estudos sobre este movimento e praticamente não há documentação a respeito. As atas, com os dados dos participantes, eram enviadas para a Rádio Mayrink Veiga e depois ficaram em poder da repressão.
Como os Grupos de Onze foram criados no fim de 1963, o clima de radicalização já se generalizara. A imprensa também supervalorizava sua capacidade de ação, mas a verdade é que houve quem se inscrevesse apenas porque gostava de Brizola e nunca teve participação efetiva. No Sul, muitos achavam que iam ganhar terra, sementes. Teve gente que pôs até o nome de filhos pequenos nas fichas de inscrição."
O dossiê a que a CBN teve acesso disseca o manual de ação desses militantes e foi criado quando Brizola, eleito deputado federal pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) com 300 mil votos – até então, o mais votado da antiga Guanabara – ocupou quase que diariamente o microfone da Rádio Mayrink Veiga entre 1962 e 1963. A tradicional emissora do antigo Distrito Federal, existente desde 1926, funcionava como palanque para Brizola, que ali destilava inflamados discursos pela aprovação das reformas de base – pilar do governo João Goulart e que compreendiam da reforma fiscal à agrária, com a desapropriação de terras de grandes proprietários rurais. E garantia que elas seriam aprovadas, "na lei ou na marra".

A Mayrink Veiga estava tão identificada com o projeto político brizolista que uma cópia do documento assinado pelos integrantes de cada recém-criado Gr-11 deveria ser enviada para a emissora. A militância da Mayrink Veiga provocou uma reação dos empresários de comunicação Roberto Marinho (Rádio Globo), Manoel Francisco Nascimento Brito (Rádio Jornal do Brasil) e João Calmon (Rádio Tupi): a criação da Rede da Democracia, uma cadeia radiofônica para combater a política do presidente Jango. Também selou sua sorte: a emissora foi fechada pelo presidente militar Castelo Branco um ano depois da queda de João Goulart.

O documento é composto de anexos que detalham o modus operandi dos Grupos de Onze. O primeiro deles tem cinco páginas dedicadas aos "companheiros nacionalistas", numa espécie de cartilha para a promoção e organização de um comando nacionalista. Na abertura, uma afirmação categórica de vitória: "A ideia de organização do povo em Comandos Nacionalistas (CN) ou em Grupos de Onze (Gr-11) está amplamente vitoriosa. Milhões e milhões de patriotas integram os Comandos Nacionalistas formados em todo o território pátrio: a palavra de ordem, organizados venceremos, penetrou na consciência de todos os nacionalistas brasileiros."

Para organizar um Gr-11, a primeira providência era a leitura e o estudo das instruções, "quantas vezes forem necessárias até uma segura compreensão dos fins e objetivos da organização." A etapa seguinte era "procurar os companheiros com os quais têm convivência e ligações de confiança". Vizinhos ou colegas de trabalho eram os mais indicados, e sempre em grupos reduzidos, de três ou quatro pessoas. Diante de receptividade para a ideia de organizar um Gr-11, "tal decisão significará um verdadeiro pacto de solidariedade e confiança entre os companheiros."

O objetivo era reunir 11 pessoas, mas as instruções reconhecem que arregimentar este contingente poderia ser um pouco difícil e estabelece que, com sete integrantes, a célula de militantes poderia começar a atuar. Ao alcançar este quorum mínimo, o grupo é fundado oficialmente e, depois da leitura do manual e do "exame da situação política e da crise econômica e social que estamos atravessando", é escolhido o dirigente do Gr-11; seu assistente – e eventual substituto – e o secretário-tesoureiro. "Tomadas estas decisões", prosseguem as instruções, "proceder à leitura solene, com todos os onze companheiros de pé, do texto da ata e da carta-testamento do presidente Getúlio Vargas." Os integrantes devem assinar seus nomes logo abaixo da assinatura de Vargas e do seguinte texto: "O presidente Vargas sacrificou sua vida por nós. Nosso sacrifício não conhecerá limites para que o nosso povo, de que ele foi escravo, conquiste definitivamente sua libertação econômica e social." Entenda-se que a "libertação" passava por reforma agrária e fim da espoliação internacional.

A primeira reunião formal do grupo tinha objetivo bem burocrático: montar a estrutura do Gr-11. As funções estão bem detalhadas e cada integrante tem um papel específico (esta é a transcrição da descrição das tarefas):
Líder, dirigente ou comandante: representa, orienta e coordena as atividades do grupo, de acordo com as instruções partidárias e os objetivos da organização. Está previsto que seu mandato será a duração de um ano;

Assistente: prestar colaboração direta ao dirigente ou comandante do grupo, substituindo-o em seus impedimentos;

Secretário-tesoureiro: responsável pela gestão dos recursos financeiros e guarda de papéis e documentos (líder, assistente e secretário-tesoureiro formam a comissão executiva do Gr-11);
Comunicações: dois integrantes ficam encarregados das comunicações, que englobam a troca de informações entre os elementos do Gr-11, inclusive no caso de ser preciso avisar aos companheiros sobre a necessidade de esconderijo ou fuga;
Rádio-escuta: acompanhamento pelo rádio dos acontecimentos nacionais e locais;
Transporte: coordenação das possibilidades de transportes para os membros do grupo no caso de atos e concentrações públicas;
Propaganda: responsável por faixas, boletins, pichamentos, notícias para a imprensa;
Mobilização popular: contatos e ligações com o ambiente local, visando a formar um círculo de relações e colaboração em torno do grupo, principalmente para garantir o comparecimento em comícios ou outros atos públicos;
Informações: atribuição de fazer contatos e o levantamento de informações sobre a situação política e social, além de outros problemas que interessem o grupo. Também fica responsável pela organização partidária local;
Assistência médico-social: o companheiro deve ser, se possível, médico, enfermeiro ou assistente social, "ou no mínimo com alguma noção ou treinamento para prestar assistência ou orientação a todas as pessoas necessitadas no ambiente onde atuar o Comando Nacionalista (por exemplo, aplicar injeção, conseguir medicamentos, curativos de emergência)".

A proposta era criar sucessivos grupos de 11 integrantes até atingir 11 células com estas características, quando, como relata o documento, "seus onze líderes formarão um Gr-11-2, isto é, um grupo de onze de 2º. nível, reunindo um total de 121 companheiros."

Esta seria a matriz de multiplicação dos comandos nacionalistas: os 11 líderes escolheriam, entre si, um comandante de segundo nível, cuja responsabilidade seria a coordenação dos onze grupos; e os outros dez companheiros deste Gr-11-2 dariam apoio ao novo chefe. Mas nada de parar por aí, porque cada nova célula deveria perseguir sua clonagem ao infinito: "se num município, numa cidade, área ou bairro, se organizarem onze grupos de onze, portanto um Gr-11-2 e depois onze grupos de 2º. nível, teremos um total de 1.331 companheiros na organização, os quais serão orientados e dirigidos por um Gr-11-3, ou seja, um grupo de onze de 3º. nível, integrado pelos onze líderes dos grupos de 2º. nível."
As "recomendações gerais" sugerem que os Gr-11 deveriam ser integrados inicialmente por companheiros de "maior capacidade de direção e liderança". Os demais grupos seriam compostos por militantes de capacidade "aproximada ou igual". O documento frisa que o movimento recebe, de braços abertos, gente de todas as procedências: "No mesmo Gr-11 poderão estar um trabalhador da mais modesta atividade, ao lado de um médico; um trabalhador ou técnico especializado, um estudante, um agricultor, um intelectual, um motorista, ao lado de um camponês, um militar."

O contato com a liderança nacional era de responsabilidade de um delegado de ligação (DL); enquanto não chegavam novas instruções, cabia ao Gr-11 realizar reuniões para estreitar os laços entre seus militantes e analisar a conjuntura, além de buscar adesões em sua área de atuação. "Os companheiros devem estimular, particularmente, a formação de Gr-11 entre a mocidade e estudantes. É da maior significação esse ponto das presentes instruções. A nossa causa depende fundamentalmente do apoio e da integração dos jovens e das classes trabalhadoras."

Embora não fizesse restrições a analfabetos, a arquitetura dos Gr-11 praticamente ignorava uma militância integral das mulheres: "As companheiras integrantes do Movimento Feminino ou simpatizantes devem formar seus próprios Gr-11. Oportunamente serão enviadas instruções especiais sobre a estrutura desses grupos de companheiras."

O chamado Anexo C é composto de documentos de Leonel Brizola com o sugestivo título de "Subsídios para a Organização dos Comandos de Libertação Nacional". Tem oito seções, todas subdivididas num minucioso roteiro para a militância. E começa pelo nome a ser dado ao grupo. No capítulo "Denominação", há cinco sugestões, por ordem preferencial: Comandos de Libertação Nacional (Colina); Comando Revolucionário de Libertação Nacional (Corlin); Comando Revolucionário dos Onze (Cron); Comando de Libertação Brasileira (Colb); e Comando dos Onze Revolucionários (Core).

O capítulo seguinte é o da "Justificativa": "A palavra revolucionária, como é sabido, exerce poderosa atração nas pessoas entre 17 e 25 anos – fator que servirá à etapa de arregimentação". O documento aposta na força de atração do termo: "A sigla onde aparece a ideia de revolução pode, com maiores possibilidades, ser difundida com certo mistério e mística de clandestinidade, complementada por instruções secretas, senhas, códigos, símbolos etc...", diz o texto que exibe rudimentos de técnica de marketing e motivação.
Vitor Borges: "Os militares queriam saber como pretendíamos envenenar o reservatório de água e perguntavam onde estavam os sacos de veneno."

O gaúcho Vitor Borges de Melo, natural de Alegrete, cidade que fica a cerca de 500 quilômetros de Porto Alegre, é um bom exemplo de arregimentação de jovens que queriam um pouco de ação. "Eu e meus companheiros éramos simpatizantes de Brizola desde a Cadeia da Legalidade, em 1961. Eu já tinha me apresentado como voluntário nesta época. Depois passei a acompanhar os discursos na Rádio Mayrink Veiga e decidi entrar para o Grupo de Onze. Todos usavam nomes de guerra e o meu era Tavares." Aos 63 anos, embora seja citado como ex-integrante do Gr-11, Vitor na verdade só se lembra de ter participado de uma reunião. Mesmo assim ficou preso, incomunicável, por 31 dias. "Os militares queriam saber como pretendíamos envenenar o reservatório de água de Alegrete e perguntavam onde estavam os sacos de veneno. Não sei de onde tiraram isso, como é que faríamos uma coisa dessas?", lembra Vitor, hoje aposentado, filiado ao PTB e beneficiado, pela Lei da Anistia, com uma indenização de R$ 12 mil. Provavelmente, por só ter ido a uma reunião, Vitor não foi "iniciado" em todas as propostas de ação do movimento.

No dossiê, a delimitação de áreas de ação é meticulosa e pretende cobrir todo o território nacional. Do contingente inicial de 11 membros, a proposta é multiplicá-los de forma que um distrito tenha 11 unidades de 11 membros, contabilizando 121 almas. A província terá 22 distritos, ou 2.662 membros; e a região será composta por 11 ou mais províncias, com 29.282 membros. O documento divide o país em sete regiões, mas exclui a Região Norte, provavelmente por problemas de logística:
1ª. Região: Guanabara, Rio de Janeiro e Espírito Santo;
2ª. Região: Bahia e Sergipe;
3ª. Região: Minas Gerais;
4ª. Região: São Paulo e Paraná;
5ª. Região: Santa Catarina e Rio Grande do Sul;
6ª. Região: Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte;
7ª. Região: Ceará, Piauí, Maranhão e Fernando de Noronha.
A estrutura administrativa nacional também previa um organograma que contava com um comandante supremo (CS); dois inspetores regionais (IN); e oito conselheiros regionais (CR), uma elite de burocratas encarregados de escolher, nomear ou destituir as camadas inferiores de militantes. Mas, abaixo deles, também havia espaço para muita gente se acomodar.
O desenho da burocracia interna do poder é rico em categorias e deixaria qualquer analista de RH impressionado com o número de cargos. Sob a estrutura nacional, há estruturas administrativas regionais, provinciais e distritais, com direito a chefias, secretarias-executivas, assessorias e monitorias. Ao todo, são listados 32 cargos de alguma relevância – uma longa carreira que se descortinava para os aspirantes à militância.
Especialmente suculento é o capítulo sobre instruções gerais aos companheiros que quisessem organizar um Gr-11. Uma das principais preocupações diz respeito à seleção de indivíduos: "Procure conhecer bem as ideias políticas de cada uma das pessoas que você pretende convidar", ensina a cartilha, batendo na tecla da prudência: "Convide a pessoa para uma conversa reservada. Peça sigilo sobre o assunto. Procure certificar-se de que ela manteve sigilo. Mande alguém, seu conhecido, testá-la nesse pormenor."
A paranóia pela segurança se estende aos deveres dos dirigentes. Entre os dez itens listados, cinco dizem respeito ao controle da informação e dos membros do grupo: "manter severa vigilância em sua jurisdição para evitar infiltrações de inimigos entre os seus comandados"; "alternar, sempre, os locais de reuniões de seu grupo, fazendo as convocações sempre em código ou através de senhas"; "manter sob rigoroso controle os arquivos secretos e os dados sigilosos sobre a organização e seus membros"; "não discutir assuntos referentes aos planos dos Comandos de Libertação Nacional exceto com as pessoas autorizadas"; "procurar organizar em sua jurisdição um esquema de rápida mobilização popular para enfrentar golpistas, reacionários e grupos antipovo."
O código de segurança detalha os cuidados a serem adotados e a ordem é clara: desconfiar o tempo todo. Por isso o telefone fica banido na transmissão de mensagens. O militante também deve anotar tudo o que ouvir sobre a organização, especialmente quando partir de um "reacionário": "até as piadas têm sua importância. Não as despreze."
Os comandantes são instruídos a buscar subordinados para os Grupos de Onze que sejam "os autênticos e verdadeiros revolucionários, os destemerosos da própria morte."
Os comandantes regionais, devido à sua importância na estrutura do movimento, recebem instruções secretas que só devem ser compartilhadas com os companheiros do Grupo de Onze "com as devidas cautelas e ressalvas". O filé mignon da pregação revolucionária brizolista se encontra no Anexo D, cuja abertura tem o pomposo título "Preâmbulo Ultra-secreto" e determina que "só os fortes e intemeratos podem intentar a salvação do Brasil das garras do capitalismo internacional e de seus aliados internos. Quem for fraco ainda terá tempo de recuar ante a responsabilidade que terá que assumir com o conhecimento pleno destas instruções."
Os comandantes são instruídos a buscar subordinados para os Grupos de Onze que sejam "os autênticos e verdadeiros revolucionários, os destemerosos da própria morte, os que colocam a Pátria e nossos ideais acima de tudo e de todos." E a recomendação seguinte é evitar arregimentar parentes ou amigos íntimos.
Findo o preâmbulo, as instruções secretas têm dez seções. A primeira, sobre os objetivos, volta a pregar a importância do Gr-11 como a "vanguarda avançada" do movimento e compara esta célula à Guarda Vermelha da Revolução Socialista de 1917. Por ser revolucionária, ela não precisa prestar contas dos seus atos: "Não nos poderemos deter à procura de justificativas acadêmicas para atos que possam vir a ser considerados, pela reação e pelos companheiros sentimentalistas, agressivos demais ou até mesmo injustificados." Sem sombra de dúvida, os fins justificam os meios.
O quesito seguinte, que tem o título genérico de "Observações", descreve o que seria uma espécie de estado de espírito permanente dos participantes: "Os Grupos dos Onze Companheiros, como vanguardeiros da libertação nacional, terão que se preparar devidamente (...) devendo considerar-se, desde já, em REVOLUÇÃO PERMANENTE e OSTENSIVA." A revolução cubana vitoriosa de Fidel Castro é a principal referência: "A condição de militantes dos gloriosos Gr-11 traz consigo enormes responsabilidades e, por isso, embora para formação inicial de nossas unidades não seja condição sine qua o conhecimento da técnica propriamente militar, torna-se absolutamente necessário o da técnica de guerrilhas e a leitura, entre outras importantes publicações, do folheto cubano a respeito daquele mister."
No terceiro capítulo, sobre a ação preliminar, os companheiros são instados a tentar conseguir o quanto antes armamentos para o "Momento Supremo". E a lista contempla desde espingardas a pistolas e metralhadoras. Com um lembrete: "Não esquecer os preciosos coquetéis Molotov e outros tipos de bombas incendiárias, até mesmo estopa e panos embebidos em óleo ou gasolina." A instrução reconhece a escassez de armas no movimento, mas conta com aliados militares (segundo o documento, "que possuímos em toda as Forças Armadas") e garante ter o apoio da população rural. "Os camponeses virão destruindo e queimando as plantações, engenhos, celeiros e armazéns."
O descolamento entre propostas e realidade é flagrante, mas não diminui o grau de virulência da ação que, pelo menos em tese, seria desencadeada pelos Grupos de Onze. Juarez Santos Alves, de 61 anos, é contemporâneo e até hoje amigo de Vitor Borges de Melo. O pai, dono de farmácia, e o tio, militar, eram militantes do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e foram sua inspiração. No entanto, no que diz respeito à sua passagem pelo Grupo de Onze, a monotonia imperava. "Considero mais um grupo poético, porque nunca demos um passo além das reuniões. Falava-se em tomar o quartel, mas como é que iríamos resistir se no máximo tínhamos armas pessoais ou de caça?", rememora Juarez, que depois ingressou na Vanguarda Popular Revolucionária. Preso e torturado, foi beneficiado com uma indenização de R$ 100 mil.
A cartilha de ação inclui escudos humanos, saques e incêndios de edifícios públicos e empresas particulares, além da difusão de notícias falsas.
Em centros urbanos, a tática adotada será assumidamente a de guerra suja, com a utilização de escudos civis, principalmente mulheres e crianças. "Nas cidades, os companheiros (...) incitarão a opinião pública com gritos e frases patrióticas, procurando levantar a bandeira das mais sentidas reivindicações populares, devendo, para a vitória desta tática, atrair o maior número de mulheres e crianças para a frente da massa popular." Agitação é a palavra de ordem, com direito a depredação de estabelecimentos comerciais, saques e incêndios de edifícios públicos e de empresas particulares. Também estão incluídos ataques a centrais telefônicas, emissoras de rádio e TV. O objetivo? "Com as autoridades policiais e militares totalmente desorientadas, estaremos, nesse momento, a um passo da tomada efetiva do Poder-Nação."
Sobre a tática geral da guerrilha nacional, tema do item quatro, a ênfase recai na guerra de informação. Depois de a autodenominada ação revolucionária ter provocado o caos, o passo seguinte seria cortar a comunicação entre as cidades e divulgar apenas o que interessasse ao movimento. "Difundindo-se notícias falsas, tendenciosas e inteiramente favoráveis aos nossos Gr-11 e aos nossos planos, com interceptação de comunicações telefônicas isolamento das cidades e de seus meios de comunicação."
Em "O porquê da revolução nacional libertadora", a explicação de cartilha revolucionária: a exploração do capital monopolista estrangeiro, principalmente americano; e a estrutura agrária baseada na concentração latifundiária. No capítulo sobre "o aliado comunista", não resta dúvida de que Brizola não via o Partido Comunista Brasileiro (PCB) com a menor simpatia. "Devemos ter sempre presente que o comunista é nosso principal aliado mas, embora alardeie o Partido Comunista ter forças para fazer a Revolução Libertadora, o PCB nada mais é que um movimento dividido em várias frentes internas em luta aberta entre si pelo poder absoluto e pela vitória de uma das facções em que se fragmentou." E continua, aumentando o tom da crítica: "São fracos e aburguesados esses camaradas chefiados pelos que veem, em Moscou, o único sol que poderá guiar o proletariado mundial à libertação internacional. Fogem à luta como fogem à realidade e não perderão nada se a situação nacional perdurar por muitos anos ainda."
"No caso de derrota do nosso movimento, os reféns deverão ser sumária e imediatamente fuzilados."
O trecho mais chocante das instruções secretas aos comandantes diz respeito à guarda e ao julgamento dos prisioneiros. Para esta tarefa, a orientação é clara: "Deverão ser escolhidos companheiros de condições humildes mas, entretanto, de férreas e arraigadas condições de ódio aos poderosos e aos ricos". Além da prisão, está previsto o julgamento sumário de oponentes ao movimento, onde se incluem autoridades públicas, políticos e personalidades. "No caso de derrota do nosso movimento, o que é improvável, mas não impossível (...) e esta é uma informação para uso somente de alguns companheiros de absoluta e máxima confiança, os reféns deverão ser sumária e imediatamente fuzilados, a fim de que não denunciem seus aprisionadores e não lutem, posteriormente, para sua condenação e destruição."
Para o professor Jorge Ferreira, entre 1961 e 1964 houve uma profunda mudança nos interesses que alimentavam a correlação de forças entre militares, partidos políticos e sociedade. "Em agosto de 1961", diz ele, "quando Jânio Quadros renuncia, os militares deram um golpe que foi rechaçado pelo Congresso, pelos partidos e pelas entidades civis. Os grupos progressistas e legalistas venceram.
A sociedade brasileira não queria romper com o processo democrático." O período parlamentarista manteve o equilíbrio, ainda que precário, entre essas correntes. Jango sabia que precisava de maioria no Congresso ou não governaria, mas o plebiscito que lhe devolveu o presidencialismo acabou dando outro rumo aos acontecimentos, como afirma Ferreira: "a Frente de Mobilização Popular, encabeçada por Brizola, havia unificado praticamente todas as esquerdas, englobando o Comando Geral dos Trabalhadores, Ligas Camponesas, UNE, Ação Popular, a esquerda do Partido Socialista Brasileiro, a esquerda mais radical do PCB, os movimentos de sargentos e marinheiros. E a exigência dessas esquerdas era o rompimento com o PSD (Partido Social Democrático), a convocação de Assembleia Nacional Constituinte e o questionamento das instituições liberais vigentes. É quando se estabelece o confronto."
Desta vez, o estado de direito não venceu.
Mariza Tavares, Jornalista, é Diretora de Jornalismo do Sistema Globo de Rádio e da CBN – de cujo site foi extraído este texto.

Notícias de Jornal Velho: das frentes comunistas a Antonio Gramsci

Escrito por Carlos Azambuja | 29 Setembro 2004
A subversão é uma meta para os comunistas de todo mundo. Isso não é nenhuma novidade. É um dever de todo membro do partido destruir a estabilidade dos governos, semear dúvidas acerca da ordem social e lograr adeptos para o marxismo, atuando dentro dos marcos constitucionais ou usando a violência caso necessário, com o objetivo de acelerar o advento da revolução.
Entre muitos liberais do Ocidente, observa-se uma resistência em aceitar essas realidades que podem chegar a recordar os piores momentos da Guerra-Fria. Essa relutância em aceitar os fatos em toda a sua realidade é, na verdade, um símbolo da eficiência e persistência do aparato propagandístico comunista e também produto natural das pessoas comuns e bem intencionadas de todo o mundo de viverem em paz. Essas pessoas acreditam que tudo isso acabou e que hoje em dia os partidos comunistas já não recebem ordens de Moscou, Pequim ou Havana. Afinal, o socialismo real não foi desmantelado? A União Soviética não acabou? O ouro de Moscou não cessou de fluir para Cuba e para os partidos comunistas de todo o mundo? 
É evidente que a subversão comunista já não mais pode convocar os operários franceses a uma greve, bem como ordenar aos comunistas indonésios um levantamento armado, como nos tempos de Stalin. Porém, pelo menos nos tempos de Stalin, havia uma clareza absoluta acerca das atividades do movimento comunista internacional. Os países podiam saber exatamente de onde provinham as ordens e o dinheiro. Hoje em dia essa ameaça é difusa, ambígua, difícil de identificar, pois provém de distintas direções, tornando-se uma ameaça muito mais complexa.
Quando Lênin criou o Komintern, em 1919, um dos seus principais objetivos foi o fortalecimento da revolução em todo o mundo, objetivando lograr o colapso do capitalismo.
Um outro instrumento foi a formação de uma rede de organizações de frente, que Lênin concebia como correias de transmissão do partido para com as massas. Frentes Únicas, Frentes Populares, Frentes de Libertação Nacional e Frentes Nacionais. Estas últimas são uma aliança dos partidos comunistas com outros partidos, não comunistas, que serão descartados tão logo cumpridos os objetivos dos comunistas. Esse tipo de Frentes está nas origens do próprio comunismo soviético. Em novembro de 1917, o Partido Bolchevique se associou ao Partido Social Revolucionário e, nas eleições de 25 de novembro, os bolcheviques, já no Poder, obtiveram apenas 175 deputados na Assembléia Nacional Constituinte, composta por um total de 707. Essa Constituinte, como se sabe, foi dissolvida em seu primeiro dia de reunião e algum tempo depois os social-revolucionários foram expulsos do governo.
Na década de 30, os comunistas franceses e espanhóis formaram também Frentes Populares com os partidos socialistas com o objetivo de obterem maior poder. Essa mesma técnica foi utilizada por Mao-Tsetung durante a guerra civil chinesa e, na Europa Oriental, após a II Guerra, os comunistas locais, com a inspiração e a proteção soviética, estabeleceram várias Frentes Nacionais Tudo isso, para os incautos, constitui uma armadilha mortal.
Em março de 1926, em uma reunião do Comitê Executivo do Komintern, o veterano comunista finlandês Otto Kusinen propôs a criação de “um complexo sistema solar de organizações e pequenos comitês girando ao redor dos partidos comunistas, trabalhando sob sua influência”.
Muitas dessas Frentes foram estabelecidas nas décadas de 1920 e 1930, mas foi a partir de 1945 que os soviéticos criaram um espectro completo de organizações de frente. A maioria delas existe até hoje, malgrado o socialismo realmente existente tenha sido desmantelado.
No início, muitos indivíduos e grupos de não comunistas se uniram a esses corpos internacionais, acreditando que eram apolíticos, até que em 1949, já sob o controle total dos soviéticos, muitos membros originais afastaram-se face à virulência de sua propaganda contra o Ocidente, o que se tornou contraproducente para os próprios interesses soviéticos. Porém, os comunistas jamais desistiram de recrutar novas gerações de inocentes úteis para manter e aumentar essas Frentes.
As Organizações de Frente mais influentes foram o Conselho Mundial da Paz (em virtude da palavra mágica que figura em seu título), a Confederação Internacional de Sindicatos Livres, a Organização Internacional de Jornalistas, a Federação Democrática Internacional de Mulheres, ora com sede em Havana e presidida por uma militante do Movimento Revolucionário Oito de Outubro, a Federação Mundial da Juventude Democrática, a União Internacional de Estudantes, Federação Sindical Mundial e várias outras.
Posteriormente, nos tempos dos chamados “anos de chumbo”, para não ficar marginalizada da vanguarda da revolução internacional, a União Soviética viu-se na necessidade de dar apoio, ainda que velado, em dinheiro, cursos e assessoria aos movimentos dedicados à violência revolucionária na África e América Latina, embora, por outro lado, sempre apoiassem os partidos comunistas ortodoxos, contrários à luta armada, tornando sua política ambígua e confusa, especialmente na América Latina. Ou seja, foram utilizadas todas as formas de luta.
Atualmente está na ordem do dia na América Latina a teoria engendrada nos anos 20 pelo comunista italiano Antonio Gramsci, que objetiva fundamentalmente privar a classe dominante da direção da sociedade civil antes de atacar o poder do Estado, estratégia que exige a constante infiltração e subversão nos múltiplos e complexos mecanismos de dominação ideológica, a fim de provocar a erosão do domínio ideológico burguês, sua substituição por uma contra-hegemonia marxista e a adesão do espírito popular aos novos princípios, pois, sem essa prévia revolução do espírito toda e qualquer vitória comunista seria efêmera.
O objetivo da revolu ção gramscista é o de conquistar, um após outro, todos os instrumentos de difusão ideológica – escolas, universidades, editoras, meios de comunicação social e sindicatos – uma vez que os principais confrontos ideológicos não mais têm como cenário as fábricas, as ruas ou os quartéis e sim, a esfera cultural.
Todavia, a flexibilidade não equivale ao revisionismo. A transformação socialista não é um pic-nic e nenhum assunto cavalheiresco levado adiante com uma preocupação meticulosa pelos princípios do liberalismo. A teoria de Gramsci não exclui a violência, pois a guerra de movimento – assalto ao Estado burguês pela violência – constitui um suplemento crucial para a guerra de posições – infiltração permanente na sociedade civil e no aparato ideológico do Estado -.
Em tudo isso, o que leva alguns a considerar Gramsci – que nunca deixou de ser um ferrenho leninista - uma espécie de social-democrata, não foi a presumível mudança de suas idéias para a direita, mas o fato da política do Komintern, sob Stalin, ter descambado fortemente para a esquerda.
Os que procuram atenuar o choque dialético entre capitalismo e socialismo argumentam que o “lado bom” de todo momento histórico deve ser preservado na antítese dialética. Gramsci, no entanto, explicita que essa posição implica em negar a força da negatividade, espinha dorsal da dialética e da História, pois na realidade histórica, cada antítese deve, necessariamente, colocar-se como antagonista radical da tese, destruí-la e substituí-la por completo, pois o autêntico pensamento dialético considera a antítese como a negação total da tese, que é demolida e não simplesmente modificada, dando lugar a uma nova tese.
O proletariado é a antítese, a força inovadora, e a nova tese, daí resultante, o socialismo.
“A dialética significa o negativo, o antigo e o novo, a negação da negação, a identidade dos contrários e a contradição dos idênticos. A inesgotável e miraculosa capacidade da história de ultrapassar-se negando sua positividade e afirmando sua negatividade. Isso não é sublime?” (livro “A Montanha Branca”, de Jorge Semprun, que foi membro dirigente do Partido Comunista Espanhol, esteve preso no campo de concentração de Buchenwald e em 1964 foi expulso do partido, por ter decidido, segundo ele próprio escreveu, “começar a pensar com a própria cabeça e escorregar para a realidade”).

FONTE >> MIDIA SEM MÁSCARA

sábado, 10 de agosto de 2013

Rússia e Ossétia do Sul celebram os cinco anos do movimento da independência ossétia

As igrejas de Moscou celebraram nesta quinta-feira, 8, diversos atos solenes em homenagem às vítimas dos conflitos que envolveram Rússia, Geórgia e Ossétia do Sul em agosto de 2008. As principais solenidades aconteceram no templo maior da Igreja Ortodoxa na capital russa, a Catedral do Cristo Salvador. Segundo o Arcipreste Mikhail Ryazantsev, o serviço religioso na Catedral foi encomendado pela Embaixada da Ossétia do Sul em Moscou.
Outra igreja, a da Natividade da Virgem Maria Abençoada, também registrou um grande número de fiéis durante as missas, pois é este o templo frequentado pela comunidade ossétia da capital russa.
Durante todo o dia, a Embaixada da Ossétia do Sul manteve as portas abertas para que os visitantes pudessem registrar presença no Livro de Condolências.
Os conflitos envolvendo os três países se acentuaram na madrugada de 8 de agosto de 2008, quando tropas da Geórgia invadiram a Ossétia do Sul após a proclamação da independência ossétia. Solidária, a Rússia saiu em defesa daquela república do Cáucaso, e em 26 de agosto reconheceu a sua emancipação do território georgiano.
Esta semana, em Tskhinval, capital da Ossétia do Sul, o Presidente Leonid Tibilovesteve à frente de todas as solenidades, e mais uma vez agradeceu à Rússia por ter evitado o que chamou de massacre do povo ossétio pelas forças georgianas.
Já o primeiro-ministro da Rússia, Dmitri Medvedev, que em 2008 estava no seu primeiro ano como presidente da Federação Russa, concedeu entrevista à emissora de TV da Geórgia, Rustavi 2, afirmando que não se arrepende da sua decisão de ter ordenado o enfrentamento militar para proteger a população da Ossétia do Sul contra as forças georgianas. Para Medvedev, não há razão alguma para que a sua atitude seja revista ou questionada.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Globalização gera separatismo

Globalização gera separatismo

Nas eleições parlamentares da região autônoma espanhola da Catalunha ganharam os separatistas. A coalizão Convergência e União, considerada nacionalista, conseguiu mais de 30 por cento dos votos.

O crescimento das tendências separatistas é provocado pela globalização, por mais paradoxal que pareça, acreditam alguns especialistas. A globalização não é uma palavra retórica, disse em entrevista à Voz da Rússia o vice-diretor do Departamento de Política Mundial da Universidade Estatal de Moscou, Andrei Sidorov.
"Se, antigamente, as pessoas só podiam existir no espaço dos Estados nacionais, que as protegiam e abasteciam, no momento presente, devido a vários fatores e, acima de tudo, devido ao fator econômico, uma comunidade até mesmo muito pequena que tenha relações com um centro de crescimento econômico, mesmo fora das fronteiras nacionais, pode existir calmamente. Portanto, se levarmos a sério esta tendência, que é consequência da globalização, estamos perantre uma questão muito séria que pode levar à mudança total do mapa político do mundo."
Na conferência de imprensa, durante a cúpula Ibero-Americana em Cádiz (Espanha), os jornalistas perguntaram ao presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso: "Um território que se separa de um Estado-Membro da UE vai precisar de começar "do zero" todos os procedimentos de adesão à União Europeia?" O correspondente da Voz da Rússia gravou a resposta do líder europeu:
"A situação jurídica desde 2004 não mudou, porque no texto do Tratado de Lisboa não foram feitas nenhumas alterações.Portanto posso afirmar com a certeza absoluta que a posição da Comissão Europeia sobre esta questão permanece inalterada."

http://portuguese.ruvr.ru/2012_11_26/sede-mundial-pela-soberania/

Zoran Andelkovic: os EUA têm interesse em apoiar separatismo nos Bálcãs

Num encontro com Zoran Andelkovic em maio de 2005 quando ele acumulava os cargos de vice-presidente do parlamento da Sérvia e de secretário geral do Partido Socialista, abordamos o tema da união estatal entre a Sérvia e o Monte Negro, sem deixar à margem a situação no Kosovo.

– Que perspectivas terá a atual União da Sérvia e do Monte Negro e como irão evoluir as relações entre Belgrado e Podgorica?
 Foi Xavier Solana que inspirou o processo de reunificação da Sérvia e do Monte Negro. Em 1999, ele ocupava o posto de secretário-geral da OTAN e iniciou a guerra contra a Iugoslávia. O atual chefe do governo, Milo Ducanovic, sempre quis ser um político independente, mas hoje as suas posições são mais fracas do que há alguns anos atrás. Ele espera contar com o apoio da União Européia e de Solana que tudo fazem para que Monte Negro se transforme num Estado soberano. Posso dizer com certeza que o nosso partido e o nosso parceiro no parlamento – o Partido Radical da Sérvia – não vão apoiar a saída do Monte Negro da Federação. Sem isso Ducanovic jamais poderá alcançar os seus objetivos visando à soberania.
 Nos últimos anos o Kosovo tem sido "um ponto mais quente" no contexto da situação regional. Lá restaram poucos sérvios, os albaneses kosovares aterrorizam-nos e os sérvios locais não têm por onde se refugiar. Vêem-se forçados a vender seus terrenos por uma pechincha. Tudo isso acontece sob a supervisão da ONU. Nova York qualifica o processo de pacificação como um sucesso. Mas na realidade está em vias de formação um novo país chamado a Grande Albânia com a eventual sede em Prístina.
 Lamentavelmente, os interesses dos EUA no Kosovo e no Monte Negro estão virados não para a unificação, mas sim para o apoio de ânimos separatistas no Balcãs. Não é segredo que, nos anos de 1998-99, Washington prestava apoio às organizações muçulmanas do Kosovo. Por via clandestina, os independentistas recebiam milhões de dólares para a criação do Exército de Libertação do Kosovo. O dinheiro era doado por alguns congressistas norte-americanos, bem como por uma série de organizações não governamentais dos EUA. Hoje este processo não é tão patente, mas alguns políticos da época do Presidente Clinton continuam criando Fundos de Apoio através dos quais têm canalizado para o Kosovo os tamanhos meios financeiros.
 Não queremos que o estatuto do Kosovo seja definido já este ano. Não se esqueça que a Resolução 1244 do Conselho de Segurança da ONU, adotada no Verão de 1999, não faz referência alguma à soberania do Kosovo. Basta citarmos os exemplos de Hong Kong e do Macau. Lá eram necessários quase 50 anos para resolver a questão da independência. Por é que nos propõem entregar Kosovo aos albaneses locais, conceder-lhes a terra, onde durante séculos viveram nossos antepassados sérvios e onde se encontram nossos santuários cristãos ortodoxos? Só porque este desígnio tem sido apoiado pelos EUA?
Leia mais: http://portuguese.ruvr.ru/2013_01_29/Zoran-Andelkovic-os-EUA-tem-interesse-em-apoiar-separatismo-nos-Balcas/

Tanques, abortos e café instantâneo: 24 coisas em que a Rússia é campeã do mundo

País também tem o primeiro lugar em número de feriados e ataques cibernéticos

Tanques, abortos e café instantâneo: o que essas três coisas têm em comum? Simples: todas fazem parte das coisas que a Rússia exporta, realiza ou consome mais do que qualquer outra nação do mundo. A última edição da Revista Esquire em língua russa divulgou esta semana uma lista das 24 coisas nas quais o país é líder mundial com comprovação estatística.

Um dos destaques é o consumo de café instantâneo, em que a Rússia ultrapassou o Japão, de acordo com um estudo realizado pela agência de marketing russa Navigator. O país é também o maior fornecedor de tanques de batalha: as exportações russas dos veículos de guerra devem chegar a 859 no período de 2009 a 2013, de acordo com o Centro de Análise do Comércio Global de Armas, que tem sede em Moscou.A Rússia é a maior exportador de tanques de guerra do mundo

Em uma nota mais triste, a Rússia viu mais gestações terminarem em abortos do que no ano passado. Houve 1.022 interrupções de gravidez para cada mil nascimentos, de acordo com as estatísticas estatais. O segundo lugar no ranking, Romênia, registrou “apenas” 684 abortos para cada mil bebês nascidos.

Outros índices demográficos ligados à saúde incluem na conta da Rússia o consumo de vodka, com 13,2 litros per capita da bebida sendo ingerida por ano, e de heroína, com 21% do total consumido no mundo. O país ainda é recordista no número de mortes causadas pelo álcool e, separadamente, por acidentes de avião. Também tem o maior percentual de fumantes e de assassinatos de pessoas com idade entre 10 e 29 anos.

Os russos também são os que mais passam tempo navegando na internet: em média, são 6,6 horas diárias per capita, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado digital comScore. O país também é o que mais recebe ataques cibernéticos, com 2,4 milhões registrados apenas em maio deste ano, de acordo com a Deutsche Telekom.

Além disso, com 28 dias de feriados sancionados pelo Estado e 12 folgas nacionais, os russos desfrutam de mais dias de descanso do que os habitantes de todos os 40 maiores países do mundo.

Os números relacionados à economia incluem a compra de ouro pelo Banco Central, o suborno no exterior, as reservas de petróleo de xisto, a contratação de gestores de nível médio e superior e a desigualdade de renda, 1% dos russos controla 71% da riqueza do país, de acordo com o Relatório da Riqueza Global publicado pela consultoria britânicaKnight Frank.

A Rússia também terá os Jogos Olímpicos mais caros da história: até 2014, os Jogos de Inverno em Sochi custarão ao país cerca de US$ 51 bilhões, em comparação com os US$ 45 bilhões gastos em Pequim para os Jogos de Verão de 2008.

Outros números incluem ainda as armas nucleares, o desmatamento e os lugares mais poluídos, com oito dos 35 locais listados pelo Blacksmith Institute. No setor de engarrafamentos, a menção especial foi para Moscou. O país também é líder no percentual da população com ensino superior e na pesca no gelo: em fevereiro, a Rússia venceu o Campeonato Mundial de Pesca no Gelo de 2013, evento realizado em Wisconsin, nos Estados Unidos.

Por outro lado, desde que a revista Esquire começou a publicar a lista em 2005, o país perdeu o posto de primeiro lugar no número de policiais per capita, no de lançamentos espaciais comerciais e no da população carcerária, bem como nas exportações de óleo de semente de girassol e, curiosamente, de carne de canguru.
FONTE: Diário da Rússia - http://www.diariodarussia.com.br/fatos/noticias/2013/07/18/tanques-abortos-e-cafe-instantaneo-24-coisas-em-que-a-russia-e-campea-do-mundo/

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Maioria dos ortodoxos russos não leem a Bíblia, rezam ou frequentam a igreja




Pesquisa realizada pela Fundação de Opinião Pública tentou esclarecer cenário religioso no país, diante de lei que estipula penas para “ofensas religiosas”. Maioria dos ortodoxos russos não leem a Bíblia, rezam ou frequentam a igreja
52% dos cristãos ortodoxos russos nunca leram qualquer escritura importante Foto: Serguêi Kaptilkin
Cerca de 64% dos russos se identificam como seguidores da Igreja Ortodoxa Russa, mas muitos deles nunca leram a Bíblia e raramente vão à igreja ou rezam, revelou uma pesquisa recente publicada pela Fundação de Opinião Pública (FOM).
A pesquisa constatou que aproximadamente 52% dos cristãos ortodoxos russos disseram nunca ter lido o Novo Testamento, o Velho Testamento ou qualquer outra escritura importante, enquanto 24% revelaram ir raramente à igreja e 28% quase nunca rezam.
O estudo da FOM, conduzido em abril deste ano com  1.500 entrevistados em 43 regiões russas, é parcialmente baseado no modelo de uma pesquisa realizada nos Estados Unidos em 2005 pela “Newsweek” e Beliefnet.
Os resultados da FOM mostram que há mais incrédulos na Rússia (25%) agora do que nos EUA em 2005, quando apenas 6% dos americanos se declararam como não religiosos.
O instituto de pesquisa russo observou que apenas 57% das pessoas que se identificaram como cristãos ortodoxos afirmaram também acreditar que o universo foi criado por Deus. Cerca de 43% acham que o céu e o inferno realmente existem, e 25% creem em reencarnação.
O número total de entrevistados que acreditam na origem divina do universo gira em torno de 46%, enquanto nos EUA esse índice era de 80%. Nos EUA, 67% de todas as pessoas que participaram da pesquisa disseram acreditar que as almas vão para o céu ou inferno. Já na Rússia, apenas 34% compartilham esse mesmo pensamento.
Em junho, a Duma de Estado (câmara baixa do Parlamento russo) aprovou uma lei pela qual a ofensa aos sentimentos religiosos dos fieis passa a ser um crime punível com até três anos de prisão. A iniciativa, proposta em meio ao julgamento das Pussy Riot no ano passado, foi massacrada pelos críticos por levar a Rússia “de volta à Idade das Trevas”.
Outra pesquisa de opinião realizada pela FOM no início deste ano mostrou que 45% dos russos acreditavam que ofender sentimentos dos fiéis religiosos deveria ser uma ofensa criminal. Na época, 22% contestaram e ideia e 33% não tinham opinião formado a respeito do assunto.

Publicado originalmente pela RIA Nóvosti

terça-feira, 2 de julho de 2013

Moscou não reconhece independência do Kosovo

Konstantin Dolgov, relações exteriores, rússia

Moscou não reconhece a independência do Kosovo, afirmou hoje o comissário do Ministério das Relações Exteriores da Rússia para Direitos Humanos, Democracia e Supremacia do Direito, Konstantin Dolgov

O anúncio foi feito em resposta aos relatos da mídia sobre a decisão das autoridades do Kosovo de introduzir um regime de vistos para cidadãos de 87 países, incluindo a Rússia.
"Nossa posição não mudou, não reconhecemos a independência do Kosovo", disse Dolgov, sublinhando que a Rússia continua a acreditar que o Kosovo é uma parte da Sérvia.

Hungria vende tanques e aviões de combate soviéticos

t-72, tanque, blindado

O governo húngaro irá vender os restantes caças e tanques da fabricação soviética que, de acordo com o porta-voz do Ministério da Defesa, estão em muito bom estado, mas não atendem as exigências da OTAN.

Os caças MiG-29, tanques T-72, outros equipamentos militares e uniformes serão postos a venda até o final do ano.
Em 2005, as autoridades húngaras venderam ao Iraque 77 de 180 tanques soviéticos T-72.

"Marrocos jamais poderá apagar nosso espírito de luta"

O embaixador da República Árabe Saaraui Democrática, Malainine Etkana, conversou com o jornal Granma sobre a situação do povo da última colônia na África
CLAUDIA FONSECA SOSA/Granma

Decorreram 38 anos desde que o Marrocos invadiu Saara ocidental, privando o povo saaraui de seu direito à autodeterminação e independência.

Após décadas de enfrentamento armado contra as forças invasoras, em 1991 a Frente Polisário declarou o cessar-fogo sob o suposto de que seriam efetuadas eleições supervisionadas pela ONU. Contudo, o ansiado referendo ainda não se concretizou e continua adiando-se, em virtude dos interesses da monarquia norte-africana.

Acerca deste tema conversou com o jornal Granma o embaixador da República Árabe Saaraui Democrática (RASD) em Cuba, Malainine Etkana.

"Após a assinatura do plano de paz chegou a Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sara ocidental (Minurso), mas infelizmente - embora se tenham feito várias rodadas de negociações - ainda continuamos esperando pelo referendo, pois Marrocos continua colocando empecilhos e descumprindo seus compromissos internacionais".

"O referendo propõe a opção de integrarmo-nos ao Marrocos ou conseguir a total independência, e nós temos certeza de que a maior parte dos saarauis vai votar por esta segunda opção", afirmou.

Etkana denunciou que, entretanto, "Marrocos continua aproveitando-se dos nossos recursos naturais. O Saara tem uma das maiores reservas no mundo de fosfato e uma zona de pesca muito favorecida". "A Frente Polisário devolveu os marroquinos presos durante os anos da luta armada, mas Marrocos não liberou nenhum dos nossos combatentes".

"Desde o ano 2005, quando nossa população nos territórios ocupados começou a manifestar-se, mediante o que chamamos a Intifada (método de protesto pacífico) houve uma forte repressão por parte das autoridades marroquinas. Os direitos humanos dos civis saarauis são violados, chegando inclusive a ser submetidos a julgamentos militares, e a Minurso não faz nada a esse respeito, porque Marrocos não permite".

Então, essa é a razão pela que se fala em voltar às armas?

"Se bem estamos dispostos a continuar negociando com a mediação da ONU, os saarauis não descartamos a possibilidade de voltar às armas para que finalmente o Saara seja livre. Não podemos continuar suportando a intransigência de Marrocos e que este país continue rejeitando a legalidade internacional".

Neste 2013 completam-se 40 anos da fundação da Frente Polisário (Frente Popular de Libertação de Saguía el Hamra e Rio de Oro), único representante legítimo do povo saaraui...

"A Frente Polisário fundou-se em 10 de maio de 1973, para lutar contra o colonialismo espanhol. Em 1975, a Espanha foi embora do território saaraui de uma maneira vergonhosa, assinando um acordo tripartite com o Marrocos e Mauritânia (retirou-se em 1979) e a partir desse momento, nosso povo tem enfrentado torturas, desalojos, encarceramentos arbitrários e outras formas de repressão".

"Contudo, estamos orgulhosos destes 40 anos de luta e resistência. Marrocos invadiu o Saara para liquidar os saarauis, mas não conseguiu vencer-nos. Nosso povo está agora mais unido que nunca. A Frente Polisário fundou em 1976 a República Árabe Saaraui Democrática, que hoje é reconhecida por mais de 80 nações no mundo".

"A integração da RASD à Organização para a Unidade Africana (OUA) em 1984 e a participação na fundação da União Africana em 2002, têm sido os sucessos diplomáticos mais importantes do nosso povo".

Como se define a República Árabe Saaraui Democrática?

"Somos uma frente de libertação nacional, com uma ideologia revolucionária que garante os direitos civis, a liberdade e a dignidade do nosso povo. Temos aprendido muito das revoluções independentistas do mundo, como - por exemplo - a de Cuba, a da Argélia e a de muitos países no sul da África. Desejamos um Saara livre da opressão marroquina".

"Boa parte da nossa população vive em acampamentos de refugiados na Argélia, onde - apesar das dificuldades - temos conseguido alguns sucessos em matéria de educação e saúde".


Como se desenvolvem as relações com Cuba?
"Cuba sempre tem acompanhado a causa saaraui e nos ajudou. Muitos dos nossos profissionais foram graduados em universidades cubanas, e uma brigada médica cubana trabalha nos acampamentos de refugiados, em Tinduf".

"Parafraseio as palavras do secretário-geral da Frente Polisário e presidente da RASD, Mohamed Abdelaziz, durante a comemoração do 50º aniversário da OUA, quando disse que Cuba fez muito pela África e por isso temos que apoiá-la em sua luta contra o bloqueio estadunidense".

"Também felicitamos René González por seu retorno à Pátria e esperamos que em breve se unam a ele seus quatro irmãos lutadores antiterroristas".

"Os saarauis temos muita fé no futuro, nosso povo está unido para conseguir o projeto nacional e seu legítimo representante: a Frente Polisário".

http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=30f21d8fae944d4353b36d59500d9eaa&cod=11781

terça-feira, 4 de junho de 2013

As famílias diplomáticas do Itamaraty

AS FAMÍLIAS DIPLOMÁTICAS DO ITAMARATY - Com a criação do Instituto Rio Branco, em 1946 o Brasil passou a ser o segundo país das Américas que estruturou a diplomacia como carreira com acesso por concurso público para uma escola de formação de diplomatas. Os EUA criaram em 1916 o Foreign Service Institute dentro do mesmo modelo. Antes do concurso pùblico, o acesso à carreira diplomática era por indicação política no mais alto nível. Nos tempos do Barão do Rio Branco o indicado por um alto padrinho era avaliado pelo Barão durante um almoço. O Barão, com seu profundo conhecimento dos homens, aprovava ou não o candidato nesse almoço, fazia uma análise de personalidade e raramente errava.
Mas havia um filtro anterior, a maioria dos canidatos vinha das "famílias diplomáticas" do Segundo Império que até nos dias de hoje tem um bom prestígio e presença na "carriere".
Nomes como Villela Barbosa (Marquês de Paranaguá), Carneiro de Campos (Marquês de Caravellas), Carvalho e Melo (Visconde da Cachoeira), Araujo Lima (Marquês de Olinda), Du Pin e Almeida (Marquês de Abrantes), Limpo de Abreu (Visconde do Abaeté), Gê Acaiaba de Montezuma (Visconde do Jequetinhonha) se somaram a familias mais modernas como Leão Velloso, Melo Franco, Macedo Soares, Sousa Leão Gracie, Silva Paranhos, Paula Sousa.
Dois casos de diplomatas importantes oriundos de familias tradicionais, Embaixador Sebastião do Rego Barros, descendente de um Ministro da Guerra do Império, seu homônimo, foi Embaixador na ONU, na Comunidade Europeia, na OEA, na Argentina e o último Embaixador brasileiro na extinta URSS, também foi o diretor geral da Agência Nacional do Petróleo no 1º mandato do Presidente FHC.
Vasco Leitão da Cunha foi Embaixador em Cuba antes de Castro e o primeiro Chanceler do Governo Castelo Branco de 64, neto do Barão de Mamoré, presidente das Provincias do Pará, Paraiba, Pernambuco e Maranhão.
Familia longeva no Itamaraty foram os Melo Franco, chanceler na República Velha e muito depois, seu descedente repetiu a Chancelaria na década de 60 (Governo Jânio).
As famílias diplomáticas existem em todas as grandes Chancelarias, mesmo nos EUA. John Foster Dulles, célebre Secretário de Estado no Governo Eisenhower era neto e sobrinho de Secretários de Estado, na Alemanha o Barão Ernst von Weizsacker, Secretário de Estado na Chancelaria do Reich de 1938 a 1943 e depois Embaixador na Santa Sé, em pleno nazismo, teve seu filho Richard von Weizsacker eleito Presidente da República Federal Alemã na década de 80, os laços do pai com o nazismo não impediram seu filho de ser Chefe de Estado quarenta anos depois.
Mas o recorde de uma família diplomática são os Alwyn no Panamá. o Chanceler Samuel Alwyn é a sétima geração da família a ocupar o cargo de Ministro das Relações Exteriores da República.
Nem os países comunistas escapam da elitização da Chancelaria, os dois primeiros chanceleres da União Soviética eram da mais alta elite anterior ao regime comunista, Giorgy Chicherin, de familia latifundiária no Império e Maxim Litvinov, de uma família de banqueiros judeus de Kiev. Na China Comunista o Chanceler Chu En Lai era da aristocracia mandarim, os regimes reconheciam a necessidade de uma representação perante o mundo de personalidades culturalmente sofisticadas.
O máximo histórico, porém, foi o Príncipe Charles Maurice de Talleyrand-Perigord, de nobreza mais antiga e mais alta do que os Reis Bourbon, Ministro das Relações Exteriores do Governo da Revolução Francesa, uma aberração mesmo naquele tempo de transformações nunca vistas.

 http://www.advivo.com.br/node/1394657

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Dom, o nome perdido da partilha.

A economia precisa da moeda como meio de mediação entre os participantes de uma troca. Diferente é a dinâmica do dom, em que a reciprocidade abre espaço para possível e inéditas relações sociais.

A opinião é do filósofo francês Jean-Luc Marion, immortel da Academia Francesa. O artigo foi publicado no jornal Il Manifesto, 30-01-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

A economia que, literalmente, significa "a lei que reina em casa", é interpretada como troca econômica. Mas esta última deve ser considerada como um aspecto da economia que pode ser discutido, e não como sinônimo de economia. O que, dentro da economia, pode se contrapôr à troca? Não a abolição do sistema de mercado, não a oposição do capitalismo ao socialismo, mas sim o dom. Quando se opõe o dom à troca, aparentemente se vai contra a definição mais célebre de troca, formulada por Marcel Mauss nos anos 1920, e na qual se baseia a maioria dos estudos sobre o dom.

Segundo Mauss, o dom é um caso particular de troca, isto é, uma troca gratuita. Se olharmos para a história de certos grupos étnicos que permaneceram alheios à revolução econômica, encontramos um sistema de troca em que uma tribo que encontra outra faz-lhe uma doação em sinal de benevolência, forçando, assim, a outra tribo, para manter a paz, a uma troca recíproca, que é igual à anterior +1.

Em nome de Mauss

Graças à troca gratuita, mas que inclui uma lógica de reciprocidade, a paz é mantida. É o sistema do dom de potlatch. O dom, de fato, é uma troca, sem a mediação da moeda. Poder-se-á dizer que há trocas gratuitas, o dom, e trocas não gratuitas, o comércio, mediado pelo valor de troca e pela moeda. Eu gostaria de mostrar que não é assim: a gratuidade e o dom não são um caso particular da troca; a lógica do dom é irredutível à lógica da troca e do comércio.

Para estabelecer esse ponto, é preciso entender que há também uma dificuldade do dom, destacada por Jacques Derrida, que, para reforçar a redução do dom à gratuidade por parte de Marcel Mauss, dizia que o dom é sempre uma ilusão, e que a realidade do dom é sempre implicitamente a lógica da troca. Se eu faço uma doação a alguém, ele me deve algo, mesmo que eu não lhe peça nada. Em uma troca econômica, é muito claro que eu devo alguma coisa. No dom, aparentemente, eu não tenho mais nada a fazer.

Na verdade, aquele a quem a doação foi feita, mesmo que lhe tenha sido feito por nada, deve algo, ao menos o reconhecimento do qual tentará se livrar fazendo uma contra-doação um dia. Se ele não der nada em troca, será considerado por todos como um ingrato, perderá a reputação de homem generoso, porque foi-lhe feito um presente que ele não vai restituir. Ele parecerá um homem consumido pela ingratidão, pela avareza, se sentirá culpado.

Aquele que recebe, portanto, deverá pagar, em termos reais ou simbólicos. Quem entra no déficit simbólico, pagará com juros. O dom é sempre suspeito, não só de hipocrisia, mas continua implicitamente em uma troca ainda mais radical ser for feita de modo subterrâneo e talvez mórbido. O dom é sempre apenas uma troca silenciosa – e, de fato, nem tão silenciosa. Essa é uma forma para conservar a posição de Mauss.

É possível ter um dom, embora reduzindo o seu beneficiário, o donatário. É uma experiência que fazemos frequentemente – dar não sabendo a quem damos – por exemplo às ONGs: é precisamente porque não sabemos a quem damos que podemos dar de modo eficaz. O desaparecimento do donatário não impede o dom. Tentemos ser cínicos: às vezes, preferimos não ter que nos ocupar com o fim da distribuição, que deixamos a profissionais.

O anonimato do donatário pode ser uma solução cômoda. Mas há dons mais dignos de admiração que se baseiam no desaparecimento do donatário. Quando damos a alguém que não nos pediu nada ou de quem sabemos que conservará a sua ingratidão e a sua incapacidade de nos agradecer, quando sabemos que nos deixaremos criticar por ter feito uma doação e a fazemos mesmo assim: nessas situações, o nosso presente se torna ainda mais claro.

Mas também se pode fazer uma doação sem que ninguém a dê e sem que apareça como um dom. O exemplo mais evidente da doação que ninguém dá é aquela feita por quem morreu. O morto dá no momento em que ninguém dá: é a questão da herança. Torna-se o protótipo do dom anônimo. Como no romance em que o Capitão Nemo faz aos náufragos da ilha misterioso a doação da qual eles têm uma necessidade vital; ou nos romances populares, em que um misterioso doador se esconde e vela sobre a salvação da pobre órfã. O melhor doador é o doador ausente. No caso da herança, é necessário que o doador esteja ausente para que ela ocorra; aqui, a ausência é a própria condição do dom; e não haverá troca, porque não haverá um retorno à vida do doador.

A herança é um dom perfeitamente injusto: pode ocorrer com alguém que não precisa dela, ou com alguém que o falecido detestava, ou vice-versa. Ela não está ligada aos juros, não tem interesse em todos os sentidos do termo. Vem à mente a imagem bíblica de Deus, que dispensa os seus benefícios tanto sobre o mau quanto sobre o bom. Em outras palavras, o dom não está ligado ao interesse, e uma das formas do desinteresse é que não há doador. Esse é o motivo pelo qual os antigos diziam que os deuses não sentem inveja, fórmula retomada pelos primeiros cristãos: Deus dá sem inveja, sem fazer cálculos, em perda. De fato, o doador deve desaparecer, no sentido de que ele dá sempre em perda, e quanto mais ele dá em perda, mais o seu dom é dom.

Chegamos à terceira redução. Santo Agostinho, para explicá-la, faz a hipótese de uma mulher que recebe do seu futuro esposo um anel e diz: "Obrigado, vou guardar a joia e não nos casaremos". Pensando assim, ela se comporta como se o jovem a tivesse dado o anel e nada mais; mas não é assim que o jovem pensava: ele pensava que, colocando-lhe o anel no dedo, ele teria se dado a ele e, reciprocamente, ela a ele. Embora a joia tenha um valor, o que constitui o seu valor profundo é o que procede com a pessoa amado.

Na maior parte das doações que fazemos, o que doamos efetivamente nunca é o que constitui o dom, mas sim o que "procede com". Quando você quer agradar alguém, você lhe dá algo, mas o presente é somente o porta-voz, o acessório do carinho que, assim, você o testemunha. E quanto mais o que se dá for importante, mais o dom deve ser irreal, irrealizado e simbólico.

Pensemos em quando tomamos posse de um imóvel ou de uma empresa que se adquiriu. Para fazer isso, vai-se a um cartório, e assinam-se documentos. Mas a tomada de posse não tem nenhuma relação com a efetividade do que se está por possuir. Quando é eleito, o presidente dos Estados Unidos recebe os códigos nucleares, mas não algo como "o poder", que permanece invisível. O que se dá nunca é proporcional ao que acompanha o dom. Quanto mais o dom é considerável, mais se torna imaterial.

Quando há pessoas que morrem de fome, e nós lhe damos de comer, de beber, um abrigo, certamente doamos algo, mas é a vida que doamos, além do pão, da água e das cobertas. Não doamos medicamentos, mas sim a possibilidade de sobreviver a uma doença; não produtos agrícolas, mas sim a possibilidade de comer; em suma, a vida. Doa-se a vida doando outra coisa junto com ela, e essa outra coisa não teria nenhum valor se não tivéssemos necessidade dela para permanecer com vida.

Quando você doa o seu tempo, a sua vida, o seu amor, em sentido estrito, não doa nada. Realiza um gesto ou outro, mas os gestos não são objetos. Você doa o que não é uma coisa, porque a diferença entre a vida e a morte não é real, o morto é tão real quanto o vivo. O tempo que você doa não é real; ao invés, é a única coisa que o dinheiro não pode comprar. Com o tempo, faz-se dinheiro, mas com o dinheiro ninguém nunca comprou tempo. Portanto, quando se perde o próprio tempo para fazer dinheiro, de fato, não se tem a certeza de ganhar algo em troca. Quanto mais o que você doa é essencial, menos é real. Dizer que quanto mais o dom é fundamental, menos é real, significa dizer a verdade. São apenas os dons de pouquíssimos valor que são reais, como oferecer um cigarro a alguém na rua.

O contrato erótico

A questão do dom é realmente paradoxal, já que não precisa dos termos da troca para parecer como um dom; ao contrário, parece como tal apenas se se abre mão de termos da troca. O que se produz no dom? Produz-se uma lógica do avanço – em sentido econômico – que eu chamei em outro lugar de lógica da experiência erótica.

Na experiência erótica, de fato, também se pode pensar segundo a lógica da economia e da troca, seguindo o princípio: "Eu amo você somente se você começou a me amar. Eu vou amar você somente em troca do primeiro investimento que você tiver feito para me amar. E não espere ser o primeiro a jogar as minhas cartas". É uma interpretação econômica do amor. Mas há uma outra: a interpretação erótica do amor. Nesse caso, trata-se de dar sem esperar a troca em resposta, até mesmo sem esperá-la, nem desejá-la. É o que faz a grandeza de Deus, quando cria coisas que não estão em condições de amá-lo, porque ainda não existem; ou o fascínio de Don Juan que diz a uma mulher: "Você é linda, eu te amo", e que, de repente, faz com que ela se torne linda.

Quem é o primeiro a amar assume o risco da ausência de reciprocidade, essa é a lógica do dom. Ele cria as condições eventuais da resposta, mas não é orientado pela possibilidade da troca e da resposta. Ele tem um poder criador, como não acontece com a troca. A troca visa à justiça, à reciprocidade e se concilia com o crescimento ou com o interesse do reembolso da dívida. A troca segue a igualdade em sentido matemático e político. O que é próprio do dom, ao invés, é estar sempre no princípio da antecipação sem resposta, portanto, na lógica do crescimento.

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/517404-dom-o-nome-perdido-da-partilha-artigo-de-jean-luc-marion