segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A ERA VARGAS

Ainda tenho em mãos, neste  ano de 2007, setenta e cinco anos depois da Revolução Constitucionalista de 1932, dois anéis referentes à Campanha então intitulada : DÊ OURO PARA O BEM DE SÃO PAULO”. Anéis dados em retribuição aos contribuintes da arrecadação. Trata-se de um anel, propriamente dito, e de uma aliança de casamento. São ambos de prata. O anel tem  uma parte ovalada, mais larga, na frente, de um centímetro de altura, com um brasão estampado, circundado com  os dizeres: “PRO SÃO PAULO FIAT EXÍMIA”. No centro deste, uma espada ladeada por dois ramos de palmas. Abaixo do punho da espada uma estrela. Ao longo do aro, do lado esquerdo  do brasão, está: “DEI OURO PARA  e do lado direito O BEM DE SÃO PAULO”. Na parte mais fina do aro, diametralmente oposta ao escudo está gravado 1932.
A aliança de casamento é perfeitamente regular, de mesma largura à volta toda, como era de se esperar. Com um friso circular encima e embaixo.  Na parte central, abaulada, está também escrito: “DEI OURO PARA O BEM DE SÃO  PAULO 1932”. Como os dizeres ocupam a volta toda da aliança, a data de 1.932 fica entre o começo e o final da frase, isto é, entre “SÃO PAULO” e “DEI”.

Durante quase toda a década de trinta, vi esses anéis nos dedos de meus pais. O velho, além do anel descrito, portava a aliança de prata. Minha mãe, somente a aliança de 32. Quando, em 1939, fizeram bodas de prata, mandaram fazer um par de alianças novas de ouro e guardaram carinhosamente os anéis de 32. Tão carinhosamente que até o dia de hoje permanecem na família. Eu, por ser um dos irmãos mais novos e mais interessado em história e nos objetos antigos, sou o guardião desse tesouro.

Chamo a atenção para o brasão que está descrito no anel  acima. As armas oficiais de  São Paulo, na República Brasileira, diz “PRO BRASILIA FIAT EXIMIA”, que traduzido do latim seria: “Em Prol do Brasil (São Paulo) faça-se exímio”, isto é, eminente, excelente. No citado anel, no entanto, há, por assim dizer, um ato falho, uma confissão sub-reptícia: “PRO SÃO PAULO FIAT EXIMIA”, isto , “Em Prol de São Paulo (o próprio São Paulo) faz-se exímio. É quase uma confissão de rebelião, de auto-determinação, de abjuração do todo pela parte. E, no brasão oficial, há duas espécies de ramos: os que circundam o escudo central comportando grandes letras SP, são de café; dentro do escudo, circundando a espada, há outros dois ramos que não conseguimos identificar. Contrapondo-se, no anel, só há um par de ramos, não característico. No brasão oficial também há uma grande estrela, bem encima, sobre o escudo. Embora se entenda que no anel, pelo pequeno espaço,  não coubesse o brasão oficial com detalhes, pelo menos os dizeres denotam certa rebeldia dos paulistas. O que foi explorado pelos getulistas que diziam que São Paulo estava querendo se separar do Brasil. Mera estratégia de guerra, por parte da ditadura.

Há uma queixa velada dos velhos paulistas de que não se sabe, ou pelo menos não foi devidamente divulgado, onde se aplicou o dinheiro proveniente da campanha. O que se sabe é que foi construído um prédio, de vários andares, na esquina da rua Direita com ao largo da Misericórdia (voltado para o largo), no centro da cidade, com parte dos recursos citados. Esse prédio tem a fachada característica, imitando a bandeira de São Paulo, isto é , com as listas horizontais formadas pelas janelas. Como faz muito tempo que ao passar por ele não o observamos, não podemos afirmar que permaneça mantido adequadamente. Porém, é de se calcular que a Campanha “Dê ouro para o bem de São Paulo” tenha resultado em mais recursos do que um simples prédio no centro da cidade. E depois, o que significaria um prédio, no centro da cidade, em prol da vitória da Revolução? Fica a esperança que o arrecadado, ou grande parte dele, tenha sido bem empregado nas despesas da Revolução!

http://www.vivasp.com/texto.asp?tid=5664&sid=9

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