terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Principais frases do candidato Antonio Cabrera

Leia abaixo as principais frases pronunciadas pelo candidato ao governo de São Paulo pela Frente Trabalhista (PTB, PPS e PDT), Antonio Cabrera, Em sabatina promovida pelo jornal Folha de S.Paulo no Teatro Folha, em Higienópolis, região central de São Paulo.

Sobre as comparações entre Ciro e Collor:
"Acho que há muita diferença entre os dois, principalmente no que se refere ao comportamento deles. O Collor era muito mais impetuoso, muito mais intempestivo e muito mais arrojado do que o Ciro. O que vejo é uma atitude de desespero dos outros candidatos em fazer essa semelhança."

"O Ciro está se cercando das pessoas certas. O Collor não tinha diálogo nem base no Congresso Nacional."

Sobre sua participação no governo de Fernando Collor de Mello:
"Não posso ser leviano em relação ao Collor. Quando eu era ministro da Agricultura, nunca recebi nenhum pedido do presidente para atender este ou aquele empresário, este ou aquele empreiteiro."

Sobre sua candidatura:
"Não esperava ser candidato ao governo de São Paulo. Aceitei o desafio principalmente pelo convite feito por Ciro Gomes, a quem conheci quando eu era o ministro da Agricultura e ele, governador do Ceará."

Sobre privatizações no Estado:
"A privatização do Banespa foi um grande erro e muito do desemprego que está aí é resultado disso. O atual governador não deve privatizar a Nossa Caixa, mas deixar a decisão para o próximo governo."

Sobre a falta de vagas no sistema penitenciário estadual:
"Hoje temos falta de recursos para construir presídios no país. Precisamos buscar recursos com a iniciativa privada para construir presídios. A idéia é fazer uma concessão da construção para a iniciativa privada. Depois, o Estado pagaria a ela pela manutenção do preso."

Sobre o sistema de progressão continuada, que não reprova o aluno:
"A progressão continuada tem de parar e voltar como era o sistema tradicional, com reprovação. Os alunos que não aprenderam têm de repetir o ano. Prefiro ver o aumento da evasão escolar a formar estudantes como os que estão saindo da escola hoje."

Sobre a importância do Estado:
"São Paulo não é um Estado, é um país"


Sobre os preços dos pedágios em São Paulo:
"Minha intenção é levar todos esses contratos com as concessionárias à Justiça. Os aumentos de tarifas foram abusivos, maiores que o IGP-M. Também temos um número excessivo de pedágios. Vamos poder fechar vários pedágios. Se preciso for, faremos uma auditoria nesses custos, que são uma caixa-preta."




http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u36300.shtml

Cabrera quer proteger indústria paulista e privatizar prisões

Terça, 20 de agosto de 2002, 21h41 
O candidato do PTB ao governo de São Paulo, Antonio Cabrera, disse hoje, em sabatina da Folha de S. Paulo, que se for eleito, sua primeira medida será taxar os produtos de indústrias que têm incentivos de outros Estados para proteger as indústrias paulistas e aumentar a arrecadação.
O candidato do PTB disse ainda que pode privatizar prisões no Estado, mas não apresentou propostas concretas sobre o tema, alegando ser um problema de "esfera federal". Além disso, adiantou a intenção de entrar na Justiça para rever os contratos entre o governo e as concessionárias de estradas. Questionado sobre como resolver o problema da evasão escolar, Cabrera disse que criará programas de estímulo aos pais para que mantenham o filho na escola.
Em críticas a atual política do governador Geraldo Alckmin, o petebista acusou o governador de "usar a máquina pública" para se manter no cargo. Paulo Maluf não foi poupado. Segundo Cabrera, o ex-governador e ex-prefeito tem uma postura dúbia por não declarar apoio a nenhum presidenciável.
O petebista defendeu o ex-presidente Fernando Collor de Mello, de quem foi ministro da Agricultura, e o candidato à sucessão presidencial Ciro Gomes (PPS), mas negou semelhança entre os dois. Além disso, negou ter se arrependido sobre o apoio que deu ao ex-por nunca ter recebido pedido de Collor para beneficiar alguém durante o mandato.(http://noticias.terra.com.br/eleicoes/interna/0,,OI43225-EI407,00-Cabrera+quer+proteger+industria+paulista+e+privatizar+prisoes.html)

Algumas reportagens sobre a eleição estadual de 2002

Sábado, 5 de outubro de 2002, 10h45 

Cabrera reforça torcida e apoio a Genoino

O candidato do PPS Antonio Cabrera disse hoje que vai torcer e apoiar a ida de José Genoino (PT) ao 2º turno. Os dois se encontraram no Mercado Municipal do município de Rio Preto, onde o petista encerrou uma caminhada "silenciosa" (os candidatos não podem mais fazer campanha para o 1º turno desde ontem, segundo a legislação eleitoral). Cabrera acredita que o petista representa a verdadeira mudança para o Estado.
O candidato da Frente Trabalhista já havia declarado a afinidade com Genoino em um bate-papo com internautas. Segundo ele, Genoino tem grandes chances de ultrapassar Paulo Maluf (PPB) nas urnas e disputar o 2º turno. Apesar de manifestar apoio antes mesmo do pleito de amanhã, Cabrera garantiu que não desistiria de sua candidatura. (http://noticias.terra.com.br/eleicoes/interna/0,,OI57235-EI407,00-Cabrera+reforca+torcida+e+apoio+a+Genoino.html)


Cabrera diz que vai apoiar Genoino no 2º turno em SP

O candidato da Frente Trabalhista ao governo de São Paulo, Antônio Cabrera (PPS), disse hoje que vai apoiar José Genoino (PT)no segundo turno das eleições. Cabrera acredita que o petista tem grandes chances de ultrapassar Paulo Maluf (PPB) nas urnas e ir ao segundo turno.
O candidato do PPS disse também no chat promovido pelo site da Globo que o governo já teve oportunidade de mudar o Estado e ressaltou sua afinidade com Genoino. Antônio Cabrera afirmou também que sua declaração não significa que vá desistir de sua candidatura. [http://noticias.terra.com.br/eleicoes/interna/0,,OI56269-EI407,00-Cabrera+diz+que+vai+apoiar+Genoino+no+turno+em+SP.html]
 

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Paulinho usa secretaria para articular novo partido

uncionários da Secretaria de Emprego e Relações do Trabalho do Estado de São Paulo estão recolhendo assinaturas no horário de expediente para fundar o Partido Solidariedade, nova legenda articulada nos bastidores pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical.

O parlamentar controla a pasta do governo Geraldo Alckmin (PSDB). Ele indicou para o posto de secretário o sindicalista Carlos Ortiz, que nomeou filiados do PDT, partido de Paulinho, para cargos estratégicos, como chefia de gabinete, coordenadorias de programas e diretorias regionais.

Na última semana, o jornal O Estado de S. Paulo recebeu denúncias de que servidores estariam sendo abordados pelos filiados do PDT na pasta nas dependências da secretaria para assinarem as fichas de apoio à criação do novo partido. O material estaria distribuído pelas mesas da pasta. Para ser criado, o Solidariedade precisa de 491 mil assinaturas de eleitores em pelo menos nove Estados. As assinaturas são submetidas aos Tribunais Regionais Eleitorais, analisadas pelo Ministério Público e enviadas ao Tribunal Superior Eleitoral, que concede o registro. Se o partido for criado até outubro deste ano, estará apto para disputar a eleição de 2014.

A reportagem esteve na secretaria e, ao questionar funcionários locais sobre a ficha de criação do Solidariedade, foi encaminhada à Coordenadoria de Políticas de Inserção no Mercado de Trabalho, cujo coordenador é Luciano Martins Lourenço, filiado ao PDT. No local, uma sala no 2.º andar da secretaria, uma funcionária da pasta forneceu cerca de 300 fichas de apoiamento ao Solidariedade, que estavam guardadas num armário. Servidores pegaram as fichas, recolheram assinaturas de amigos ou familiares e as preencheram com dados, como título de eleitor.

Além de Lourenço, outros dois filiados do PDT recolhem assinaturas: Helder Liberato Bovo, que foi nomeado em 2012 assistente técnico do órgão e que trabalha com Lourenço na coordenadoria, e Tadeu Morais de Souza, que é o atual chefe de gabinete do secretário.

O uso da máquina pública para fins partidários pode configurar improbidade administrativa. "O uso de uma estrutura pública é vedado para esses fins, recaindo a responsabilidade sobre o funcionário público ou chefe da repartição", explica o advogado Ricardo Vita Porto.

Em conflito com a atual direção do PDT, Paulinho começou a articular o Solidariedade. Para isso, chamou o advogado Marcílio Duarte Lima, especialista em criar novas legendas. É ele quem responde oficialmente pelo projeto, que já tem até estatuto - Paulinho tem dito que só decidirá sobre a entrada na legenda depois de o partido estar criado, mas é ele quem comanda as conversas políticas sobre o tema.

A corrida pelas assinaturas para fundar o Solidariedade tem a ajuda de sindicatos ligados à Força. "Estamos coletando as assinaturas para dar uma ajuda para o pessoal. Se vou entrar ou não, não sei. É uma questão futura", disse Cícero Martinha (PDT), presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Casa Branca rejeita pedidos de independência de 8 Estados

A Casa Branca rejeitou os pedidos de independência assinados por cidadãos de oito Estados, ao lembrar que esse direito não está refletido na Constituição de EUA, que estabelece que a união do país deve ser "perpétua". Em mensagem publicada nas últimas horas no blog We The People, dedicado a recolher pedidos populares, a residência presidencial se pronunciou sobre as solicitações de secessão do Texas, Flórida, Louisiana, Geórgia, Tennessee, Alabama, Carolina do Norte e Carolina do Sul.
"Nossos pais fundadores estabeleceram a Constituição dos Estados Unidos 'para formar uma união mais perfeita' através do duro e frustrante mas necessário trabalho do autogoverno", explicou na mensagem o Diretor do Escritório de Comunicações da Casa Branca , Jon Carson. "Nesse documento, consagraram o direito de mudar nosso Governo nacional através do poder da cédula eleitoral. Mas não proporcionaram o direito de abandoná-lo", acrescentou. Os pedidos ocorreram após a vitória do presidente Barack Obama nas eleições de novembro.
Todas os pedidos superaram as 25 mil assinaturas em um mês, o limite estabelecido pela Casa Branca para que os requerimentos dos cidadãos ao blog, desde finais de 2011, obtenham uma resposta oficial. O maior número de assinaturas foi registrado no Texas, um Estado onde há uma grande corrente separatista há anos e que acumulou mais de 125 mil rubricas a favor do pedido, que apresentava o território como a "15ª economia do mundo" e criticava o nível de despesa do Governo federal.
A resposta da Casa Branca também se dirigiu a outro pedido popular que solicitava a deportação de todos aqueles que tivessem assinado as propostas de independência de qualquer Estado. "Em um país de 300 milhões de pessoas, cada um com suas próprias opiniões, a democracia pode ser ruidosa e controvertida, e isso é algo bom, porque o debate livre e aberto é o que faz com que este país funcione", disse Carson.
O governo de Obama também precisa responder a um pedido que pede que a Casa Branca apoie um referendo de autodeterminação na Catalunha (Espanha), uma solicitação que hoje em dia conta com mais de 32 mil assinaturas.

Terra - http://noticias.terra.com.br/mundo/estados-unidos/casa-branca-rejeita-pedidos-de-independencia-de-8-estados-dos-eua,77bc324b21b2c310VgnCLD2000000dc6eb0aRCRD.html

sábado, 12 de janeiro de 2013

300 000 assinaturas e cresce o "Solidariedade"


Problemas para o Planalto
O novo partido que está sendo criado pelo pedetista Paulinho da Força, o Solidariedade, a mais iminente promessa de enfraquecimento da base aliada de Dilma Rousseff, já coletou aproximadamente 300 000 assinaturas.
Entre os 37 deputados federais que se comprometeram com Paulinho da Força a topar a empreitada estão Silvio Costa (PTB-PE) e Ademir Camilo (PSD-MG), presidente da União Geral dos Trabalhadores, além de Fernando Francischini (PEN-PR).
Por Lauro Jardim

300 000 assinaturas

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

ELDERONDA SABADO LEGIONARIO EN TOLEDO

Palestra de Lorenzo Carrasco em Curitiba

Alexander Dugin: o artigo que não escrevi

Abordar o fascismo, não o lugar-comum que as pessoas imaginam, mas aquele que existiu, é profundamente incómodo. Por João Bernardo

No dia 29 de Agosto o Passa Palavra recebeu uma mensagem de um leitor.
«Prezado/a,
O ideólogo do Estado russo de Vladimir Putin, Aleksandr Dugin, está a caminho do Brasil. Ele palestrará na USP, UERJ, UFPB e em Curitiba.
Seria interessante e oportuno se alguém do ou próximo ao coletivo Passa Palavra, melhor informado do que eu sobre a teoria política de tal indivíduo, talvez já familiarizado caso seja de terras européias, publicasse uma abordagem (marxista libertária?) sobre seu pensamento, que é muitas vezes caracterizado como neofascista.
Fica a sugestão.
Saudações.»
E a seguir o leitor transcreveu a apresentação da palestra, tal como foi divulgada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ.
«A Quarta Teoria Política
Palestra com o prof. Aleksandr Gelyevich Dugin
Dia 03 de setembro às 19h, o prof. Aleksandr Dugin, do Departamento de Sociologia e Relações Internacionais da Universidade de Moscou, estará presente na UERJ para dar uma palestra versando sobre os seguintes temas:
1. Traditionalism: The Tradition / Metaphysics; 2. Geopolitics: The Eurasianism / Moltipolarity; 3. Political Philosophy: The Fourth Political Theory / Global Revolutionary Alliance.
Aleksandr Dugin é um dos fundadores de uma das principais escolas contemporâneas de geopolítica, geralmente designada de “eurasianismo”. Mas Dugin não é somente um filósofo e cientista político, sua obra intelectual abarca setores muito diversos que vão da geopolítica, passando pelo estudo comparativo das religiões, a teologia (sendo ele um cristão ortodoxo), crítica literária e de autores como Heidegger, Carl Schmitt, Halford John Mackinder e a Escola Tradicionalista de Julius Evola, René Guénon, Titus Burckhardt, Rama Coomaraswamy, etc. O prof. Dugin sendo um dissidente do regime comunista (seu pai foi um oficial da KGB), fundou a Associação Arctogaya e o Centro de Estudos Metaestratégicos com a dissolução da URSS. Em 1988, juntamente com o seu amigo Geidar Dzhemal, filiou-se na organização nacionalista Pamyat. Auxiliou também na redacção do programa político do refundado Partido Comunista da Federação Russa (ex Partido Comunista da União Soviética) sob a jurisdição de Gennady Zyuganov, sendo o produto final um documento mais inclinado para o nacionalismo que para o marxismo. Convencido de que o Nacional-Bolchevismo necessitava de uma encarnação política própria Dugin convenceu o seu aliado Eduard Limonov do mesmo e criaram a Frente Nacional-Bolchevique em 1994, posteriormente Partido Nacional-Bolchevique. Nos anos 80 suas teses foram fortemente influencidas pela escola intelectual européia comumente chamada de “Nova Direita”, sendo seu principal representante o filósofo francês Alain de Benoist. Dugin também é o principal conselheiro político do Presidente russo Vladimir Putin. Seus interesses atuais giram em torno da Teoria do Mundo Multipolar e da filosofia de Martin Heidegger. O autor tem ainda textos escritos na área de economia sobre as idéias de Friedrich List, Schumpeter e Brodel, entre outros. Dugin é um dos principais teóricos do pensamento antiliberal em nossos dias, defensor da noção de “Grande Síntese”, que nada mais é que a síntese entre todas as correntes antiliberais, antimodernas, antiburguesas, antidemocráticas; o aspecto mais inovador desse ponto de vista é agrupar dentro dessa mesma categoria personalidades históricas tão díspares e contrastantes como Julius Evola e Marx, Carl Schmitt e Sorel, Heidegger e Guénon, Ernst Jünger e Henry Corbin, Nietzsche e Ivan Kireyevski, Che Guevara e Codreanu, Lenin e Mussolini, etc.
Organização:
Dndo. Rodolfo da Silva de Souza (UERJ)
Prof. Dr. Marco Antonio Casanova (UERJ)
Programa de Pós-Graduação em Filosofia
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Universidade do Estado do Rio de Janeiro.»
Sucede que há dois meses e meio publiquei no Passa Palavra o artigo Ponto final, que é o que o título diz, um ponto final, a decisão de que é inútil escrever para este público. Mas a sugestão, quase um repto, enviada por aquele leitor seduziu-me e podia ter aberto uma excepção. Não é frequente abrir excepções às decisões que tomamos? Algumas parece que só servem para isso. Além do mais, toda a minha vida adulta me interessei pelo estudo do fascismo e nos últimos vinte anos tem sido este o meu principal tema de pesquisa. Posso dizer que estou habilitado a tratar da questão.
Mas logo me veio o desânimo. Várias vezes, aqui mesmo, no Passa Palavra, quando escrevi acerca do fascismo a reacção imediata dos leitores foi a de enviarem comentários acusando-me de ser ignorante. Não sucedeu uma vez ou duas, que pudessem ser consideradas anomalias, mas tratou-se de uma reacção frequente. É que o fascismo constitui um dos temas em que as ideias feitas menos correspondem à realidade.

Montagem fotográfica de John Heartfield
Por um lado, o fascismo foi derrotado militarmente, nalguns casos politicamente também, mas não foi derrotado ideologicamente. No plano da ideologia o que sucedeu foi que em todo o mundo as democracias capitalistas, depois de terem ganho a guerra, simplesmente proibiram a difusão dos livros fascistas, as editoras retiraram-nos dos catálogos, a generalidade das bibliotecas deixou de os ter à disposição ou relegou-os para a secção dos reservados e na sua esmagadora maioria os fascistas satisfizeram-se com esta situação, porque preferem passar despercebidos do que fazer proselitismo. Seria impensável que alguém escrevesse, por exemplo, sobre o marxismo sem ter lido Marx ou sobre o liberalismo sem ter lido Tocqueville, mas o fascismo é um tema sobre o qual parece que todos podem falar e escrever sem ter lido os autores fascistas. Há anos atrás, num debate acerca de um livro meu, numa sessão pública em Lisboa, uma das figuras mais expressivas do marxismo português, um homem que já morreu e por quem eu sempre tive uma grande consideração teórica, censurou-me por perder tempo a ler os políticos e os romancistas do fascismo já que, na sua opinião, o fascismo seria tão desprovido de ideologia como os gangsters. E se ninguém vai ler o Al Capone, para que iria eu ler Rosenberg ou Gentile ou Horia Sima? Assim o fascismo pôde ser coberto por uma tal camada de ignorância que quando alguém fala dele a reacção normal é acusarem-no de estar a falar de outra coisa, porque fala-se do fascismo que não é aquele que as pessoas imaginam. Foi o que me sucedeu muitas vezes no Passa Palavra e por causa da mensagem daquele leitor iria suceder-me uma vez mais? Obrigado, mas não.
Há outra coisa ainda. É que abordar o fascismo, não o lugar-comum que as pessoas imaginam que existiu, mas aquele que existiu mesmo, é profundamente incómodo. O fascismo não foi uma corrente política e ideológica com as margens bem demarcadas, como sucede com o conservadorismo, o liberalismo ou o marxismo, mas caracterizou-se por operar cruzamentos entre opostos. Se reduzirmos a política a uma linha, o fascismo situou-se na direita da direita, mas isto ajuda mais a confundir do que a esclarecer, porque o fascismo transportou alguns dos principais temas da esquerda para o interior da direita e transportou os principais temas da direita para o interior da esquerda. Foi esta operação que lhe conferiu a sua grande novidade e ao mesmo tempo o seu enorme perigo.
Como fica nisto tudo a esquerda, que gosta de se apresentar pura e imaculada? Como pode a esquerda admitir os cruzamentos e as convergências entre ela e o fascismo? E mais ainda no Brasil, onde essas circulações ideológicas atingiram um ponto extremo! Quando, numa série de artigos no Passa Palavra, muito de mansinho, chamei a atenção para a influência que as ideias de Manoilescu tiveram sobre as teses do desenvolvimentismo na esquerda brasileira, foi um ai jesus nos comentários. E iria eu, só porque um leitor amavelmente nos enviou uma mensagem, ser obrigado a ler mais uma série de comentários indignados?
É que as coisas com Alexander Dugin são piores ainda, porque no vasto leque do fascismo ele é um nacional-bolchevista. No sentido estrito do termo, o nacional-bolchevismo foi uma corrente surgida na Alemanha em Novembro de 1918 graças às duas principais figuras comunistas de Hamburgo, Heinrich Laufenberg, um tribuno, e Fritz Wolffheim, um teórico. E esta corrente surgiu na esquerda da esquerda, pois formou-se na vertente mais esquerdista do congresso fundador do Partido Comunista Alemão; e no 2º Congresso deste Partido, em Outubro de 1919, foram Laufenberg e Wolfheim os principais porta-vozes da ala esquerda. Em Abril do ano seguinte eles participaram no que é hoje considerada a génese oficial do conselhismo, a formação do Partido Comunista Operário Alemão, e o ascendente ideológico do grupo de Hamburgo revela-se pelo facto de o seu jornal ser o órgão da nova formação política. Assim, embora em Agosto de 1920 o Partido Comunista Operário Alemão tivesse excluído a organização regional de Hamburgo, o certo é que na sua formação teve um papel determinante o nacional-bolchevismo. Aqueles que gostam de considerar o conselhismo como o Santo dos Santos deviam meditar neste caso, que data da própria génese do conselhismo, mas em vez disso prevejo que enviem comentários a dizer que eu não sei o que é o conselhismo.

Karl Radek
Foi Karl Radek o primeiro a estigmatizar a orientação defendida por Laufenberg e Wolffheim, dando-lhe em Novembro de 1919 o nome por que ficou conhecida, nacional-bolchevismo, o que é irónico porque em Junho de 1923 seria o próprio Radek a defender o nacional-bolchevismo no seu discurso acerca de Leo Schlageter, «o viajante do nada». Mas o que ele propôs então foi uma versão de nacional-bolchevismo que em vez de estar remetida para a periferia da extrema-esquerda se situava no seu próprio centro, constituindo de então em diante a orientação oficial do Komintern e, nomeadamente, do Partido Comunista Alemão.
Ora, estes passos cruzados não são uma bizarria e inscrevem-se num paradoxo constitutivo do próprio marxismo. Numa série de artigos que dediquei no Passa Palavra ao marxismo e ao nacionalismo procurei mostrar como Marx e Engels, ao mesmo tempo que escreviam os bem conhecidos textos teóricos analisando o carácter internacional ou supranacional da economia capitalista e, portanto, da formação do proletariado, defendiam, em textos políticos muito menos conhecidos, uma orientação nacionalista caracterizada por um antieslavismo feroz. Sustentei nessa série de artigos que neste paradoxo dos fundadores do marxismo se radicam as posteriores confusões e circulações entre marxismo e nacionalismo, que tão catastróficas têm sido para a esquerda. O que eu fui dizer! Na verdade já o tinha dito noutro lugar vários anos antes, mas como se tratava de um livro com muitas páginas ninguém tinha dado conta da heresia. Hoje, se alguém na esquerda quiser defender teses escandalosas, que o faça no meio de um livro, porque a esquerda pouco lê livros, só artigos na internet ou duas linhas no Facebook. O problema foi eu ter dito aquilo em artigos, o que me valeu insultos tanto neste site como noutros. E, para não fugir à regra, chamaram-me ignorante e disseram que eu não conhecia nada da obra de Marx, o que foi muito divertido, porque era eu quem estava a citar textos que os leitores indignados desconheciam. E continuam a desconhecer, porque se encontram em antologias em inglês e em francês e a fluência em línguas estrangeiras não é uma das características da esquerda brasileira. Legitimam essa ignorância linguística classificando-a como aversão ao eurocentrismo. Como se o português fosse a língua dos tupis-guaranis! O que aquele leitor sugere agora, que se faça uma análise crítica do nacional-bolchevismo de Alexander Dugin, já eu tinha esboçado num nível mais básico nos artigos em que pretendi analisar as relações entre o marxismo e o nacionalismo, e com resultados nulos. Como habitualmente, gritaram alto para cobrir aquilo que não queriam ouvir, porque lhes é muito incómodo ouvir.

Getúlio Vargas
E é tanto mais incómodo quanto no Brasil a génese do comunismo se confunde com a génese do nacionalismo moderno. Com efeito, a circulação ideológica entre a esquerda e o fascismo é tão profunda no Brasil que quase se pode dizer que está inscrita no código genético daquelas correntes políticas. Tudo remonta ao tenentismo, e Luís Carlos Prestes foi um tão legítimo continuador do tenentismo como o foi Getúlio Vargas. Para mim, que nasci e fui educado sob o salazarismo, falar do regime de Getúlio como fascista é algo inteiramente óbvio. A influência do Estado Novo português sobre o Estado Novo brasileiro fazia parte das aulas de Direito Constitucional na Universidade de Lisboa. Mas uma vez que eu escrevi, rapidamente, só de passagem, que o getulismo foi um fascismo, caiu-me o céu em cima. A esquerda brasileira tem a estranha mania de considerar o Brasil como uma excepção no mundo, como se pudesse haver excepções do tamanho deste país! Não creio que tenha alguma utilidade falar aqui, uma vez mais, de nacional-bolchevismo.
O público de esquerda habitual, se já não quer ler análises sérias do fascismo, muito menos as quererá ler do nacional-bolchevismo, porque atingem o âmago, o profundíssimo nacionalismo da esquerda e da extrema-esquerda brasileiras. E pior ainda devendo mencionar René Guénon e Julius Evola, num país onde as camadas de rendimentos intermédios disputam com as suas congéneres dos Estados Unidos a palma das consultas a psicanalistas e onde Jung é estimado pela esquerda; num país onde os sindicatos, e os movimentos sociais depois deles, recorrem a rituais colectivos que encontram grandes afinidades com alguns aspectos do pensamento de René Guénon e de Evola. Encontram afinidades também com o pensamento de Georges Sorel, e a este respeito seria interessante recordar a obra de Henri De Man, um dos mais importantes teóricos da social-democracia no período entre as duas guerras mundiais, que chegou ao fascismo a partir de uma revisão soreliana do marxismo, enfatizando a noção do mito enquanto expressão e veículo de um anseio colectivo. Sem tirar nem pôr, é isto que nos é proposto agora nas místicas dos movimentos sociais, um universo de irracionalismo colectivo que tem Evola numa ponta e Sorel na outra. Imagino o que seriam os comentários se eu tivesse escrito esta frase.
Já que mencionei Sorel, convém saber que um dos primeiros ensaios do que se poderá considerar protofascismo foi a constituição do Cercle Proudhon (Associação Proudhon) em França, no final de 1911, um lugar de encontro e debate para os sindicalistas antiliberais e os nacionalistas preocupados com a questão social, cuja iniciativa se deveu, do lado de Sorel, ao seu discípulo Édouard Berth e, do lado do partido de extrema-direita Action Française, a Georges Valois. Quanto à figura emblemática de Proudhon, ela serve pelo menos para mostrar que as ambiguidades do socialismo e do nacionalismo não são um exclusivo do marxismo, porque essas ambiguidades não foram menores em Prodhon. Um dos hitlerianos de Paris, Lucien Rabatet, escreveu durante a segunda guerra mundial, num dos livros cimeiros do colaboracionismo, que «sem os judeus, teríamos feito entre nós, e com o mínimo de estragos, essa revolução do socialismo autoritário que se tornou a necessidade do nosso século e de que os velhos doutrinadores franceses, como Proudhon, têm a honra de ter sido os precursores». E assim eu, que com os artigos sobre marxismo e nacionalismo desencadeei a ira dos marxistas, exponho-me agora a suscitar a cólera dos anarquistas. E tudo isto para quê? Para explicar a um leitor amável que é inútil, hoje e para este público, fazer a crítica dos pressupostos do nacional-bolchevismo.
Ainda a propósito de Sorel, é curioso que a principal repercussão das suas ideias não tivesse ocorrido em França mas na Itália, onde ele esteve na origem directa do sindicalismo-revolucionário. Ora, juntamente com os futuristas e os membros das tropas de elite, os sindicalistas-revolucionários foram uma das três correntes constitutivas do fascismo italiano. Não o recordo aqui por acaso. É que no Brasil, por razões que se prendem com a origem do Partido dos Trabalhadores, PT, a figura de Gramsci goza de uma enorme celebridade, muito maior do que na Europa, onde só é conhecida, ou pouco conhecida, em meios universitários. O PT pretendeu conjugar a forma autoritária de partido com a forma democrática dos movimentos de base, e para isto as teorias de Gramsci pareceram-lhe oferecer um quadro útil. O PT podia ter optado com igual proveito por Otto Bauer, mas foi Gramsci o escolhido.

O elegante ditador de Fiume
Um episódio fascinante é aquele em que Gramsci, na Primavera de 1921, passados dois ou três meses apenas sobre a fundação do Partido Comunista, procurou obter a colaboração de Gabriele d’Annunzio para a formação de um exército vermelho, numa guerra civil que se previa próxima. Entre muitas outras coisas, D’Annunzio fora desde Setembro de 1919 até Dezembro de 1920 o ditador de Fiume, onde implantou um regime verdadeiramente fascista, rodeado de sindicalistas-revolucionários, os tais discípulos italianos de Sorel, e nessa época Mussolini teve grande dificuldade em disputar a D’Annunzio a primazia na extrema-direita radical. Foi a esta figura que Gramsci pediu, ou ofereceu, colaboração. A primeira menção que encontrei a uma tão inesperada tentativa de convergência política foi na Storia del Fascismo de Enzo Santarelli, vi-a mencionada também num artigo de Sergio Caprioglio na Rivista Storica del Socialismo em 1962, mas ambos remetiam para um artigo de Nino Daniele, «Fiume Bifronte», publicado em 1933 numa obscura revista intitulada I Quaderni della Libertá. Seguidor de D’Annunzio, Daniele manteve-se na vertente mais radical do fascismo, o que o levou a entrar em divergência com o regime de Mussolini e a exilar-se no Brasil, publicando aqui, numa edição precária, o relato das insistentes tentativas de Gramsci para ser admitido à presença de D’Annunzio. Este desejo ficou frustrado porque, como D’Annunzio lhe mandou dizer, «tenho telhados de vidro», mas isto não impediu que Gramsci defendesse a conveniência daquela aliança em artigos publicados no seu jornal L’Ordine Nuovo. Esta convergência política inscreveu-se no quadro do nacional-bolchevismo.
Pois bem, o artigo de Nino Daniele está em São Paulo, guardado numa biblioteca, talvez exista noutras, está em Paris X-Nanterre microfilmado na BDIC, eu tratei do assunto pelo menos num livro que alguns brasileiros leram, não me recordo se o abordei em artigos também, e apesar de todos os dias se fazerem dissertações e teses sobre Gramsci isto e Gramsci aquilo, estes primórdios de nacional-bolchevismo continuam — tanto quanto sei — a não interessar ninguém. E quer o amável leitor que agora as pessoas abram os olhos para aquilo que durante anos a fio se esforçaram por não ver?

Eduard Limonov
Na área do nacional-bolchevismo russo contemporâneo o nome inevitável é o de Limonov. Li há vários anos um bom romance dele, His Butler’s Story, escrito e publicado durante o exílio nos Estados Unidos, que me permitiu resolver um problema intrigante. Numa certa época da minha vida li muito Bukowski. Não gosto dos romances dele, que me parecem forçados, mas acho os poemas modelares, e intrigava-me que Bukowski, um anarco-individualista que eu situava na esquerda, se sentisse tão próximo de Céline, não só do estilo de Céline mas de algumas das ideias também — aliás, este é um dos casos em que conteúdo e forma são indissociáveis. Ora, o fascista Céline foi um partidário extremo das teses de Hitler e um dos grandes nomes do anti-semitismo em França. O paradoxo da afinidade que Bukowski sentia por Céline foi aquele romance de Limonov que mo resolveu. Leiam His Butler’s Story e em seguida vejam o filme de Joseph Losey, The Servant, que podemos considerar duas versões opostas do mesmo tema, e compreenderão o que é o fascismo enquanto movimento de circulação das elites. Também aqui, nesta encruzilhada de temas estéticos, é de nacional-bolchevismo que se trata. Mas será que o amável leitor que enviou a mensagem pensa que estas considerações sobre Bukowski e Céline contribuirão para esclarecer alguém que goste de Bukowski ou goste de Céline? Um foi um bom poeta e o outro foi um dos mais geniais romancistas do século passado, mas que se leiam com os olhos abertos.
É uma já longa sucessão de tentativas falhadas, sem nunca conseguir despertar a inquietação dos leitores. Por isso tomei a firme decisão de não escrever este artigo.
FONTE - http://passapalavra.info/?p=63916

Adendo - comentário de João Bernardo postado a uma indagação minha:

  • João Bernardo em 10 de janeiro de 2013 12:20 
    Júlio Bueno,
    Concordo com a perspectiva que você indica, e acho que é em Solzhenitsyn que encontramos a ponte entre o velho populismo russo e o actual nacional-bolchevismo. Será interessante reler à luz dos problemas contemporâneos as críticas feitas por Plekhanov aos populistas. Acho que isso talvez ajude a abrir horizontes novos.
    Mas surge aqui uma dificuldade, porque o fascismo russo costuma ficar excluído dos estudos comparativos — eu próprio, no meu livro sobre o assunto, o releguei para duas ou três notas de rodapé — pela simples razão de que o profundo antieslavismo dos nacionais-socialistas impediu que os fascistas russos se juntassem aos seus congéneres europeus. E como uma boa parte da extrema-direita russa se havia refugiado na Manchúria depois da guerra civil, os fascistas russos acabaram por ficar sob a protecção, nem sempre entusiástica, dos militares fascistas japoneses.
    Sobre o fascismo russo no período entre 1917 e 1945 sugiro três estudos: C. Andreyev, «Soviet Exiles at War», em I. C. B. Dear e M. R. D. Foot (orgs.) The Oxford Companion to the Second World War, Oxford e Nova Iorque: Oxford University Press, 1995; Maurice Bardèche, François Duprat, François Solchaga, Henri Guiraud e Lyder L. Unstad, «Les Fascismes Inconnus», Défense de l’Occident, 1969, XVII, nº 81; Erwin Oberländer, «Il Partito Fascista Panrusso», Dialoghi del XX, 1967, nº 1.
    Houve um livro que me ajudou a compreender muito do que se passa hoje na antiga esfera soviética: Valdimir Tismaneanu, Fantasies of Salvation. Democracy, Nationalism, and Myth in Post-Communist Europe, Princeton, Nova Jersey: Princeton University Press, 1998.
    Quanto ao caso específico de Dugin, vi que os discípulos de Julius Evola estiveram activos no acolhimento que lhe foi dado no Brasil, o que nos impede de esquecer a dimensão religiosa do problema.


  • "Teorias da Conspiração": Clube Bilderberg e Diálogo Interamericano


    FONTE
    A síntese do Poder Mundial seria composta pelos "controladores", pelos agentes conscientes (lideranças político-partidárias) e agentes inconscientes. Os instrumentos de dominação seriam as ideologias, o terrorismo, diferenças raciais e regionais, o ambientalismo, o indigenismo, com incentivo aos movimentos de secessão.

    Clube Bilderberg

    O Clube Bilderberg (CB) foi criado entre 29 e 31 de maio de 1954, na cidade de Oosterbeckl, Holanda. Desde então, os mais importantes banqueiros, industriais, donos de comunicação, políticos, famílias reais europeias e outras personalidades se reúnem anualmente para traçar os rumos do planeta, dentro dos moldes do que seria um governo mundial secreto.
    O CB teria sido criado pelo príncipe Bernhard, da Holanda. As reuniões do CB seriam anuais e durariam 04 (quatro) dias e os participantes seriam convidados pelo Conselho Diretivo do Clube, com um máximo de 130 delegados, sendo 2/3 europeus e o restante dos EUA e do Canadá. Essa elite das nações ocidentais é composta de financistas, industriais, banqueiros, políticos, líderes de corporações multinacionais, presidentes, primeiros-ministros, ministros das Finanças, secretários de Estado e lideranças militares. Em 1991, Clinton teria sido enviado a Moscou pelo CB para que "enterrassem" os relatórios da KGB sobre sua juventude e suas atividades contra a Guerra do Vietnã, de modo a pavimentar seu caminho à presidência dos EUA.

    O objetivo maior do CB seria a construção de uma era pós-nacionalista, na qual prevaleceriam uma economia global, um governo global e uma religião também global.

    Há duas hipóteses que abordam as ditas pretensões do CB.

    A primeira hipótese seria a reunião da elite econômica e política do mundo Ocidental, para fazer face ao avanço do Comunismo no século XX. Preocupado com o crescimento do antiamericanismo na Europa Ocidental, o polonês Joseph Retinger propôs uma conferência internacional - formalizada com a criação do Clube Bilderberg - em que líderes europeus, dos Estados Unidos e do Canadá, discutiriam seus problemas em comum, envolvendo representantes tanto liberais quanto conservadores (no sentido norteamericano) dos países-membros. Posteriormente, as decisões dessas reuniões seriam repassadas para o G-8 e os encontros anuais de Davos.

    A outra hipótese, hoje mais propalada, vê o CB dentro do que se convencionou chamar como "teoria da conspiração", cujo movimento teria pretensões de dominar todo o planeta, estabelecendo um governo mundial, o célebre "governo sombra". Esse objetivo seria alcançado pela Organização das Nações Unidas (ONU) - onde atualmente prevalecem teses esquerdistas -, na construção de uma nova ordem mundial, com moeda, exército e religião comuns, para quebrar a espinha dorsal da soberania das nações emergentes ou subdesenvolvidas - especialmente aquelas detentoras de reservas estratégicas, como minerais, água e biodiversidade, onde o Brasil se destaca em primeiro plano. Isso seria conseguido com o trabalho das ONG - especialmente as ambientalistas -, descaracterização cultural, internacionalização dos costumes, drogas, guerras localizadas, corrupção de políticos, controle da Educação, terrorismo etc.

    A síntese do Poder Mundial seria composta pelos "controladores", pelos agentes conscientes (lideranças político-partidárias) e agentes inconscientes. Os instrumentos de dominação seriam as ideologias, o terrorismo, diferenças raciais e regionais, o ambientalismo, o indigenismo, com incentivo aos movimentos de secessão. Enfim, estaria sendo empregada a guerra permanente de 5ª geração, que, no Brasil, teria como objetivo a "balcanização" da Amazônia, com a criação de inúmeras "nações indígenas", depois que forem demarcadas e homologadas todas as Terras Indígenas (TI) da região, que ocultariam imensuráveis reservas minerais e rica biodiversidade. Entre os principais atores frente à "defesa da Amazônia" estaria a realeza britânica, na pessoa do Príncipe Philip e sua ONG Fundo Mundial para a Natureza (WWF). A presença do Príncipe Charles na região, tanto no período da criação da TI Ianomâmi, quanto no da TI Raposa Serra do Sol, seria uma prova irrefutável dessa cobiça.

    Junto do CB e da ONU, podem ser citados outros grupos tidos como "controladores", como o Diálogo Interamericano, a Comissão Trilateral, o Clube de Roma, o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Conselho de Relações Internacionais (Council on Foreign Relations - CFR), o Grupo dos 30, cujos objetivos seriam varrer do mapa a ideia de soberania nacional e eliminar as Forças Armadas nacionais. Não se pode esquecer o próprio Foro de São Paulo, criado em 1990 por Fidel Castro e Lula da Silva, para "recuperar na América Latina tudo o que foi perdido no Leste europeu", ou seja, transformar o mundo latinoamericano em uma nova União Soviética, tendo por modelo Cuba e o "socialismo do século XXI" do bolivarianismo de Hugo Chávez, presidente da Venezuela. A criação da União de Nações Sulamericanas (Unasul) seria o primeiro passo para atingir esse objetivo estratégico.

    Diálogo Interamericano

    Em 1982, o Centro Acadêmico Woodrow Wilson, subordinado ao Congresso dos EUA, organizou três seminários em Washington para debater as repercussões da Guerra das Malvinas. Como resultado, foi criado o Diálogo Interamericano (DI), cuja ata de fundação foi subscrita, entre outros, por Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.

    Desde sua fundação, o DI difunde teses como soberania limitada (ou relativa) das nações, direito de ingerência e da interdependência entre as Nações.

    Quando FHC foi eleito presidente, a "dependência subalterna" do Brasil ao capital mundial deu-se dentro do conceito da "teoria da dependência", tese defendida por ele nos meios acadêmicos dos tempos em que ainda não pedia para "esquecer o que havia escrito". Em 1995, durante sua visita ao Brasil, o Secretário de Defesa dos EUA, William Perry, declarou ao jornal O Globo (06/05/1995) "que o seu governo quer que as Forças Armadas de cada país passem a ser lideradas por um Ministro de Defesa que seja civil. A liderança civil do sistema de defesa fortalece tanto a democracia quanto as próprias Forças Armadas. Nós vamos incentivar isso, assim como a idéia de que haja uma transparência cada vez maior no intercâmbio de informações militares entre as três Américas". Isso explica por que FHC atendeu prontamente o DI, criando o Ministério da Defesa, em 1999, tirando todo o poder político dos antigos comandantes das três Forças Armadas.

    "FHC, nos seus governos, ainda, diminuiu fortemente os orçamentos militares, restringiu aumentos de vencimentos, sucateou as FA, cortou verbas para alimentação, diminuiu efetivos, escasseou recursos para pesquisas militares, paralisou o Programa Calha Norte, assinou o tratado de não-proliferação Nuclear, paralisou o desenvolvimento do submarino nuclear, assinou o vergonhoso acordo 505 e o acordo para o não desenvolvimento de mísseis, afastou as FA do centro das decisões nacionais e privatizou áreas estratégicas para a Defesa. O conjunto da sua obra, sem dúvida, é crime de lesa-Pátria por servir a interesses estrangeiros, prejudicando a Nação" (general Marco Antonio Felicio da Silva in O granadeiro emparedado - Cfr. texto completo em http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=10598&cat=Ensaios&vinda=S).

    Nova ordem mundial

    Na verdade, observa-se que existem muitos grupos de interesses, além do Clube Bilderberg e do Diálogo Interamericano, que envolvem nações diversas, que se unem em acordos para preservar seus interesses políticos e comerciais. Além do G-8, da imponente força angloamericana (EUA e Reino Unido), da União Européia, outros atores de vulto surgiram nos últimos anos, como o Japão e a China, esta última à frente dos países emergentes de extensão continental, o chamado "BRIC" (Brasil, Rússia, Índia e China). O incremento do recente acordo EUA-China, iniciado durante o governo George W. Bush, dá a exata medida do que será esse gigantesco G-2 nas próximas décadas. Contrariando a doutrina da "nova ordem mundial", de George Bush (pai), que surgiu após a Guerra do Golfo (1991) e que previa a conversão maciça de nações em democracias - o mesmo "profetizado" por Francis Fukuyama em seu ensaio O Fim da História -, com a implementação da globalização, o que de fato ocorreu foi o contrário, uma volta ao tribalismo, com o esfacelamento de federações, como a União Soviética e a antiga Iugoslávia, e de países, como a então Tchecoslováquia. Até nações prósperas como a Espanha (País Basco) e o Canadá (Questão do Quebec francófono) se vêem às voltas com movimentos separatistas.

    Mesmo desconsiderando as teorias conspiratórias, como as do Clube Bilderberg e do Diálogo Interamericano, não se deve esquecer das recentes doutrinas americanas que envolvem direta ou indiretamente o Brasil.

    Em 24 de abril de 1975, o Secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger assinou um documento intitulado Memorando de Estudo para a Segurança Nacional n° 200. Implicações do crescimento da População Mundial para a Segurança dos Estados Unidos da América e seus interesses ultramarinos (NSSM 2000), que passou a ser conhecido como Relatório Kissinger. Entre outras coisas, dizia tal documento:

    "A assistência para o controle populacional deve ser empregada principalmente nos países em desenvolvimento de maior e mais rápido crescimento onde os EUA têm interesses políticos e estratégicos especiais. Estes países são: Índia, Bangladesh, Paquistão, Nigéria, México, Indonésia, Brasil, Filipinas, Tailândia, Egito, Turquia, Etiópia e Colômbia".

    Ao Brasil o Relatório Kissinger dedica um parágrafo inteiro:

    "América Latina. Prevê-se que haverá rápido crescimento populacional nos seguintes países tropicais: Brasil, Peru, Venezuela, Equador e Bolívia. É fácil ver que, com uma população atual de mais de 100 milhões, o Brasil domina demograficamente o continente; lá pelo fim deste século, prevê-se que a população do Brasil chegará aos 212 milhões de pessoas, o mesmo nível populacional dos EUA em 1974. A perspectiva de um rápido crescimento econômico - se não for enfraquecida pelo excesso de crescimento demográfico - indica que o Brasil terá cada vez maior influência na América Latina nos próximos 25 anos".

    Durante o Governo de Bill Clinton, já havia uma doutrina próxima à chamada "Doutrina Bush" - que Barack Obama prometeu enterrar -, a "Doutrina Lake". Propagada em 1996 por Anthony Lake, Assessor de Segurança Nacional de Clinton, essa Doutrina estabelecia que as Forças Armadas americanas deveriam ser utilizadas em 7 circunstâncias: 1) para defender o país contra ataques diretos; 2) para conter agressões; 3) para garantir os interesses econômicos do país; 4) para preservar e promover a democracia; 5) para prevenir a propagação de armas de destruição em massa, terrorismo, crime internacional e tráfico de drogas; 6) com fins humanitários para combater a fome, desastres naturais e grandes abusos de direitos humanos; e 7) em defesa da ecologia e do meio ambiente. Não custa lembrar que os itens 5, 6 e 7 caem como uma luva para o Brasil, caso Uncle Sam chegue à conclusão de que a Amazônia está sendo devastada ("defesa da ecologia"), de que os ianomâmis estão sendo massacrados ("defesa dos 'direitos humanos' ") e de que o narcotráfico tomou conta de nosso País ("prevenção do tráfico de drogas").

    Defesa Nacional

    O Brasil, país de dimensão continental e riquíssimo em recursos naturais, não pode se descuidar de sua Segurança, tendo em vista a cobiça internacional, especialmente sobre os minerais e a biodiversidade da Amazônia e as riquezas ainda não-dimensionadas do petróleo na região do pré-sal. No passado recente, o País abriu mão de se tornar uma potência nuclear (Projeto Solimões) - fortíssimo argumento dissuasório -, embora tenha o domínio do processo de enriquecimento do urânio desde a década de 1980. Em pouco tempo deverá ter também o domínio da tecnologia espacial, fabricando seus próprios foguetes e satélites geoestacionários, processo retardado devido à explosão do Veículo Lançador de Satélites (VLS-1) em Alcântara, MA, ocorrida em 2003, ocasião em que morreram 21 cientistas brasileiros.

    Atualmente, o Brasil está para fechar importante acordo militar com a França, no valor de 6,7 bilhões de euros, para aquisição de 4 (quatro) submarinos convencionais, a transferência de tecnologia francesa para construção do submarino nuclear brasileiro, a fabricação de helicópteros e a construção de uma base naval em Sepetiba, RJ. Com a vinda dessa "Segunda Missão Francesa" ao Brasil, presidida pessoalmente pelo presidente Nicolas Sarkozy, não será surpresa se o Brasil fechar acordo em agosto para a compra de pelo menos 36 caças Rafale, da francesa Dassault, para o projeto F-X2 da Força Aérea Brasileira (FAB), ao custo de US$ 5,4 bilhões. A proposta da Dassault inclui fabricação do Rafale no Brasil.

    Com a eleição de Barack Obama, considerado menos "belicista" do que George W. Bush, há setores do Ministério da Defesa que não apoiam a compra de caças de última geração. Esses estrategistas acham que os Super Tucanos e o avião-radar RC-99, fabricados pela Embraer, são suficientes para as necessidades reais do País, o que é um erro grave para um país continental que pretende se fazer respeitar internacionalmente e ocupar assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.

    Durante a Guerra Fria, predominavam dois blocos político-econômicos, o socialista, representado pela União Soviética, e o capitalista, presidido pelos EUA. Com o fim do império soviético, atenuou-se o perigo comunista e outras composições políticas começaram a ser feitas, como o G-20, em que os emergentes do BRIC passaram a ser também ouvidos em fóruns internacionais.

    Com o fim da Guerra Fria e a ascensão da esquerda em vários países latinoamericanos, um novo "inimigo" foi identificado nos meios acadêmicos civis e militares brasileiros: os EUA. A prova mais recente disso seriam as novas bases aéreas cedidas pela Colômbia aos EUA (Malambo, Apiay e Palanquero, acrescidas às já existentes bases de Larandia e Tolemaida), depois que foi desativada a base americana em Manta, Equador. A aparente parceria Colômbia-EUA para o combate ao narcotráfico e à guerrilha teria outros fins, não declarados, como um possível ataque dos ianques contra a Amazônia ou o governo de Hugo Chávez, financiador das FARC que a Colômbia e os EUA combatem. Na verdade, tudo isso não passa de puro antiamericanismo foro-são-paulino, pois os EUA não necessitam de tais bases para atacar países sulamericanos. Os ataques, se forem feitos no futuro, seriam a partir dos porta-aviões estacionados no Pacífico, no Atlântico e no Caribe, exatamente como fizeram nos ataques contra o Afeganistão e o Iraque.

    Ameaças imperialistas à parte, compete ao Brasil defender sua soberania nacional, seja na Amazônia Verde, seja na área dos 3,5 milhões de km2 da "Amazônia Azul", com destaque para as reservas petrolíferas subaquáticas. Para isso, é necessário que o País modernize rapidamente suas Forças Armadas, atualmente obsoletas.

    Inicialmente, deveria ser reativado o Projeto Calha Norte, para que a região amazônica seja efetivamente integrada à nação brasileira, com a criação de vários batalhões de selva e vilarejos, onde os serviços de Educação e Saúde se fariam também presentes, além da presença dos militares que fazem a Segurança das fronteiras.

    Ao mesmo tempo, urge reequipar nossas Forças Armadas, de modo que o Brasil tenha efetiva capacidade de dissuasão frente a uma possível incursão estrangeira, notadamente na Amazônia. O acordo militar Brasil-França poderá suprir, em parte, essas necessidades. Há relatos de que a França tem pretensões de se aliar militarmente ao Brasil e a países africanos e árabes, no intuito de aumentar sua força político-militar frente aos gigantes da atualidade, como os EUA, a Rússia e a China. A Cúpula América do Sul-Países Árabes (ASPA), criada em Brasília em 2005, seria o embrião dessa política de alianças.

    Como se pode deduzir frente às atuais alianças políticas e militares, o mundo atual é muito mais complexo do que aquele imaginado pelos "teóricos da conspiração", que vêem no Clube Bilderberg e em outros organismos "controladores" uma grave ameaça à soberania das nações. Ao Brasil cabe a obrigação de não descuidar de sua Segurança Nacional, o que vem ocorrendo nas últimas décadas, de modo até criminoso. Se não formos capazes de defender o óbvio, que são nossas imensuráveis riquezas, tanto da Amazônia, como do pré-sal, não temos o direito de acusar conspiradores que estariam de olho nesses recursos naturais. Os culpados pela perda dessas riquezas e de nossa autonomia seríamos nós, somente nós.

    Por trás da subversão

    Olavo de Carvalho
    Diário do Comércio, 5 de junho de 2006
    No começo de 2001, o Council on Foreign Relations (CFR), bilionário think tank de onde já emergiram tantos presidentes e secretários de Estado que há quem o considere uma espécie de metagoverno dos EUA, criou uma “força-tarefa”, transbordante de Ph.-Ds, presidida pelo historiador Kenneth Maxwell e encarregada de sugerir modificações na política de Washington para com o Brasil. A primeira lista de sábios conselhos, publicada logo em 12 de fevereiro, enfatizava “a urgência de trabalhar com o Brasil no combate à praga das drogas e à sua influência corruptora sobre os governos”.

    Naquele momento, destruídos os antigos cartéis, emergiam como dominadoras do mercado de drogas na América Latina as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, deliberadamente poupadas pelo Plano Colômbia do governo Clinton sob o pretexto de que o combate ao narcotráfico deveria ser apolítico. As Farc, uma organização comunista, haviam entrado no mercado das drogas para financiar suas operações terroristas e a tomada do poder. Desde 1990 faziam parte do Foro de São Paulo, onde articulavam suas ações com a estratégia geral da esquerda latino-americana, garantindo apoios políticos que a tornavam virtualmente imunes a perseguições em vários países onde operavam. No Brasil, por exemplo, a despeito das centenas de toneladas de cocaína que por meio do seu sócio Fernandinho Beira-Mar elas despejavam anualmente no mercado, e apesar dos tiros que de vez em quando trocavam com o Exército na floresta amazônica, as Farc eram bem tratadas: seus líderes circulavam livremente pelas ruas sob a proteção das autoridades federais e eram recebidos como hóspedes oficiais pelo governo petista do Estado do Rio Grande. Nunca, portanto, as relações entre narcotráfico e política tinham sido mais íntimas. Arriscavam tornar-se ainda mais intensas porque Luís Inácio Lula da Silva, fundador do Foro e portanto orquestrador maior da estratégia comum entre partidos legais de esquerda e organizações criminosas, parecia destinado a ser o próximo presidente do Brasil.

    A integração crescente de narcotráfico e política tornava portanto urgente combater “a praga das drogas e sua influência sobre os governos”. E a única maneira de fazer isso era, evidentemente, desmantelar o Foro de São Paulo. Vista nessa perspectiva, a sugestão da “força-tarefa” parecia mesmo oportuna. Mas só a interpreta assim quem não entende as sutilezas do metagoverno. O sentido literal da frase expressava, de fato, o oposto simétrico do que o CFR pretendia.

    Desde logo, o Foro de São Paulo, para continuar se imiscuindo impunemente na política interna de várias nações latino-americanas, necessitava manter sua condição de entidade discreta ou semi-secreta, e o próprio chefe da força-tarefa o ajudava nisso. Em artigo publicado na New York Review of Books – e, é claro, reproduzido na Folha --, Maxwell declarava que o Foro simplesmente não existia, porque “nem os mais bem informados especialistas com quem conversei no Brasil jamais ouviram falar dele”.

    Para um historiador profissional, confiar-se à opinião de terceiros em vez de averiguar as fontes primárias, então fartamente disponíveis no próprio site do Foro, era uma escandalosa prova de inépcia. Na época, o sr. Maxwell pertencia (pertence ainda) ao círculo de iluminados que costumava (costuma ainda) ser ouvido com o máximo respeito pela mídia brasileira, especialmente pela Folha de S. Paulo. Isso parecia dar uma prova incontestável de que ele era de fato um jumento, tendo agido de maneira tão extravagante em pura obediência à sua natureza animal. Mas agora noto que isso não explicava tudo. Logo depois, outro intelectual de grande reputação nos círculos asininos, Luiz Felipe de Alencastro, professor de História do Brasil na Sorbonne e colunista da Veja, brilhava num debate do CFR emprestando à tese da inexistência do Foro de São Paulo o aval da sua formidável autoridade e ainda acrescentava ter sido eu o criador da lendária organização... Dar sumiço na coordenação continental do movimento comunista latino-americano parecia ter-se tornado um hábito consagrado no CFR.

    Isso poderia ser apenas um inocente acúmulo de erros de interpretação se a entidade não tivesse cultivado simultaneamente um outro hábito: o das boas relações com as Farc. Em 1999, o presidente da Bolsa de Valores de Nova York, Richard Grasso, membro do CFR, fez uma visita de cortesia ao comandante das Farc, Raul Reyes, e saiu dali festejando a comunidade de interesses entre a quadrilha colombiana e a elite financeira “progressista” dos EUA. Logo em seguida, outros dois membros do CFR, James Kimsey, presidente emérito da America Online, e Joseph Robert, chefe do conglomerado imobiliário J. E. Robert, tinham um animado encontro com o próprio fundador das Farc, o velho Manuel Marulanda, e em seguida iam ao presidente colombiano Pastrana para tentar convencê-lo, com sucesso, a ficar de bem com a narcoguerrilha.

    A divisão de trabalho era nítida: os potentados do CFR negociavam com a pricipal força de sustentação militar e financeira do Foro de São Paulo, enquanto seus office-boys intelectuais cuidavam de despistar a operação proclamando que o Foro nem sequer existia. O CFR alardeava a intenção de eliminar a influência do narcotráfico nos governos ao mesmo tempo que contribuía ativamente para que essa influência se tornasse mais vasta e fecunda do que nunca.

    Ao CFR pertencia também o presidente Clinton, cujo famigerado Plano Colômbia tinha tido por principal resultado eliminar os concorrentes e entregar às Farc o quase monopólio do mercado de drogas na América Latina. Em 2002, a política latino-americana dos grão-senhores globalistas sofria um upgrade: ao esforço de embelezar as Farc somava-se agora o empenho de fazer do presidente do Foro de São Paulo o presidente do Brasil. Poucos dias antes da eleição de 2002, a embaixadora americana Donna Hrinak, que não sei se pertence pessoalmente ao CFR mas está entre os fundadores de uma entidade estreitamente associada a ele, o Diálogo Interamericano, fazia propaganda descarada do candidato petista, proclamando-o “uma encarnação do sonho americano”. Embora fosse uma interferência ilegal e indecente de autoridade estrangeira numa eleição nacional -- só não causando escândalo porque até a prepotência imperialista se torna amável quando trabalha para o lado politicamente correto --, e embora a fórmula verbal escolhida para realizá-la fosse uma absurdidade sem par (pois não consta que muitos americanos tivessem como suprema ambição parar de trabalhar aos 24 anos para fazer carreira num partido comunista), a expressão fez tanto sucesso que, logo em seguida, foi repetida ipsis litteris, sem citação de fonte, num artigo da New York Review of Books que celebrava entusiasticamente a vitória de Lula. Adivinhem quem assinava o artigo? O indefectível Kenneth Maxwell.

    Diante desses fatos, alguém ainda hesitará em perceber que as ligações entre o esquerdismo pó-de-arroz do CFR e o esquerdismo sangue-e-fezes dos Marulandas e Reyes são mais íntimas do que caberia na imagem estereotipada de uma hostilidade essencial e irredutível entre capitalistas reacionários e comunistas revolucionários? O sentido dos acontecimentos é transparente demais, mas o cérebro das nossas elites ainda é capaz de projetar sobre eles a sua própria obscuridade para esquivar-se de tirar as conclusões que eles impõem.

    É claro que não endosso a idéia de que o CFR, como instituição, seja uma central conspiratória pró-comunista. Muitos de seus membros são patriotas americanos que jamais endossariam conscientemente uma política prejudicial ao seu país. Mas não dá para esconder que, ali dentro, um grupo de bilionários reformadores do mundo, incalculavelmente poderosos, tem induzido a entidade a influenciar o governo de Washington, quase sempre com sucesso, no sentido mais esquerdista e anti-americano que se pode imaginar. Nos EUA isso é um fato de conhecimento geral. Ninguém o coloca em dúvida. Só o que se discute é a “teoria da conspiração” usada para explicá-lo. Essa teoria tem entre seus defensores alguns intelectuais de primeira ordem como Carroll Quigley, professor de História em Harvard e mentor de Bill Clinton, ou o economista Anthony Sutton, autor do clássico Western Technology and Soviet Economic Development (4 vols.). Contribui ainda mais para a credibilidade da tese o fato de que o primeiro é um adepto entusiasta e o segundo um crítico devastador da elite globalista. E o que a torna ainda mais atraente é o fato de que o CFR, reconhecendo a sua existência ao ponto de lhe oferecer um desmentido explícito no seu site oficial, se esquive de debater com esses dois pesos-pesados e com dezenas de outros estudiosos sérios que escreveram a respeito, e prefira em vez disso ostentar uma vitória fácil e postiça num confronto com as versões popularescas e caricaturais da tese conspirativa, inventadas por tipos como Lyndon LaRouche e o pastor Pat Robertson. Este é um bom sujeito que jamais mentiria de caso pensado, mas é um boquirroto, campeão continental de gafes eclesiásticas. Discutir com ele é a coisa mais fácil, porque ele sempre vai acabar dizendo alguma inconveniência e pondo sua opinião a perder, mesmo quando está com a razão. LaRouche, que chegou a ser pré-candidato presidencial pelo Partido Democrata, é ele próprio um conspirador que só enxerga as conspirações dos outros pelo prisma deformante dos seus objetivos e interesses próprios. Tomar esses dois como porta-vozes representativos das acusações de conspiração contra o CFR é o mesmo que derrubar o dr. Emir Sader e sair cantando vitória sobre Karl Marx. Que o CFR use desse expediente esquivo para se safar das denúncias é um sério indício de que elas têm pelo menos algum fundo de verdade.

    Para vocês avaliarem o quanto a nossa elite econômica, política e militar está alienada e por fora do mundo, basta notar que sua principal fonte de informação sobre o CFR, o Diálogo Interamericano e outros organismos globalistas tem sido justamente o sr. Lyndon LaRouche, cuja Executive Intelligence Review é lida pelos luminares da Escola Superior de Guerra como se fosse o exemplar mais puro de inside information (ele está tão bem informado que chegou a me classificar – logo a mim, porca miséria – como apóstolo do globalismo, pelo fato de eu escrever então num jornal chamado O Globo). As outras fontes conhecidas no país são todas de esquerda, e o que elas têm em comum com o boletim do sr. LaRouche é que distorcem monstruosamente os fatos ao apresentar os círculos globalistas como representantes do bom e velho “imperialismo americano” em luta desigual contra as soberanias nacionais dos países pobrezinhos. Não sei se rio ou se choro ao ver quantos brasileiros, que de esquerdistas não têm nada, levam essa versão a sério e baseiam nela suas análises estratégicas e propostas de governo. É ridículo e trágico ao mesmo tempo. Com tantas fontes primárias e diagnósticos de alto nível à disposição, por que comer lixo e arrotar o cardápio do Tour d’Argent? Do lamaçal cultural subdesenvolvido só brotam flores de ignorância e auto-engano.

    O site www.vermelho.org, por exemplo, apresenta o Diálogo Interamericano como repleto de “personalidades da direita mais conservadora”, e estas como “representantes do Establishment americano”. Nos EUA, até crianças de escola sabem que Establishment quer dizer “esquerda chique”, que não há nem pode haver ali dentro “personalidades da direita mais conservadora”, e que, se alguma soberania nacional é posta em risco pelo Establishment, é a dos EUA em primeiríssimo lugar. A longa e feroz polêmica movida pelos conservadores e nacionalistas contra o CFR, o Diálogo Interamericano e os círculos globalistas em geral é completamente desconhecida pelos tagarelas da ESG e pelo “bando de generais” que acredita nas fontes esquerdistas e no sr. LaRouche. Nessa multidão de caipiras crédulos há inúmeros patriotas sinceros. Mas a destruição de um país começa quando seus patriotas se idiotizam, deixando aos traidores, conspiradores e revolucionários o monopólio da esperteza.

    A história da manipulação dos patriotas brasileiros por espertalhões de esquerda é em si mesma uma tragicomédia. Desde há décadas, a liderança esquerdista vem submetendo essa gente a um tratamento pavloviano, na base de um-choque-um-queijo, que se demonstrou eficaz ao ponto de muitos oficiais de alta patente, ideologicamente anticomunistas, acharem hoje que é uma lindeza sumamente honrosa transformar os nossos soldados em cavouqueiros e tratoristas a serviço do MST. Como é que se leva um cérebro humano a mergulhar nesse abismo de estupidez? É simples: basta criar uma equipe selecionada entre esquerdistas bem falantes e dividi-la em duas alas, encarregadas de tarefas opostas -- uma infiltrada na mídia, incumbida de espalhar mentiras escabrosas, fomentando o ódio anti-militar; outra, bem colocada nos próprios círculos militares e na ESG, encarregada de afagar o ego das Forças Armadas e induzi-las à conciliação e à colaboração com a estratégia comunista continental por força do seu próprio patriotismo, facilmente convertido em anti-americanismo por meio de um fluxo habilmente planejado de informações falsas (entre as quais é claro, as fornecidas pelo sr. LaRouche). Na primeira equipe, destacam-se Caco Barcelos, Cecília Coimbra e Luiz Eduardo Greenhalgh. Na segunda, Márcio Moreira Alves, Mário Augusto Jacobskind e Cesar Benjamin. A duplicidade de tratamento deixa a vítima desnorteada e acaba por subjugá-la. Entre tapas e beijos, boa parte da nossa oficialidade se deixou facilmente cair no engodo, mostrando ter mesmo QI de ratinho de laboratório. A recente palestra do comandante do Exército em Porto Alegre mostra até que ponto uma instituição caluniada, marginalizada e espezinhada sente alívio e reconforto ante a oferta humilhante de um lugarzinho no banquete de seus tradicionais detratores.

    Ardis semelhantes foram aplicados entre empresários e políticos, com igual eficácia.

    É por isso que se tornou tão difícil explicar aos brasileiros aquilo que, entre os conservadores americanos, até os mais lerdos de inteligência como Pat Robertson entendem perfeitamente bem: que a elite globalista é o inimigo número um da soberania nacional americana e, por tabela, mas somente por tabela, de todas as demais soberanias.

    ***

    P. S. – Um amigo envia-me o seguinte lembrete: “No dia 30 passado a polícia de São Paulo prendeu a peruana Juliana Custódio, envolvida na morte de um bombeiro durante aqueles dias. A TV Bandeirantes deu destaque para o caso. A Globo deu uma nota e esqueceu o assunto. Acontece que ontem um juiz entrevistado pela Band disse o seguinte: em dez anos estará formada no Brasil a maior rede terrorista jamais vista nas Américas. Eu, particularmente, acho que a ‘Coisa’ estará formada antes mas ela é inevitável. A peruana é apontada como elo de ligação entre as FARC e o PCC.”

    Enquanto isso, o sr. Lula continua atribuindo a onda de violência em São Paulo à (aliás inexistente) falta de vagas para as crianças nas escolas. É um cínico e um cara-de-pau como jamais se viu.

    fonte Olavo de Carvalho

    quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

    'Solidariedade' mais perto do PT

    Pedetistas que coletarem rubricas no ABCD dizem que partido nascerá na base das gestões petistas  

     

    Fábio Sales
    Ao contrário da tendência aventada no bastidor, de suposta divisão dos núcleos sindicais durante a disputa presidencial em 2014, o ainda projeto embrionário do partido 'Solidariedade' - o 31º no atual sistema eleitoral do país - deve nascer na trincheira do Partido dos Trabalhadores no ABCD.
    A sinalização foi dada após o deputado federal e presidente estadual do PDT, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, delegar os dirigentes sindicais Cícero Martinha  (presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá) e Adonis Bernardes (presidente do PDT andreense), como os responsáveis por capitanear as assinaturas dos possíveis filiados à sigla na região. São necessárias 500 mil rubricas em pelo menos nove estados brasileiros para a  criação de um partido.

    Para Martinha, o posicionamento da nova legenda no ABCD será semelhante ao adotado pelo PDT.
    “Até pela linhagem dos prováveis integrantes, sindicalistas e metalúrgicos, vejo uma ideologia próxima ao PT”, enfatiza o coordenador regional pedetista, ao adiantar que o futuro partido tende a se manter na raia do trio de prefeitos petistas (Carlos Grana, Luiz Marinho e Donisete Braga).
    “O tipo de coleta de assinaturas é de um público muito próximo ao Partido dos Trabalhadores”, completa Adonis.

    No entanto, garantem que a colaboração não significa filiação automática.
    DIVISÃO/ Já no campo majoritário, o ‘Solidariedade’ é disputado pelos principais atores da eleição do próximo ano. A  presidente da República, Dilma Rousseff (PT), se comprometeria até a abrir um ministério para a nova legenda. A preocupação é evidente, devido ao partido ser trabalhado no bastidor como uma mescla de insatisfeitos de ‘parceiros’ como  PDT e PSD. Diante disso, o principal oposicionista, senador Aécio Neves (PSDB-MG), patrocinaria a criação da sigla em alguns estados. A intenção do tucano é rachar um segmento majoritariamente ligado à Dilma e, de quebra, conquistar apoio razoável para endurecer o pleito.
    7ª LEGENDA/ ’Mentor’ na criação de seis partidos nos últimos 24 anos, o advogado Marcílio  Duarte  é  especialista quando o assunto é a gestação de uma sigla. Influente no bastidor, o advogado é praticamente desconhecido de grande parte do eleitorado. O cargo mais relevante que ocupou foi ser vereador de Mairinque (cidade do interior paulista), onde no último pleito disputou a prefeitura, sem sucesso.

    Paulinho faz mistério em aliança com Dilma
    “Seria um partido de centro-esquerda. Não diria aliado do governo federal, mas que seria próximo dos trabalhadores”, diz Paulinho da Força, sobre a ideologia do ‘Solidariedade’.

    Marca é trabalhista, segundo articulador
    O discurso do líder sindical é semelhante ao adotado pelo mentor da ‘sigla’ Marcílio Duarte, que diz tratar de uma legenda "alinhada com o trabalhador, mas não sindicalista".

    Cauteloso, líder do PDT aguarda oficialização
    Paulinho da Força não quis adiantar a migração para o ‘Solidariedade’. “Primeiro vamos ver se o partido vinga, né. Tem toda uma política por trás, mas estou muito bem no PDT”

    FONTE: Rede Bom Dia