quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A Civilização Europeia




“O nome de Europa apareceu há cerca de 2500 anos em Heródoto e na «Descrição da Terra» de Heraclito de Mileto. E não é por acaso que esse geógrafo grego catalogava os Celtas e os Citas entre os povos da Europa e não entre os bárbaros. Essa época foi a de uma primeira consciência de si próprio, surgida da ameaça das guerras médicas. É uma constante histórica: a identidade nasce das ameaças da alteridade.

Uma vintena de séculos depois de Salamina, a queda de Constantinopla, em 29 de Maio de 1453, foi sentida como um sismo ainda pior. Toda a frente oriental da Europa encontrava-se aberta à conquista otomana. A Áustria dos Habsburgos tornava-se o último baluarte.
Esse instante crítico favoreceu a eclosão de uma consciência europeia, no sentido moderno da palavra. Em 1452, o filósofo Jorge de Trebizonda tinha já publicado »Pro defenda Europa«, um manifesto em que o nome Europa substituía cristandade. Após a queda da capital bizantina, o cardeal Piccolomini, futuro papa Pio II, escrevia: “Estão a arrancar à Europa a sua parte oriental”. E, para tornar sensível todo o alcance do acontecimento, invocava, não os padres da Igreja, mas, mais atrás na memória europeia, os poetas e trágicos da Grécia antiga. Esta catástrofe, dizia ele, representa “a segunda morte de Homero, de Sófocles e de Eurípides”. Este Papa lúcido morreu em 1464 desesperado por não ter conseguido reunir um exército e uma frota para libertar Constantinopla.

Toda a história é um testemunho de que a Europa foi uma muito antiga comunidade de civilização. Sem remontar às gravuras rupestres e à cultura megalítica, não há um uníco grande fenómeno histórico vivido por um dos países do espaço franco que não tenha sido comum a todos os outros. A cavalaria medieval, a poesia épica, o amor cortês, o monaquismo, as liberdades feudais, as cruzadas, a emergência das cidades, a revolução do gótico, o Renascimento, a Reforma e o seu contrário, a expansão para além-mar, o nascimento dos Estados-nações, o barroco profano e religioso, a polifonia musical, as Luzes, o romantismo, o universo prometeico da técnica ou o despertar das nacionalidades… Sim, tudo isso é comum á Europa e só a ela. Ao longo da história, qualquer grande movimento nascido num país da Europa encontrou imediatamente a sua equivalêncianos povos irmãos e em mais parte alguma. Quanto aos nossos conflitos, que durante muito tempo contribuiram para o nosso dinamismo, foram ditados pela concorrência dos príncipes ou dos Estados, de nenhuma maneira por oposições de cultura e de civilização.

Ao contrário de outros povos menos favorecidos, os europeus raramente tiveram de colocar a si próprios a questão da sua identidade. Bastava-lhes existir, numerosos, fortes e frequentemente conquistadores. Isso acabou.” (..)

Dominique Venner ” O Século de 1914″ - Via ÚLTIMO BASTIÃO

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