terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Nacionalistas europeus aproximam-se dos judeus

O que o Islã não foi capaz de fazer, e para o bem, creio.

Foto de manifestação da EDL


Observa-se na velha Albion uma crescente tendência para a aliança entre nacionalistas indígenas e judeus, constituindo uma frente comum contra a islamização.

Toby Archer, pesquisador que estuda os partidos de Extrema-Direita e a blogosfera anti-islamista, explicou à Al-Jazeera como é que partidos europeus nacionalistas de primeira grandeza - o Partido Nacional Britânico (BNP), a Frente Nacional (FN) francesa, o Interesse Flamengo (VB), todos de passado «neo-fascista», segundo Archer - estão agora a mostrar simpatia por Israel. Outra formação política extremo-direitista, a Liga de Defesa Inglesa, que não é (ainda) um partido, abriu recentemente uma secção denominada Divisão Judaica, para «representar os Judeus que estão a combater a islamização». O porta-voz da EDL Tommy Robinson, recentemente agredido com alguma gravidade numa auto-estrada por pelo menos três muçulmanos, afirma que uma das crenças fundamentais do grupo é a de que Israel é uma «estrela brilhante da Democracia» e tem direito a defender-se a si mesmo.

O líder do BNP, Nick Griffin, que chegou a referir-se ao alegado holocausto como «holohoax» (ou «holoconto», na versão dos revisionistas portugueses), fala da EDL em termos positivos, ainda que ligeiramente críticos, considerando que a EDL está a ajudar a politizar a juventude britânica: «Pelo menos estão a tentar fazer alguma coisa. É grosseira e um bocado crua... mas não devemos condená-la por ser um pouco dura e pronta (para agir)...»
Quanto à Liga de Defesa Judaica (JDL), grupo que o Departamento Federal de Investigação dos EUA considera como «organização extremista violenta», aceitou uma parceria com a EDL. Em Janeiro deste ano, a JDL Canadá organizou uma manifestação em apoio da EDL. Meir Weinstein, director nacional da JDL Canadá, argumentou que a EDL «está a enfrentar o Islão radical» e apoia Israel. Pouco depois da manifestação, as principais organizações judaicas do Canadá distanciaram-se publicamente da EDL.James Clark, activista canadiano da organização Coligação Alto à Guerra (Stop the War Coalition) tem enfrentado a JDL em várias manifestações, e diz: «a JDL tem tentado mover a sua política para a Direita. São uma organização muito marginal, mas tornaram-se um pouco mais respeitáveis através de organizações sionistas mais centrais (mainstream), que lhes deram uma plataforma; organizações que a apoiam mas que não se sentem seguras dizendo o mesmo em público.» Alega também que a JDL está «obcecada» com os muçulmanos e «apela ao medo irracional» de que o Canadá venha a ser dirigido pela charia (lei islâmica). Clark afirma ainda que a JDL quer ter influência significativa no governo canadiano, o qual é, segundo Clark, é «muito mais o melhor amigo de Israel do que o governo dos EUA».Diz Weinstein que a JDL conseguiu levar o governo a impedir que George Galloway, político britânico esquerdista pró-palestiniano, entrasse no Canadá em 2009 devido à sua simpatia declarada pelo Hamas.Diz Daniel Freeman-Maloy, activista canadiano e estudante pesquisador no Centro Europeu de Estudos Palestinianos, na Universidade de Exeter, que a JDL é o produto de algo maior: «é importante sublinhar que não se trata de um grupo isolado. É um sintoma de um declarado chauvinismo etno-religioso que se tem desenvolvido sem vigilância.»Para Weinstein, entretanto, é a luta pela sobrevivência que mais interessa: «[Como judeus] queremos existir e tomar medidas para garantir que existimos. Levamos isto a sério e iremos aliar-nos com quem quer que lute ao nosso lado contra esse mal.»A JDL dos EUA esteve no passado ligada a acções de violência política, nomeadamente a colocação de bombas contra alvos americano-árabes, o homicídio de Alex Odeh, director regional do Comité Anti-Discriminação Americano-Árabe e o ataque planeado ao congressista americano-árabe Darrell Issa. Max Blumenthal, jornalista que observa de perto os movimentos nacionalistas, afirma que a JDL norte-americana já não defende um ponto de vista tão extremista como antes promovia, tendo-se agora tornado mais central (mainstream).Numa manifestação em Novembro de 2011, o governador do Texas, cristão de Direita Rick Perry foi visto lado a lado com Dov Hikind, anterior líder da JDL. Blumenthal indica que os cristãos-sionistas da Direita norte-americana «aguardam "o Arrebatamento" e parte da profecia bíblica implica a reunião de todos os Judeus em Israel, o que significa a limpeza étnica dos Palestinianos.» De notar que parte do "Arrebatamento" implica a morte de todos os não cristãos, inclusivamente dos Judeus...
Na Europa, a JDL parece estar em expansão. Abriu recentemente uma secção no Reino Unido, que se soma assim às secções francesa, alemã, sueca, dinamarquesa e austríaca. Tem também uma organização à escala europeia. A JDL Europa tem cerca de três mil militantes e mais de cinco mil apoiantes. O fundador e líder desta secção da JDL Europa e Alemanha, Steven Weigang, declara que é «necessário impedir outro holocausto. O anti-semitismo está a cescer na Europa e não podemos simplesmente ficar de lado.» E reafirma que a JDL Europa partilha o ponto de vista da JDL Canadá a respeito da EDL, sem referir a ligação entre a EDL e o BNP.Weigang afirma que os grupos de Direita estão a gravitar em direcção à JDL, em vez de ser ao contrário, mas mais em termos de política a respeito de Israel do que de partilha ideológica: «Penso que a Direita na Europa está a caminhar na direcção da partilha da nossa política. Os Europeus sentem que o que está [a acontecer] a Israel [está] na agenda... Não tenho a certeza se partilham as mesmas perspectivas que nós. Podem dizê-lo, mas não pensam realmente isso.»

Em França, a JDL esteve sempre activa - é conhecida por aparecer em manifestações pró-palestinianas, a vandalizar a propriedade, a fazer lobby junto do governo sempre que se apercebe de medidas pró-palestinianas. Em Setembro, apelou aos seus membros com experiência militar para irem «defender» os estabelecimentos ilegais de judeus na área ocupada da faixa ocidental de Gaza.

Samuel Ghiles Meilhac, historiador especializado no estudo da comunidade judaica de França, disse à Al Jazeera que tem havido uma clara mudança na orientação desta comunidade do seu anterior alinhamento com a Esquerda para uma postura mais favorável à Direita. Nos últimos anos, a Frente Nacional tem vindo a aliciar os eleitores judeus ao focar «o inimigo comum: a islamização da Europa.» E continua: «A maioria das pessoas que fazem parte da corrente dominante na comunidade judaica em França recorda-se que nos anos setenta e oitenta a FN fazia piadas sobre o que acontecera na Segunda Guerra Mundial. Mas a questão é: se a Extrema-Direita não faz agora referências aos Judeus, haverá ainda gente na corrente dominante judaica suficientemente poderosa para a rejeitar?»


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