segunda-feira, 23 de março de 2015

Israel ofereceu ogivas nucleares à África do Sul do apartheid

Israel ofereceu ogivas nucleares ao regime segregacionista sul-africano em 1975, segundo documentos secretos que constituem a primeira prova documental da posse de armas atômicas pelo Estado judeu. 

Minutas das reuniões realizadas por altos dirigentes de ambos os países em 1975 indicam, segundo informa hoje o jornal britânico "The Guardian", que o ministro de Defesa sul-africano, Pieter Willem Botha, solicitou as bombas e seu colega israelense Shimon Peres, hoje presidente de Israel, as ofereceu "em três tamanhos". 

Ambos os políticos assinaram também um amplo acordo que incluía uma cláusula pela qual se declarava secreta a própria existência desse comprometedor documento. 

O documento, descoberto pelo acadêmico americano Sasha Polakow-Suransky enquanto preparava um livro em torno da estreita relação entre os dois países, prova que Israel dispõe do arma atômica apesar de sua política de "ambiguidade" pela qual nem o nega nem o confirma. 

Segundo "The Guardian", as autoridades israelenses tentaram impedir que o Governo sul-africano pós-apartheid desclassificasse o documento a pedido de Polakow-Suransky. 

Essa revelação tem especial importância esta semana na qual as conversas sobre não-proliferação nuclear que se realizam em Nova York se centram na situação do Oriente Médio. 

Também joga por terra a pretensão israelense de se apresentar como um país "responsável" que em nenhum caso abusaria de suas bombas nucleares, ao contrário de outros como o atual Irã. 

Polakow-Suranksy dedicou ao tema um livro intitulado "The Unspoken Alliance: Israel''s secrety alliance with apartheid South África", que será publicado esta semana nos Estados Unidos. 

Segundo o autor, entre as pessoas que participaram daquela reunião no dia 31 de março de 1975 estava o chefe do Estado-Maior sul-africano, o tenente-general RF Armstrong. 

Este elaborou imediatamente um memorando que assinalava os benefícios que representaria para o país a obtenção dos mísseis Jericho armados com ogivas nucleares. 

Pouco mais de duas semanas mais tarde, no dia 4 de junho, Peres e Botha tiveram uma reunião em Zurique na qual se tratou do projeto Jericho. 

As minutas secretas dessa segunda reunião assinalam que "o ministro Botha expressou seu interesse em um número limitado de unidades, sempre e quando estivesse disponível a carga correta". 

E o documento continua: "O ministro Perez explicou que a carga correta estava disponível em três tamanhos. O ministro Botha expressou sua gratidão e disse que pediria conselho". 

Segundo o jornal, a expressão "três tamanhos" se refere supostamente aos três tipos de armas: convencionais, químicas e nucleares. 

Israel não tinha recorrido ao eufemismo, "carga correta" para se referir a armas convencionais e reflete a sensitividade israelense em tudo ao que se relaciona a suas armas nucleares. 

Isso só pode se referir a armas nucleares já que o memorando do tenente-general sul-africano Armstrong deixa perfeitamente claro que a África do Sul estava interessada nos mísseis Jericho só para transportar armas nucleares. 

O acordo não chegou a ser assinado, em parte pelo custo que representava. Além disso, seria necessário a aprovação final do primeiro-ministro israelense, o que não era de todo seguro, escreve "The Guardian". 

A África do Sul chegou a fabricar suas próprias armas atômicas, possivelmente com ajuda israelense, mas a colaboração entre ambos os países em matéria de tecnologia militar se intensificou ao longo dos anos. 

A África do Sul proviu a Israel boa parte do urânio que este país precisava para desenvolver suas armas nucleares. 

Os documentos confirmam a versão do ex-chefe naval sul-africano Dieter Gerhard, preso em 1983 por espionar a favor da União Soviética. 

Após sua libertação, Gerhard disse que existia um acordo entre Israel e África do Sul que consistiu em uma oferta pelo Estado judeu de armar oito mísseis tipo Jericho com "ogivas especiais", termo que, segundo aquele, se referia às nucleares.

http://noticias.terra.com.br/mundo/oriente-medio/israel-ofereceu-ogivas-nucleares-a-africa-do-sul-do-apartheid,c9e978c65940b310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html

Pai do programa nuclear da África do Sul

O físico Louw Alberts, pai do programa nuclear da África do Sul do apartheid, morreu esta semana em Pretória aos 89 anos, informou neste domingo o jornal Sunday Times. 

Alberts revelou de uma forma curiosa e involuntária as ambições nucleares da África do Sul em 1974, quando era vice-presidente do Conselho Sul-Africano de Energia Atômica. 

O físico participava de um encontro com estudantes em um instituto de ensino médio, quando respondeu a um aluno que qualquer país com o conhecimento sobre energia atômica que a África do Sul tinha podia fabricar uma bomba nuclear. 

Para surpresa de Alberts, alguém presente na audiência contou o que ouviu para a imprensa.
O governo desmentiu que a África do Sul quisesse produzir uma bomba, e tanto o primeiro-ministro do país, John Voster, como o ministro da Defesa, Pieter Willem Botha, recriminaram Alberts pela declaração.
No entanto, em 1977 os Estados Unidos e a URSS anunciaram que a África do Sul tinha realizado testes nucleares no país, no deserto do Kalahari. 

O ministro da Informação do regime do apartheid, Connie Mulder, reconheceu então que o governo utilizaria armamento nuclear caso fosse atacado. 

Alberts assumiu em 1984 a direção geral do Ministério de Minas e Assuntos Energéticos. No cargo, aboliu no setor a proibição da expedição de certificados de qualificação de trabalhadores não brancos, o que condenava os negros a ficaram com os piores empregos. 

A medida provocou hostilidade da direitista União de Trabalhadores Mineiros, que se negou a emitir certificados de qualificação para os trabalhadores negros. 

De profundas convicções cristãs, Alberts defendeu com paixão em muitos debates e vários livros o caráter complementar da ciência e da religião. 

Seu envolvimento com grupos ecumênicos liberais fechou as portas para ele da influente Afrikaner Broerbond, irmandade fundada para promover os interesses do povo afrikaner (descendentes dos colonos centro-europeus na África do Sul), da qual pertenceram todos os primeiros-ministros e presidentes do regime racista. 

Alberts também teve um papel importante nas conversas políticas para desmantelar o apartheid.
Em 1991, Mangosuthu Buthelezi, líder do Inkhata, partido da etnia zulu e rival do Congresso Nacional Africano (CNA), de Nelson Mandela, retirou-se da mesa de negociações. 

Alberts pediu emprestado então o avião privado de um amigo e viajou até a província de Kwazulu-Natal para convencer Buthelezi a voltar a negociar. 

Personalidade complexa e contraditória, típica da convulsa história sul-africana, Alberts deixa mulher e quatro filhos. 

sábado, 4 de outubro de 2014

EUA e Grã-Bretanha temem o arsenal nuclear paquistanês

Telegramas confidenciais obtidos pelo site WikiLeaks e divulgados pelos jornais Guardian e The New York Times sugerem que diplomatas dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha estão mais preocupados do que admitem em público com o arsenal nuclear do Paquistão. O governo paquistanês, por sua vez, rebateu nesta quarta-feira os temores de que suas armas nucleares possam parar nas mãos de terroristas.

Uma mensagem trocada entre as representações diplomáticas das duas potências adverte que o Paquistão está aumentando rapidamente seu estoque nuclear, a despeito da crescente instabilidade do país. O documento expressa ainda o ceticismo de diplomatas americanos em relação à capacidade do Paquistão de cortar seus vínculos com extremistas islâmicos.

No documento, o alto funcionário do Ministério das Relações Exteriores britânico Mariot Leslie diz a diplomatas americanos, em setembro de 2009, que seu país estava profundamente preocupado com a segurança das armas nucleares do Paquistão. E essa não tinha sido a única vez em que o assunto foi tratado pelos aliados.
Em outro arquivo, transmitido sete meses antes, a então embaixadora americana no Paquistão dizia a Washington: "Nossa principal preocupação não é a de que um militante roube uma arma completa, mas sim a chance de alguém que trabalhe em alguma instalação do governo paquistanês contrabandear aos poucos material suficiente para a construção de uma arma".

“O medo deles não é justificado", retrucou um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Paquistão, Abdul Basit, referindo-se aos americanos e britânicos. "Não houve um único incidente envolvendo nosso material físsil, o que claramente reflete quão fortes são nossos controles e mecanismos. É hora de eles romperem com seus preconceitos históricos contra o Paquistão."

http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/eua-e-gra-bretanha-temem-arsenal-nuclear-do-paquistao

Segurança Nuclear no Paquistão

Não é a primeira vez que um líder paquistanês diz ao mundo que o arsenal nuclear do país está em boas mãos. Mas, apesar das repetidas garantias, o Ocidente vem se preocupando há algum tempo com a segurança de armas atômicas do Paquistão.
O Paquistão, que realizou seus únicos testes nucleares em 1998, luta contra uma já prolongada insurgência islâmica, que ameaça paralisar o Estado. Na última década, os islamistas não só atacaram civis, mas também instalações e bases militares. Observadores dizem que o Talibã e a Al Qaeda estão de olho nas ogivas nucleares paquistantesas.
Na semana passada, o primeiro-ministro Nawaz Sharif visitou o Centro de Comando Nacional, que supervisiona as instalações nucleares paquistanesas. Ele estava acompanhado por funcionários do poderoso Exército paquistanês que, segundo analistas, tem a última palavra nos assuntos relacionados a defesa e segurança. Após a visita, o premiê disse que Islamabad quer "paz na região" e que "não fará parte de uma corrida armamentista". Ele ressaltou, ainda, que o arsenal nuclear está "bem protegido".
Segundo a especialista em questões de defesa Maria Sultan, as autoridades têm, de fato, um forte controle sobre as instalações nucleares. "O Paquistão tem capacidade de monitorar suas armas nucleares, e a tecnologia que está usando para fazer isso é muito sofisticada", opina a analista, que classifica como "infundadas" as preocupações do Ocidente.
“Talibanização dos militares”
Embora o Estado afirme que suas armas nucleares estão sob rigoroso controle, muitos especialistas em defesa temem que eles possam cair nas mãos de terroristas, caso radicais eventualmente assumam o controle de Islamabad ou se as coisas ficarem fora de controle do governo e dos militares.
"Programas nucleares nunca são seguros. Por um lado, há, talvez, um certo nervosismo exagerado sobre as bombas do Paquistão nos meios de comunicação ocidentais. Por outro, há também uma preocupação genuína", avalia Farooq Sulehria, pesquisador e jornalista paquistanês baseado em Londres. "Mas a talibanização dos militares do Paquistão é algo que não podemos ignorar."
As preocupações de Sulehria provavelmente são justificadas. Os talibãs têm demonstrado repetidamente que são capazes não só de atacar alvos civis, como também bases militares. Em agosto de 2012, um grupo armado com fuzis e lançadores de foguetes atacou uma base aérea na cidade de Kamra, na província de Punjab.
A base abriga vários esquadrões de caças e aviões de vigilância, que, segundo oficiais da Força Aérea, não foram danificados pelo ataque. O Talibã tem grande influência no inquieto Vale do Swat, no noroeste do Paquistão, e, de acordo com especialistas em defesa, várias instalações nucleares estão localizadas não muito longe da área.
Apesar disso, o analista político e de defesa Zahid Hussain garante que o Ocidente está "preocupado desnecessariamente". "O Paquistão realizou seus testes nucleares mais de 15 anos atrás. Nada aconteceu desde então. O Paquistão assegura que as armas nucleares continuam seguras", assinala.
Proliferação nuclear
No entanto, o histórico de segurança nuclear do Paquistão não é tão limpo como alega Hussain. Em 2004, o "criador" da bomba nuclear do país, Abdul Qadeer Khan, confessou ter vendido tecnologia atômica à Coreia do Norte e ao Irã.
Khan foi afastado da chefia do programa nuclear paquistanês pelo então presidente Pervez Musharraf, em 2001. Ele passou cinco anos em prisão domiciliar, depois que Musharraf mandou prendê-lo em 2004 por seu suposto papel na divulgação de segredos nucleares. Um tribunal em Islamabad determinou sua libertação em 2009.
Os líderes militares e civis paquistaneses foram acusados ​​de serem condescendentes com Khan, mas se defendem, dizendo que o Estado não teve papel algum no que eles afirmam ter sido um "ato individual" de Khan. Mas muitos no Paquistão e no Ocidente acreditam que Khan só foi capaz de repassar tais informações sigilosas com apoio do regime.
Khan é popular entre ativistas muçulmanos e setores da população do país, que acreditam que as armas nucleares são "necessárias" para a segurança nacional. Partidos políticos e religiosos do Paquistão invariavelmente usam a retórica nuclear contra a Índia e os países ocidentais.
"A bomba atômica é nossa protetora. Ela garante nossa soberania. Ninguém pode atacar o Paquistão enquanto tivermos esta bomba, e essa é a razão por que os EUA, a Índia e outros países ocidentais estão conspirando contra ela", argumenta Abdul Basit, um estudante na Universidade de Karachi.
Asim Uddin, um ativista do partido islâmico paquistanês Jamaat-e-Islami baseado em Londres, é da mesma opinião. Ele argumenta que o Paquistão precisa de armas atômicas porque tem um vizinho nuclear, a Índia, contra a qual já lutou em três guerras. "O Paquistão precisa de armas nucleares como um elemento de dissuasão de guerra", acredita.
Já Sulehria diz que, embora o mundo precise ser mais vigilante a respeito das armas nucleares do Paquistão, sua obsessão nuclear tem mais a ver com a política interna do que com as ameaças externas: "Os políticos usam a retórica nuclear para apaziguar o público."
Especialistas como Sulehria temem que uma economia em ruínas, uma crescente ameaça islâmica e um discurso nuclear populista são uma receita perfeita para uma crise nuclear. Eles também dizem que o governo paquistanês precisa fazer muito mais do que apenas emitir declarações oficiais sobre a segurança atômica.

http://www.cartacapital.com.br/internacional/fortalecimento-de-radicais-poe-em-questao-seguranca-nuclear-no-paquistao-1830.html

China, Índia e Paquistão aumentam arsenal nuclear

Três países que possuem a bomba atômica, China, Índia e Paquistão, aumentaram o seu arsenal nuclear, enquanto os cinco restantes o reduziram ou o mantiveram estável, segundo um relatório do Instituto Internacional de Pesquisas sobre a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês). Ao mesmo tempo, os gastos mundiais com armamentos diminuíram pela primeira vez desde 1998.

A China possui atualmente 250 ogivas nucleares, contra 240 em 2012. O Paquistão tem entre 100 e 120, contra de 90 a 110 no ano passado, e a Índia passou de 80 a 100 ogivas em 2012 para de 90 a 110 atualmente, conforme o estudo. O instituto avalia que esta corrida armamentista é particularmente preocupante porque a paz é considerada "frágil" na Ásia, região que registra uma "tensão crescente desde 2008" entre a Índia e o Paquistão, entre as duas Coreias ou entre a China e o Japão.

Na via oposta, os países que reduziram o seu arsenal são signatários do tratado de desarmamento nuclear START, a Rússia, com atualmente 8,5 mil ogivas, e os Estados Unidos, com 7,7 mil. A França (300 ogivas), o Reino Unido (225) e Israel (80) mantiveram o mesmo arsenal do ano passado.

O Sipri admite que os números são estimativas, mais ou menos confiáveis conforme os países envolvidos. A China, por exemplo, mantém o sigilo completo sobre o assunto, enquanto a Rússia é cada vez menos transparente. O instituto presume que a Coreia do Norte e o Irã ainda não conseguiram fabricar armas atômicas.

Para o centro de pesquisas sueco, a diminuição quantitativa do armamento não é sinônimo de redução da ameaça nuclear. “Os programas de modernização que estão em curso a longo prazo nestes países mostram que as armas nucleares são hoje uma marca de status internacional e poder”, declarou o coordenador da pesquisa, Shannon Kile, por comunicado.

No que diz respeito às armas químicas e biológicas, a redução dos estoques progrediu pouco, avalia o Sipri. Os Estados Unidos e a Rússia não destruíram todas as armas químicas que possuem em 2012, ao contrário do que haviam prometido, e a Síria declarou estar pronta para utilizá-las se sofresse um ataque internacional. Ao mesmo tempo, sublinha o relatório, os gastos mundiais com armamentos diminuíram pela primeira vez desde 1998: houve uma redução de 0,5%, considerando-se a inflação. A China ocupa agora o quinto lugar no ranking dos maiores exportadores de armas, desbancando o Reino Unido e atrás dos Estados Unidos, da Rússia, da Alemanha e da França.

http://www.portugues.rfi.fr/mundo/20130602-china-india-e-paquistao-aumentaram-arsenal-nuclear-em-2012

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

'Saab fará do Brasil um produtor de caças’, diz executivo de companhia sueca

Lennart Sindahl, presidente da divisão de Aeronáutica da Saab, prevê mais negócios no continente e participação de empresas do País: “Queremos ver a indústria brasileira como parte da cadeia mundial de produção da Saab.” A declaração, que já antevê o papel do País com um produtor de caças de alto desempenho, é do presidente da divisão de Aeronáutica da empresa sueca Saab, Lennart Sindahl – o executivo que comandou com o governo brasileiro a negociação para a venda, avaliada em US$ 4,5 bilhões, de 36 caças Gripen NG para o Brasil. O desfecho do negócio deixou de lado as poderosas Boeing, americana, e Dassault, francesa. No pacote sueco, um elemento decisivo foi o compromisso de ampla transferência da tecnologia das aeronaves de combate para o Brasil. 

Em entrevista exclusiva ao Estado na sede da Saab, em Estocolmo, o número 2 na hierarquia da empresa detalha de que forma se dará essa passagem de conhecimento. Segundo Sindahl, parte das peças produzidas no Brasil pode ser exportada até para a Suécia. No futuro, poderão ser feitos negócios com outros governos a partir da base no Brasil.
Sindahl admite que a Saab está ajudando a criar um futuro concorrente ao transferir a tecnologia para empresas brasileiras, como a Embraer. Mas ele se mostra pragmático: “Esses concorrentes em países emergentes surgirão com ou sem o nosso apoio”. O executivo não acredita que o jogo tenha virado a favor do Gripen por causa da denúncia de espionagem feita no Brasil por agências de segurança dos EUA. “A decisão foi sobre o que a Aeronáutica precisava e que cabia no orçamento.”
Um dos pontos centrais de sua proposta para a FAB é a transferência de tecnologia. Como isso vai ocorrer?Já tivemos várias reuniões para ver como será o contrato. Temos de ouvir a Força Aérea de forma cuidadosa, saber seus pensamentos e necessidades, como pensa que deve ser a cooperação entre a Saab e as empresas brasileiras. Temos algumas ideias, mas cabe ao Brasil nos dizer o que quer. Temos como um dos cenários manter a linha de produção final no Brasil. Vamos dispor de uma instalação em São Bernardo, mas ainda falta detalhar como isso vai acontecer. A empresa local Akaer já faz parte desse esforço; eles desenham parte do avião. Certamente serão um dos parceiros. E outros virão.
Qual será a parte das empresas brasileiras no acordo?Queremos ver a indústria brasileira como parte da cadeia mundial de produção da Saab. Além disso, poderíamos ver, se isso for de desejo da Aeronáutica, uma linha de produção no Brasil para os aviões que ficarão no Brasil e também para fornecer para outros aviões de outros países.
A montagem final seria no Brasil com peças vindas da Suécia?Pode ser uma opção. Os aviões prontos poderiam sair de hangares no Brasil e voar diretamente de lá. Algumas peças viriam de fora. Peças produzidas no Brasil entrariam nos jatos brasileiros – mas também em aviões na Suécia ou na Suíça. Não queremos duplicar a produção. Se olharmos para a indústria brasileira, há no país uma cadeia de empresas que podem se aliar à produção do Gripen.
Fala-se que a FAB pensa em uma frota de mais de cem jatos.Essa é uma pergunta para o comandante (Juniti) Saito. Também escutei a história de mais de cem aeronaves no futuro. Seria ótimo. Se esse for o caso, podemos desenvolver isso com a indústria brasileira. Eu digo: esses concorrentes vão surgir com ou sem a nossa participação. Temos que ver isso como oportunidade. No futuro, podemos cooperar e concorrer ao mesmo tempo. A Índia era um grande importador
O sr. vê o Brasil como um exportador no seu setor?
Certamente. O mesmo sucesso dos aviões comerciais brasileiros pode se repetir no setor militar. Já falamos sobre isso com o governo. Obviamente que, para o mercado sul-americano, trabalhar a partir do Brasil pode ser muito mais interessante que trabalhar a partir da Europa.
Quais os planos para a unidade da Saab em São Bernardo?
Estarei lá no final do mês para discutir essas instalações. O que veremos ali será a produção de partes, montagem.
O Brasil planeja alugar aviões para suprir suas necessidades até o Gripen ficar pronto em 2018. Como isso ocorrerá?
A Saab não é parte. Será algo entre os dois governos.
Como ocorrerá o pagamento dos 36 caças?
Uma opção é usar uma instituição que existe na Suécia para apoiar os exportadores. Nós seríamos financiados por eles e o Brasil pode pagar num período mais à frente. Temos muito trabalho por fazer ainda no avião e, assim, o Brasil pode começar a pagar só quando começar a receber.
O sr. acha que o escândalo da espionagem americana no Brasil foi decisivo na escolha?Claro que é uma situação complicada, mas é de curto prazo. O Brasil e os EUA tem uma relação de longo prazo.
A Saab foi beneficiada?
Acho que não. A decisão foi sobre o que a Aeronáutica precisava e que cabia no orçamento

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Nove de Julho - Revolução de 32 aponta o valor da autonomia diante de um Estado centralizador

12 de julho de 1997 
 
Nove de Julho - Revolução de 32 aponta o valor da autonomia diante de um Estado centralizador
 
A resolução do governador Mário Covas de declarar feriado o dia 9 de julho merece gerais aplausos, pois nenhuma data deve ser tão cara à gente paulista do que essa, que representa não somente seu amor à democracia como o brioso sentimento de seus valores próprios. Se me perguntassem qual é o sentido mais alto da Revolução de 32, não vacilaria em declarar que foi o da autonomia de nosso Estado. Digo isso como um dos soldados remanescentes desse dignificante ato revolucionário.

Foi talvez essa a razão que levou a Sociedade Veteranos de 32 - MMDC a outorgar-me a medalha Pedro de Toledo, quarta-feira, junto ao Mausoléu do Soldado Constitucionalista, no Parque do Ibirapuera. Foi o laurel que até agora mais me comoveu, pois me fez voar 65 anos até o momento em que, estudante na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, me encontrava em um momento de indecisão, convencido de que não podia mais continuar apegado à doutrina marxista, muito embora sem abandono dos valores sociais, buscando compor democracia com justiça social.

A Revolução de 30, fonte direta da reação armada paulista, tinha dois sentidos que deviam ter sido complementares para bem do povo e, para infelicidade nossa, até agora não foram conjuntamente alcançados. Um era de natureza política, em prol do Estado de Direito, tal como o pregava a Aliança Liberal; o outro referia-se às reivindicações sociais, que o pretenso "socialismo científico" acabou absorvendo rumo ao Estado Totalitário.

Pode-se dizer que, com Getúlio Vargas no poder, ambos os ideais foram abandonados, adiando-se indefinidamente a constitucionalização do País, e, como engodo, surgiu a triste idéia do "peleguismo", ou seja, da organização sindical à sombra protetora do Estado.

Mas a história, como bem ensina Fernand Braudel, deve ser analisada segundo suas "conjunturas", à luz de suas peculiares circunstâncias. Ora, como saliento em minhas Memórias, o que, na época, mais afligia a gente paulista - sem olvido dos princípios democráticos violados, mas, no fundo, em razão deles - era o opróbrio que sofríamos, dado o desprezo do todo-poderoso Governo Provisório federal por nossa autonomia. O que, em suma, mais nos revoltava era a sujeição de nosso Estado ao ultrajante domínio alheio, sobretudo quando comparávamos a nossa situação com a de Minas Gerais, que conservara até o seu governador.

Sentíamo-nos todos espezinhados, como se não tivéssemos participado do movimento revolucionário de 30, com títulos pelo menos iguais aos de vários Estados contemplados com o galardão do autogoverno, não obstante com as limitações decorrentes de uma fase de transição.

É por tais motivos que qualifiquei a Revolução de 32 por seu valor dominante, o da autonomia, base essencial do ordenamento federativo, o que é bom lembrar, pois, ao longo dos anos, mesmo sem precisar pensar no Estado Novo, a nossa se tornou uma federação altamente centralizada, sobretudo no que se refere à ordem econômica.

Foi dito que ao movimento paulista ficou alheio o proletariado da capital, contando apenas com a classe média e a população do interior, tanto da área urbana como da rural. Muito embora desconheça dados estatísticos confiáveis a respeito, é possível que em parte assim tenha sido, pois me lembro que uma de nossas manifestações estudantis pró-Constituição foi dispersada por numerosa coluna de operários pertencentes à Legião Revolucionária chefiada pelo "general" Miguel Costa, em defesa dos interventores militares que então governavam do palácio dos Campos Elíseos.

No segundo pelotão do Batalhão Ibrahim Nobre, que, por não ter completado o necessário efetivo, fora integrado nos quadros da Força Pública, eu tive o prazer de conviver com estudantes (em maior número), operários e componentes da FP, esses encarregados da pequena metralhadora que nos fora atribuída.
É aqui que começam as nossas decepções, pois, se havia dedicação e até mesmo heroísmo por parte dos que foram espontaneamente às frentes de combate - e eu fui guindado ao posto de sargento, por ser o único reservista em meu grupo da Faculdade de Direito -, a decisão de desencadear o movimento fora tomada por seus líderes, cientes da deficiência de forças militares devidamente preparadas, bem como do imprescindível material bélico, talvez contando com promessas de adesões valiosas, que não foram sabidamente honradas. São Paulo ficou só, mas, nem por isso, faltou a seus deveres cívicos, numa improvisação surpreendente.

Não é o caso de indagar, no presente artigo, das causas de nosso insucesso, nem de apurar responsabilidades, pois o que conta na Revolução de 32 é a sua razão histórica, mesmo porque há uma equivalência ética entre ganhar ou perder as batalhas do ideal. Nos combates travados, que Hernani Donato soube retratar com admirável acuidade, procuramos suprir a carência de armas com engenho e alma.

Nem se poderá dizer que não houve vitória alguma atribuível ao nosso grandioso gesto, pois, sem ele, não teria havido restituição de nosso poder civil, nem a Constituição de 1934, destinada a ter poucos anos de vigência por outros motivos, objeto de conhecidos estudos de historiadores e politicólogos.

O certo é que, nos anais da história pátria, MMDC marca com letras de fogo a unidade e a autonomia da gente paulista, que agora um grupelho de insanos tenta desmembrar. Mas esse é assunto que exige artigo especial.