terça-feira, 4 de junho de 2013

As famílias diplomáticas do Itamaraty

AS FAMÍLIAS DIPLOMÁTICAS DO ITAMARATY - Com a criação do Instituto Rio Branco, em 1946 o Brasil passou a ser o segundo país das Américas que estruturou a diplomacia como carreira com acesso por concurso público para uma escola de formação de diplomatas. Os EUA criaram em 1916 o Foreign Service Institute dentro do mesmo modelo. Antes do concurso pùblico, o acesso à carreira diplomática era por indicação política no mais alto nível. Nos tempos do Barão do Rio Branco o indicado por um alto padrinho era avaliado pelo Barão durante um almoço. O Barão, com seu profundo conhecimento dos homens, aprovava ou não o candidato nesse almoço, fazia uma análise de personalidade e raramente errava.
Mas havia um filtro anterior, a maioria dos canidatos vinha das "famílias diplomáticas" do Segundo Império que até nos dias de hoje tem um bom prestígio e presença na "carriere".
Nomes como Villela Barbosa (Marquês de Paranaguá), Carneiro de Campos (Marquês de Caravellas), Carvalho e Melo (Visconde da Cachoeira), Araujo Lima (Marquês de Olinda), Du Pin e Almeida (Marquês de Abrantes), Limpo de Abreu (Visconde do Abaeté), Gê Acaiaba de Montezuma (Visconde do Jequetinhonha) se somaram a familias mais modernas como Leão Velloso, Melo Franco, Macedo Soares, Sousa Leão Gracie, Silva Paranhos, Paula Sousa.
Dois casos de diplomatas importantes oriundos de familias tradicionais, Embaixador Sebastião do Rego Barros, descendente de um Ministro da Guerra do Império, seu homônimo, foi Embaixador na ONU, na Comunidade Europeia, na OEA, na Argentina e o último Embaixador brasileiro na extinta URSS, também foi o diretor geral da Agência Nacional do Petróleo no 1º mandato do Presidente FHC.
Vasco Leitão da Cunha foi Embaixador em Cuba antes de Castro e o primeiro Chanceler do Governo Castelo Branco de 64, neto do Barão de Mamoré, presidente das Provincias do Pará, Paraiba, Pernambuco e Maranhão.
Familia longeva no Itamaraty foram os Melo Franco, chanceler na República Velha e muito depois, seu descedente repetiu a Chancelaria na década de 60 (Governo Jânio).
As famílias diplomáticas existem em todas as grandes Chancelarias, mesmo nos EUA. John Foster Dulles, célebre Secretário de Estado no Governo Eisenhower era neto e sobrinho de Secretários de Estado, na Alemanha o Barão Ernst von Weizsacker, Secretário de Estado na Chancelaria do Reich de 1938 a 1943 e depois Embaixador na Santa Sé, em pleno nazismo, teve seu filho Richard von Weizsacker eleito Presidente da República Federal Alemã na década de 80, os laços do pai com o nazismo não impediram seu filho de ser Chefe de Estado quarenta anos depois.
Mas o recorde de uma família diplomática são os Alwyn no Panamá. o Chanceler Samuel Alwyn é a sétima geração da família a ocupar o cargo de Ministro das Relações Exteriores da República.
Nem os países comunistas escapam da elitização da Chancelaria, os dois primeiros chanceleres da União Soviética eram da mais alta elite anterior ao regime comunista, Giorgy Chicherin, de familia latifundiária no Império e Maxim Litvinov, de uma família de banqueiros judeus de Kiev. Na China Comunista o Chanceler Chu En Lai era da aristocracia mandarim, os regimes reconheciam a necessidade de uma representação perante o mundo de personalidades culturalmente sofisticadas.
O máximo histórico, porém, foi o Príncipe Charles Maurice de Talleyrand-Perigord, de nobreza mais antiga e mais alta do que os Reis Bourbon, Ministro das Relações Exteriores do Governo da Revolução Francesa, uma aberração mesmo naquele tempo de transformações nunca vistas.

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