quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Paulística de Paulo Prado.

Paulística etc. (Companhia das Letras) é uma reunião de ensaios que Paulo Prado lançou em 1925 e ampliou em 1934. Na República do café com leite, os estudos sobre as origens de São Paulo estavam em ebulição, e os heróicos bandeirantes habitavam todos os livros de história. O livro, que não escapou à tendência, herdou as marcas de sua época: enquanto reconstitui os tempos coloniais da antiga capitania, revela muito do começo do século 20, quando os conceitos de nação, raça e regionalismo conquistavam os corações (e as mentes) dos intelectuais.
“O Caminho do Mar”, primeiro ensaio do livro, é um bom exemplo dessa dualidade. Paulo Prado defende que São Paulo foi o berço de uma nova raça. Enfurnados na Serra do Mar e distantes de outras pessoas, europeus e indígenas teriam se cruzado até criarem um homem original: o mameluco. Inspirando-se em Euclides da Cunha, que descrevia seu sertanejo como “antes de tudo um forte”, Paulo Prado aplica o modelo à política: seu mameluco é antes de tudo um defensor da liberdade, que repudia as leis de ferro da metrópole. Para provar essa e outras hipóteses, o autor enfileira citações de documentos coloniais. Elas são, sem dúvida, os pontos altos do livro.
Mas Paulo Prado quase nunca dava as fontes que citava. Isso exigiu que o organizador da atual edição, Carlos Calil, enfrentasse a hercúlea tarefa de localizar livros, autores e trechos para reconstituir as centenas de citações segundo as normas. Calil também incorporou à edição outros ensaios de Paulo Prado, além das repercussões de Paulística etc. entre os intelectuais. Quem ganha é o leitor: entre os inéditos, há uma carta de Mário e outra de Oswald de Andrade. Dá-lhe, São Paulo! (Texto de Tâmis Parron).


Organizador da Semana de Arte Moderna de 1922, o empresário Paulo Prado também empreendeu a recuperação do passado da cidade modernista. Paulística, livro publicado em 1925 e ampliado em 1934, e uma hist6ria de São Paulo desde os primeiros esforços de colonização até o momento de apogeu e crise da cultura cafeeira. Os textos do livro saíram, previamente, como ensaios no jornal O Estado de S. Paulo. A despeito da parca documentação, o autor faz um levantamento historiográfico minucioso para responder a questões decisivas. O que pensavam os pioneiros João Ramalho e Fernao Dias? Que tribos indígenas enfrentaram os portugueses? Quem eram os homens da frota de Martim Afonso que aportaram em São Vicente? Esta edição, revista e ampliada por Carlos Augusto Calil, traz textos inéditos: sucinta fortuna crítica ao livro, com cartas de Oswald e Mário de Andrade; ensaios sobre o café e sobre o modernismo; textos que tratam de política e do caráter brasileiro, antecipando o Retrato do Brasil (1928). Em Paulística Etc., o passado de São Paulo encontra o presente de seu autor, um dos protagonistas dessa história, e projeta suas reflexões para o tempo futuro -aquele da cidade que em 2004 completa 450 anos. (SUBMARINO)